O tema deste ano é "Caminhada ao Campo Santo do Sertão, com fé, em busca do conviver e bem viver no Semiárido". Aproximadamente cinco mil pessoas participarão do cortejo, conforme estimativa dos organizadores. A paróquia conta com o apoio do Centro de Defesa de Direitos Humanos Antônio Conselheiro e do Instituto Casarão.
Este ano, durante a caminhada, haverá homenagem especial ao padre Albino Donatti, idealizador do evento, e à Luzia Ló, sobrevivente do campo de concentração da cidade. Ambos faleceram há poucos meses.
A romaria é de aproximadamente 6Km. Sai da Igreja Matriz ao cemitério da barragem do Açude Patu, onde foram sepultadas centenas de flagelados da seca de 1932. No local é possível ouvir ainda os tradicionais relatos dos sobreviventes daquela época. O pároco João Melo dos Reis estará à frente da marcha pelo segundo ano consecutivo.
Enquanto a paróquia de Nossa Senhora das Dores conclama os fiéis a participarem da procissão e rezarem pelas almas da barragem, o Centro de Defesa de Direitos Humanos Antônio Conselheiro e o Instituto Casarão articulam os movimentos sociais a levarem sua indignação ao martírio registrado no Campo de Concentração do Açude Patu.
Movimentação
Além do momento religioso, com missa campal e visita ao cemitério, o momento também é de luta, por conquistas sociais. Também organizam a logística de assistência ao público. Afinal, os fiéis caminharão debaixo do sol por mais de uma hora. Muitos terão sede, alguns precisarão até de assistência médica.
Conforme a assessora pedagógica do Centro Antônio Conselheiro, Marta Sousa, além das homenagens, este ano a Caminhada se concentrará na sua retrospectiva histórica, já que se passaram 30 anos da mobilização, criada pelo padre Albino.
Este ano, antecedendo o grande momento da programação, está sendo realizado em Senador Pompeu o Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido, promovido pela Articulação do Semiárido (ASA).
"A construção da barragem do Patu trouxe como benefício o armazenamento de água, mas não existe produção a partir dela, e as famílias de moradores do seu entorno não têm benefício algum. O Fórum será encerrado na Caminhada", diz Sousa.
Para o advogado Valdecy Alves, um conterrâneo ativista social e poeta, apaixonado pela história do seu povo, no Açude Patu foi montado um dos sete campos de concentração do Ceará, precisamente no local onde foi montado o canteiro de obras para construção da barragem, inaugurada somente meio século depois, nos anos 80, e com tamanho bem menor.
"Por mais de 60 anos, as promessas de sua conclusão elegeram muitos políticos demagogos e enganadores. Por ironia, todos os casarões que hospedariam os milhares de operários seriam utilizados em 1932 para concentração de mais de 20 mil flagelados" destaca.
Alves revela que o imenso número de retirantes da seca de 1932 foi confinado como gado em matadouro, para o holocausto cearense, tendo o campo recebido o título de "Curral da fome". Por conta da enorme quantidade de mortos, pela cólera e fome, eram enterrados em valas.
As vítimas eram flagelados de um raio de 100Km de Senador Pompeu. Assim criaram o Cemitério da Barragem, tornando-se o símbolo material de um lugar santificado, cheio de tabu e centro de peregrinação, envolto em lendas e narrativas da memória popular", rememora.
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