sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A viagem mais segura



An aerial view of Jerusalem, Israel“Feliz quem encontra em ti sua força e decide no seu coração a santa viagem.” (Sl 84 [83],6)
O poeta, compositor do canto em que se encontra esta Palavra de Vida, fez uma peregrinação ao templo de Jerusalém. Gostaria de ali permanecer, como as andorinhas que lá fizeram seus ninhos, mas precisou voltar à sua terra, levando consigo a saudade das “amáveis moradas” do Senhor, onde experimentou a presença de Deus. Então, decidindo voltar, ele se põe a caminho para subir até Jerusalém. Será uma “santa viagem” que o conduzirá novamente “diante de Deus”. Como acontece em todas as culturas e religiões, a viagem se torna uma parábola da vida.
A “santa viagem” é o símbolo do nosso itinerário para Deus. De fato, orientamo-nos rumo a um destino que não deveríamos chamar de “morte”, mas de “encontro”, porque é o início de uma nova Vida no encontro com Deus. É o destino de todos nós, que somos por Ele chamados.
Então, por que não organizar nossa existência em função da meta que nos espera? Por que não fazer da única vida que temos, uma viagem, uma santa viagem, porque Santo é Aquele que nos espera?
Sim, somos todos chamados a nos tornarmos santos conforme o coração de Deus1; daquele Deus que nos ama um a um, com um amor imenso, e que sonhou e planejou para nós um caminho obrigatório a ser seguido, com um objetivo preciso a ser alcançado.
“Feliz quem encontra em ti sua força e decide no seu coração a santa viagem.”
É verdade que somos filhos do nosso tempo que gosta do ativismo, às vezes desenfreado; da eficiência que valoriza algumas profissões e subestima outras; que, por medo, cobre de silêncio certos momentos da vida, na ilusão de eliminá-los (.).
Às vezes também nós, influenciados ou ofuscados por essas tendências, podemos desperdiçar inutilmente muitas energias. E podemos acabar considerando inúteis os dias de repouso e supérfluos os momentos de oração. As doenças e as diversas dificuldades, que Deus permite por algum objetivo de amor, podem ser consideradas como empecilho para a nossa vida.
Como, então, podemos nos orientar ou reorientar seriamente para a “santa viagem”? Não é difícil descobri-lo: basta não fazer a nossa vontade, mas a vontade de Deus; segui-la no momento presente da vida, conscientes de que – e isto é um grande dom – para qualquer ação que fizermos desta maneira existe uma graça especial que a acompanha, a chamada “graça atual”, que ilumina a inteligência e inclina a nossa sensibilidade e a nossa vontade para o bem.
Mesmo quem não tem uma crença religiosa definida pode fazer da própria vida uma obra-prima, empreendendo com retidão um caminho de sincero empenho moral.
“Feliz quem encontra em ti sua força e decide no seu coração a santa viagem.”
Se a vida é uma “santa viagem” na trajetória da Vontade de Deus, a nossa caminhada exige um progresso a cada dia. O amor que nos impulsiona convida-nos a crescer, a melhorar. Não nos podemos contentar de como vivemos ontem. Podemos repetir de vez em quando: “Hoje, melhor do que ontem” (.).
E se acontecer de pararmos? Se retrocedermos, recaindo nos erros, ou na preguiça que seja? Devemos, então, abandonar o que empreendemos, desencorajados pelos nossos erros? Não! Nesses momentos a palavra de ordem é “recomeçar”. Recomeçar, lançando na misericórdia de Deus esse nosso passado com seus erros, seus pecados.
Recomeçar, depositando toda a confiança na graça de Deus, mais do que nas nossas capacidades. Não diz a Palavra de Vida que é Nele que encontramos a nossa força? A cada dia podemos dar uma nova largada, como se fosse o primeiro.
E, sobretudo, caminhemos juntos, unidos no amor, ajudando-nos uns aos outros. O Santo estará em nosso meio e Ele se fará nosso “Caminho”. Ele nos fará entender mais claramente a vontade de Deus e colocará em nós o desejo e a capacidade de atuá-la.
Estando unidos, tudo será mais fácil e teremos a felicidade, prometida a quem empreende a “santa viagem”.
“Feliz quem encontra em ti sua força e decide no seu coração a santa viagem.”
Aqui, me vem à mente uma pessoa amiga.
Roma, 1951. Enzo Fondi, aos 22 anos, decide empenhar-se inteiramente por Deus no nascente Movimento dos Focolares. Depois de concluir os estudos de medicina, com especialização em cirurgia, encontra-se a trabalhar como médico num hospital de Leipzig, na ex-Alemanha Oriental, testemunhando o amor evangélico mesmo além da “Cortina de Ferro”. É ordenado sacerdote. Passa pelos Estados Unidos para levar a mesma mensagem.
Nos últimos anos, o empenho no diálogo inter religioso realizado pelo movimento leva-o a lugares e tarefas diferentes, mas o projeto é sempre o mesmo: seguir Deus na sua vontade. Ele completa a “santa viagem” na tardinha do último dia de 2001; foi encontrado no seu trabalho, diante do computador, com a cabeça apoiada na mesa, o semblante sereno, sem sombra de dor. Nem parecia ter morrido: passou docemente de um “quarto” a outro.
Quinze dias antes de sua morte ele tinha escrito: “Os últimos desejos, o testamento. Para mim, a última vontade de Deus é aquela que Ele quer de mim agora. Não existe outra. Deixar realizada com perfeição a última vontade de Deus, qualquer que ela seja: este será o meu último desejo. Também não sei realmente qual será a última vontade de Deus que farei na vida. Mas, de uma coisa tenho certeza: na mesma medida em que eu me exercitar para desfrutar a graça atual, vivendo bem o presente, terei a graça de cumprir a vontade de Deus no último momento, assim como essa graça me ajuda a cumpri-la agora.”
Por Chiara Lubich – Focoloares
1. Cf. 1Ts 4,3.

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