Vivenciando o tríduo pascal nós iniciamos este tempo especial com a
missa da consagração dos santos óleos, antigamente chamada de missa
crismal, em que são bentos os óleos dos catecúmenos, do crisma e dos
enfermos. Um momento especial de reverenciar o sacerdócio ministerial
instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo. Um dia de unidade do
presbitério com o seu bispo diocesano que é o presidente do presbitério
e não o seu dono, patrão ou proprietário, como vemos, infelizmente,
alguns que pelo seu comportamento de autoritarismo são mais déspotas do
que Bispo, que é pai, pastor e o primeiro servidor.
Já na missa da ceia do Senhor celebramos o
mandamento novo do amor: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
Amor que não tem limites e nem máscaras. Amor desinteressado e
verdadeiro, profundo, expressão do ágape. Jesus se dá a nós em cada
Eucaristia: para celebrá-la temos que ter o coração limpo da arrogância,
da busca desenfreada do poder, de oprimir, de liquidar aqueles que nos
incomodam. Realmente é triste ver pessoas celebrando ou participando
da Eucaristia sem antes lembrar da advertência de Jesus: “antes da
apresentar o seu sacrifício junto ao Altar do Senhor vai e reconcilia
com o seu irmão”. Por isso como é bonito notar quantas pessoas
procuraram o confessionário nesta quaresma e nesta semana santa para
purificar os seus pecados e viver uma vida nova, em que reconciliados
primeiro com os seus irmãos, agora é o primeiro a dar testemunho do
amor de Deus. Jesus decidiu tornar-se alimento para toda a humanidade,
assim como ele mesmo falou: “Eu sou o pão vivo descido do céu, quem
come deste pão viverá eternamente”.
Na ação litúrgica da Sexta-Feira Santa, altar
límpido e que se recorda a paixão e morte de Jesus, ainda deve ecoar o
clamor da Igreja: “Eis o lenho da Cruz, da qual pendeu a salvação do
mundo”. Não existe fé católica sem a cruz do Senhor Crucificado. Por
sua paixão e morte nos vem a ressurreição. Refletindo acerca de sua
paixão notamos que somos também participantes deste teatro da salvação,
já que Jesus morreu para nos salvar. Refletir acerca da paixão de
Cristo é a fonte primária da santidade cristã e caminho de uma
verdadeira e profunda conversão. Não uma conversão para agradar as
autoridades ou falsas autoridades, mais uma conversão eloquente e
austera para viver com Cristo, por Cristo e em Cristo adorando a sua
cruz redentora.
Muitos procuram a Cristo somente na dor, no
sofrimento ou na perseguição. Peçamos a nossa Mãe, Nossa Senhora das
Dores, que por amor tenhamos os mesmos olhares e as mesmas atitudes do
Seu Filho, nos ensinando a solidariedade, a fraternidade, a justiça,
fazendo o que está ao nosso alcance para que a cruz de nossos irmãos
seja aliviada.
Tenhamos a atitude de São Pedro, que teve
confiança na misericórdia de Deus. Relembremos neste dia da paixão que o
maior pecado de Judas não foi ter traído a Jesus, mas ter duvidado da
sua misericórdia. Relembremos sempre que Jesus é misericordioso porque
procurou o rosto de Pedro depois de sua negação para dar-lhe o seu
perdão" e rezou piedosamente na Cruz: "Pai, perdoa-lhes porque não
sabem o que fazem" (Lc 23, 34).
O Papa Francisco prega, diuturnamente, que para
ser cristão devemos ter misericórdia. E misericórdia significa olhar o
outro com compaixão e não como um juiz temível, que aplica o Direito
Canônico para oprimir quem levanta a voz contra a corrupção do
autoritarismo. Para garantir a experiência da Misericórdia lembro as
“torquemadas de hoje”, nem muitas vezes tão santos como aparentam suas
indumentárias, que existe o sacramento da reconciliação. A confissão nos
permite experimentar em nós misericórdia e a ternura de Deus, que não é
a que contém na letra fria dos códigos, mas aquele que é a suprema lei
do amor e da cruz: a salvação das almas. Cristo não manda ninguém para
fora da Igreja, ao contrário acolhe a todos!
Ao ensejo, de Rovigo, Itália, terra de meus
antepassados, aonde estou pregando na Catedral Diocesana, a convite do
Excelentíssimo Senhor Bispo Diocesano, o Tríduo Pascal apresento aos
meus leitores os votos de uma santa e abençoada páscoa, com a certeza
de Cristo Nossa Páscoa foi imolado. Aleluia!
O Senhor Ressuscitou Verdadeiramente, Aleluia!
DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
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