“Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos […].” (Mt 28, 19-20).
Se a Igreja deixar de evangelizar ela deixa de ser a Igreja, como Cristo a quis. Explica bem isto a Ad Gentes:
“A Igreja peregrina é por sua natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai.” (AG, 2).
E o fim último da missão da Igreja – explica o Catecismo – “não é outro senão fazer os homens participarem da comunhão que existe entre o Pai e o Filho no seu Espírito de amor” (CIC, §850).
O Pai enviou o Filho ao mundo para salvá-lo, e o Filho enviou a Igreja para continuar a Sua missão. Várias vezes Jesus deixou claro isto:
“Como o Pai me enviou assim também eu vos envio.” (Jo 20, 21).
“Como tu me enviaste ao mundo também eu os enviei ao mundo.” (Jo 17, 17).
“Quem vos ouve a Mim ouve; quem vos rejeita a Mim rejeita, e quem Me rejeita, rejeita Aquele que me enviou”. (Lc 10, 16).
“Sereis minhas testemunhas […].” (At 1, 8).
“Em verdade, em verdade, eu vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a Mim recebe, e quem Me recebe, recebe Aquele que me enviou.” (Jo 13, 20)
“Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura.” (Mc 16, 15).
No final do Sínodo dos Bispos de 1974, em Roma, sobre a Evangelização, foi dito:
“Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja.” (LR, 27/10/74, p. 6).
Ao terminar esse Sínodo, que foi um marco para a Igreja, o Papa Paulo VI escreveu a célebre Exortação Apostólica A Evangelização no Mundo Contemporâneo (Evangelii Nuntiandi), que o Papa João Paulo II chama de Carta Magna da Evangelização, e a indica como referência fundamental para a Nova Evangelização a que ele está conclamando a Igreja em vista da chegada do terceiro milênio.
Nesta Carta o Papa Paulo VI diz:
“Evangelizar, constitui de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é o memorial da sua Morte e Ressurreição.” (EN, 14).
É imprescindível que cada pessoa compromissada com a evangelização estude essa Carta.
Talvez ninguém melhor do que São Paulo tenha expressado a missão do cristão:
“Anunciar o Evangelho não é glória para mim, é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho! Se o fizesse de minha iniciativa, mereceria recompensa. Se o faço independentemente de minha vontade, é uma missão que me foi imposta.” (1Cor 9, 16-17).
É interessante e importante notar como no Evangelho Jesus chama os discípulos a evangelizar:
“Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais frutos […].” (Jo 15, 16).
“Vinde após Mim e vos farei pescadores de homens.” (Mt 4, 19).
São Paulo ensina que a “fé vem pela pregação”, daí a sua importância, já que a fé é condição para a salvação.
“Portanto, se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. É crendo de coração que se obtém a justiça, e é professando com palavras que se chega à salvação.” (Rm 10, 9-20).
Em seguida o Apóstolo mostra toda a importância da evangelização:
“Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados como está escrito: Quão formosos são os pés daqueles que anunciam a boa nova.” (Is 52, 7), (Rm 10, 14-15).
Em resumo, diz o Apóstolo:
“Logo, a fé provém da pregação, e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo.” (v. 17).
O mesmo São Paulo insistia com os seus companheiros de evangelização, Timóteo e Tito, sobre isto:
“Eu te conjuro […] prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação.” (2Tm 4, 1s).
Por tudo o que foi dito até aqui, entendemos o que o Código de Direito Canônico afirma:
“Todos os fiéis têm o direito e o dever de trabalhar, a fim de que o anúncio divino da salvação chegue sempre mais a todos os homens de todos os tempos e de todo o mundo.” (CDC, cân. 211).
Todos, sem exceção, somos chamados a evangelizar. Hoje, mais do que nunca o Papa convoca a todos a uma Nova Evangelização. Aos bispos do Brasil, que estiveram em Roma por ocasião da visita ad limina apostolorum (ao túmulo dos Apóstolos), em setembro de 1995, o Papa João Paulo II disse:
“Caríssimos irmãos, não basta chamar, convocar e esperar que as pessoas venham. Como diz outro lema da ação pastoral de uma das vossas Dioceses, deveis ser uma igreja que vai ao encontro do Povo! Deveis ser uma igreja que procure as pessoas, que as convide não somente no chamado geral dos meios de comunicação, mas no convite pessoal, de casa em casa, de rua em rua, num trabalho permanente, respeitoso, mas presente em todos os lugares e ambientes.”
Essa missão se torna urgente, pois, como o Papa disse na Redemptoris Missio, a expansão das seitas “constitui uma ameaça para a Igreja Católica e para todas as Comunidades Eclesiais com quem ela mantém diálogo” (RM, 50).
E o Papa pergunta aos bispos do Brasil, diante do avanço das seitas e dos movimentos pseudorreligiosos:
“Não estaria havendo uma certa acomodação deixando de ir em busca das ovelhas que estão afastadas? Ao contrário da parábola evangélica, não é uma e outra que está tresmalhada (fugida), mas é uma parte do rebanho.” (RM, 50).
Esta é a ordem: uma “nova evangelização”, “nova em seu ardor, seus métodos e sua expressão”.
É preciso “rever o processo evangelizador” pede o Papa, cheio de “lacunas” na celebração litúrgica, na comunicação da Palavra, no acolhimento das pessoas, na celebração dos sacramentos. E disse aos bispos:
“Enfim, como não acentuar uma certa timidez e inércia no processo de evangelização do povo?”
Segundo o Papa, é preciso também no Brasil, valorizar “os sinais exteriores da fé” que o povo tanto gosta: um sino que bate, a música sagrada, a arte religiosa, a veste dos sacerdotes, as procissões, etc., tudo deve ser valorizado.
Mas se por um lado é urgente evangelizar, por outro lado é essencial o conteúdo da evangelização, como afirmou Paulo VI:
“A evangelização há de conter também sempre – ao mesmo tempo como base, centro e ápice do seu dinamismo – uma proclamação clara que em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, morto e ressuscitado, a salvação é oferecida a todos os homens, como dom da graça e da misericórdia do mesmo Deus.” (EN, 27).
Não se pode deixar de falar da vida eterna:
“Por conseguinte, a evangelização não pode deixar de comportar o anúncio profético do além, vocação profunda e definitiva do homem […].” (EN, 28).
Não se pode trair a mensagem de Cristo, deixando de ser fiel à sua doutrina:
“Pregar, não as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do qual nem eles [os evangelizadores] nem ela [a Igreja] são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são ministros para o transmitir com a máxima fidelidade.” (EN, 15).
Ninguém pode ensinar o que quer, mas deve ensinar o que a Igreja manda. Todos os que evangelizam, leigos ou religiosos, o fazem em nome da Igreja, como seus delegados, que devem ser-lhe fiéis. Infelizmente vivemos uma onda de constatações ao Magistério da Igreja, dentro da própria Igreja.
Paulo VI pergunta-nos:
“E como se poderia querer amar Cristo sem amar a Igreja, uma vez que o mais belo testemunho dado de Cristo é o que São Paulo exarou nestes termos: ‘Ele amou a Igreja e entregou-se a si mesmo por ela?’” (Ef 5,25).
Na sua memorável Exortação o Papa Paulo VI chama a atenção do perigo de se cair na tentação da falsa evangelização:
“Tentação de reduzir a sua missão [da Igreja] às dimensões de um projeto simplesmente temporal; os seus objetivos a uma visão antropocêntrica [centrada no homem]; a salvação de que ela é mensageira e sacramento, a um bem-estar material; a sua atividade – esquecendo-se todas as preocupações espirituais e religiosas – a iniciativas de ordem política e social” (EN, 32).
Resumindo a essência da evangelização, Paulo VI diz:
“Não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados. A história da Igreja, a partir da pregação de Pedro na manhã do Pentecostes, amalgama-se e confunde-se com a história de tal anúncio.” (EN, 22).
Esta era a pregação de Pedro e dos Apóstolos:
“Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devemos ser salvos.” (At 4, 12).
Toda evangelização deve ser Cristocêntrica para ser autêntica. E ninguém está dispensado de exercê-la.
Todos na Igreja são importantes na missão de evangelizar. São Paulo expressa isso bem quando diz aos Coríntios:
“O olho não pode dizer à mão: ‘Eu não preciso de você’; nem a cabeça aos pés: ‘Não necessito de vocês.’”
“Antes, pelo contrário, os membros do corpo que parecem os mais fracos, são os mais necessários.” (1Cor 12, 21-22).
De que adiantaria a grande artéria aorta e as grandes veias cavas que levam e trazem o sangue ao coração, se não houvesse as pequenas veias e artérias e os vasos capilares que irrigam de sangue todas as células levando-lhes alimento e oxigênio?
De que adiantaria todo o indispensável trabalho do Papa e dos Bispos, se não houvesse os pequenos missionários nos lares, nas escolas, nas fábricas, nas igrejas e nas ruas?
A evangelização é o fruto de toda essa grande “Árvore” que é o Corpo de Cristo. Para que o fruto doce seja produzido nas extremidades dos seus ramos, é necessário o trabalho incessante das raízes, do tronco, dos galhos, do ramo e da flor. Se um deles falhar… Adeus o fruto.
Assim é a evangelização. Por isso Cristo tanto insistiu na necessidade da unidade gerada pelo amor fraterno.
Sem unidade, adeus evangelização! É por isso que o demônio tem como grande arma desunir a Igreja – já que não pode vencê-la – através das heresias, cismas, desobediências ao Magistério, rixas, rivalidades, partidos, etc.
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