Uma
das provas mais claras da realidade dos anjos, é o culto litúrgico que a
Igreja lhes presta. Sabemos que na vida da Igreja, “lex orandi, lex
credendi”; a norma da fé é a norma da oração, reza-se conforme se crê.
Santo Agostinho, já no século IV, afirmava que “é preciso honrar os
anjos testemunhando-lhes amor e respeito, mas não adoração, a qual
somente a Deus é devido”. Aos poucos, na vida da Igreja , foram se
tornando comuns as orações e os oratórios em honra dos anjos. No século
VI já se celebrava a festa de São Miguel Arcanjo. No século IX, a Igreja
instituiu a Missa em louvor dos Santos Anjos.
A partir do século XIII surgem muitos
templos dedicados aos três santos Arcanjos. No século XVI o culto aos
anjos já se estendia a toda a cristandade. Em 1561 o Papa Pio IV
consagrou a “Santa Maria e aos sete anjos” a igreja que Michel Angelo
construiu no local do salão das Termas do imperador romano Dioclesiano. É
o que se chama igreja de Santa Maria dos Anjos. Em 1526 o Papa Leão X, a
pedido de François d’Estaing, bispo de Rodez, aprovou a festa dos Anjos
da Guarda. No século XVII foi composta a oração ao Anjo da Guarda, que
São Luiz Gonzaga tanto gostava de rezar: “Santo Anjo de Deus que sois a
minha guarda e a quem eu fui confiado por celestial piedade,
iluminai-me, guardai-me, regei-me, governai-me. Amém!”
Em 1670, o Papa Clemente X aprovou a festa universal dos Santos Anjos
da Guarda para o dia 2 de outubro. E, após o Concílio Vaticano II, os
Santos Arcanjos são celebrados no dia 29 de setembro. Na santa Missa,
que é a Oração litúrgica por excelência, vemos os anjos presentes em
todas as partes: no ato penitencial (… peço à Virgem Maria, aos Anjos e
santos, e a vós irmãos que rogueis por mim a Deus Nosso Senhor); no
Glória; no Credo e na Oração Eucarística. “Por isso, com todos os anjos e
santos proclamamos a vossa glória, cantando a uma só voz” (Oração
eucarística II). “Eis pois, diante de Vós todos os anjos que vos servem e
glorificam sem cessar, contemplando a vossa glória. Com eles, também
nós, por nossa voz, tudo o que criastes, celebramos o vosso nome,
cantando a uma só voz: …” (Oração Eucarística IV)Na festa dos Arcanjos (29 de setembro), a Igreja invoca a proteção dos anjos: “Alimentados na força do pão do céu, dai-nos, ó Deus, sob a proteção dos vossos anjos, progredir no caminho da salvação. ” (Depois da comunhão) Na Festa dos Santos Arcanjos, a Igreja reza ao Senhor assim: “Ó Deus, que organizais de modo admirável o serviço dos anjos e dos homens, fazei que sejamos protegidos na terra por aqueles que vos servem no céu.” (Oração do dia) Na despedida dos defuntos a Igreja roga: “Para o Paraíso te levem os anjos”. Na Festa dos Santos Arcanjos a Igreja ora assim: “Nós vos apresentamos, ó Deus, com nossas humildes preces, estas oferendas de louvor; fazei que levados pelos anjos à vossa presença, sejam recebidas com agrado e obtenham para nós a salvação.” (Sobre as oferendas)
Na Liturgia da Festa dos Santos Anjos da Guarda, a Igreja implora a sua proteção: “Ó Deus, que na vossa misteriosa providência mandai os vossos anjos para guardar´nos, concedei que nos defendam de todos os perigos e gozemos eternamente do seu convívio.” (Oração do dia) “Acolhei, ó Deus, as nossas oferendas em honra dos santos anjos e fazei que, velando sempre ao nosso lado, nos guardem dos perigos desta vida e nos levem à vida eterna. ” (Oração sobre as oferendas) “Ó Deus, que alimentais com tão grande sacramento a nossa peregrinação para a vida eterna, guiai´nos por meio dos vossos anjos, no caminho da salvação e da paz.” (Oração depois da Comunhão) Pela orações acima, oficiais em nossa liturgia, vemos que a Igreja não tem dúvida sobre a existência e ação dos anjos.
Quem negar isto se põe, voluntariamente, fora dos ensinamentos e da fé da Igreja, e deixa de ser plenamente católico. Embora o Magistério da igreja não tenha definido como dogma de fé, a tutela dos anjos sobre os homens, alguns santos doutores da Igreja afirmaram a mesma concepção judaica de que o povo de Deus, as dioceses, as nações, etc., e cada pessoa tem um anjo protetor particular. Não há porque não aceitar tal concepção. S. Basílio Magno (330-369), doutor da Igreja, afirmou que “cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida” (Eun. 3,1). Na Festa dos santos Arcanjos, a Igreja assim vê a glória de Deus manifestada em seus anjos:
“Pai Santo, Deus eterno e todo poderoso,
é a Vós que glorificamos ao louvarmos os anjos que criastes e que foram
dignos do vosso amor. A admiração que eles merecem nos mostra como sois
grande e como deveis ser amado acima de todas as criaturas. Pelo
Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, louvam os anjos a vossa glória, as
dominações vos adoram, e, reverentes, vos servem potestades e virtudes.
Concedei-nos também a nós, associar-nos à multidão dos querubins e
serafins, cantando a uma só voz…” (Prefácio).
Prof. Felipe Aquino
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