A Obra-Prima de Deus, por excelência, é a pessoa humana. A única “criada à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,26). Esta revelação bíblica, meditada devidamente, deveria levar-nos ao êxtase. É nos atributos da alma imortal, dada ao homem por Deus no instante da sua concepção, que se encontram os aspectos dessa “imagem e semelhança” com o Criador. Aí estão, perenes, a inteligência, a liberdade, vontade e consciência; atributos esses que só o homem possui, exatamente por ser só ele “imagem e semelhança” de Deus.
Tal “semelhança” com a natureza divina tornou possível a maior novidade debaixo do sol: a Encarnação de Deus em forma humana. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Jesus pôde assumir a natureza humana, sem abdicar a divina, porque o homem fora criado à Sua semelhança. E assim, Ele pôde assumir a nossa natureza e restaurá-la dos estragos do pecado original. A obra prima de Deus estava salva, ao preço do sangue e da vida do seu próprio Criador.
Tal é o amor de Deus ao homem que, além de tudo isso, ainda quis que a pessoa humana fosse o Seu Templo. É o que São Paulo nos revela, quando escreve aos Coríntios:
“Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? “Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus, que sois vós, é sagrado” (1 Cor 3,16-17).
“Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, então os membros de Cristo, e os farei membros de uma prostituta?” (1 Cor 6,15).
Dessas palavras é fácil compreender quão sagrada é a pessoa humana, e também o seu corpo, por ser “templo” de Deus e “membro” de Cristo (1Cor 12,28).
Confrontando essa realidade sagrada do homem, com o modo com que hoje ele vive, profanando o seu corpo, fica-se estarrecido.
Não é preciso descer a detalhes para que se possa conhecer a que nível de aviltamento a pessoa humana se impôs. Primeiro ela é aviltada quando os seus sagrados direitos não são respeitados, e ela se acha massacrada pela exploração gerada pela ganância; e segundo, pior ainda, quando ela impõe a si mesma tal degradação. Basta entrar hoje em um cinema, ou em uma banca de revistas, locadora de filmes, ou ligar a televisão, ou ler os jornais, para se notar com que frieza e cinismo, revoltantes, se profana a sagrada criatura de Deus, em cujo corpo a Santíssima Trindade veio habitar no Batismo.
Os mais sofisticados meios de explorar o sexo comercialmente são usados, desrespeitando-se a tudo e a todos, sem que se possa oferecer resistência a este “mar de lama” impulsionado pelos meios de comunicação.
Por mais que queiramos fugir desta pergunta, ela se nos coloca: ficará Deus inerte perante tal profanação da Sua obra prima, a qual, para salvá-la, Ele entregou à morte bárbara, o seu Unigênito? Creio que não. Creio que Deus não pode assistir impassível a destruição e profanação da Sua criatura predileta, e do seu templo. Jesus “expulsou os vendilhões do Templo…” (Mt 21,12).
Sabemos que “Deus é Amor” (1Jo 4,8) e rico em misericórdia, mas corrige os que ama:
“O Senhor educa a quem ele ama, e castiga todo filho que o acolhe” (Hb 12,6).
Deus não é o autor do mal, e não ama castigar ninguém; entretanto, algumas vezes, por não ter outra saída, Ele “permite” que a dor atinja a sua criatura, para salvá-la. Por amor. Algumas vezes, como pai, tive que segurar nos braços os meus filhos, ainda pequenos, para que o farmacêutico lhes aplicasse uma injeção. E o fiz por amor; para que a doença não os levasse à morte. Deus, como o melhor dos Pais, não quer que a doença do pecado mate a alma dos seus amados filhos; por isso, permite que a dor cure o coração do homem, que não quer ouvir a voz suave do seu amor. É a história do filho pródigo.
Será que as mazelas de nossos tempos – como no passado – não trazem a marca dos dedos de Deus? Temos visto catástrofes dolorosas. Será que Deus não tem permitido estas coisas para que os homens e mulheres acordem? É difícil dizer, absolutamente não!
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