Eu gostaria de lhe perguntar: como você se sentiria se não conhecesse seu pai, ou se soubesse que você tem muitos outros meios-irmãos que também não conhece? Pois bem, isto hoje acontece e muito.
Há muito tempo começaram a aparecer os frutos amargos das fertilizações “in vitro” (FIV, bebê de proveta), desde o começo condenadas pela Igreja, que é “perita em humanidade”, como disse um dia Paulo VI.
Um número cada vez maior de crianças e jovens, gerados em laboratórios, já não sabem quem são seus pais, porque alguns países permitem que os homens sejam doadores anônimos de esperma para os programas de fecundação “in vitro” (FIV).
A Agência de notícias “Zenit.org” (14/12/06), relatou o caso triste da jovem Katrina Clark.
Em 17 de dezembro de 2006, o jornal americano “Washington Post” contou a história desta estudante da Universidade de Gallaudet, com 18 anos, que disse: «não sei nada da metade das minhas origens». Isto é muito triste, a pessoa não conhecer a sua história é algo frustrante e desumano, que pode ter profundas consequências psicológicas.
Clark foi concebida por meio de sêmen de um doador desconhecido, quando sua mãe tinha 32 anos e tinha medo de não conseguir ter uma família de outra forma. Clark denuncia que o debate sobre a fertilização “in vitro” tende a centrar-se nos adultos, sendo que muitas crianças, resultado da FIV, sofrem de problemas emocionais. Ela afirmou que: “É hipocrisia que os pais e os profissionais da medicina assumam que as raízes biológicas não terão importância para os “produtos” de seu serviço de crio-bancos, quando o que em primeiro lugar leva clientes a estes bancos é alcançar uma relação biológica”.
As investigações de Clark a levaram há pouco tempo a descobrir seu pai, mas muitas outras crianças FIV não têm a mesma sorte. Mas, mesmo que descubram quem são os seus pais, é triste saber que foram geradas fora de uma relação de amor entre eles, sendo que isto é o “ato fundante” da vida, para a Igreja. Não se pode dissociar o ato criador do ato de amor do casal. A Igreja ensina que:
“O ato fundante da existência dos filhos já não é um ato pelo qual duas pessoas se doam uma à outra, mas um ato que “remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos, e instaura um domínio da técnica sobre a origem e a destinação da pessoa humana. Uma tal relação de dominação é por si contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos” (Donum Vitae, II,741,5). “A procriação é moralmente privada de sua perfeição própria quando não é querida como o fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos… Somente o respeito ao vínculo que existe entre os significados do ato conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação de acordo com a dignidade da pessoa” (idem, II,4).
O jornal “Daily Telegraph”, da Austrália, também publicou, em 27 de setembro de 2006, um artigo onde relata a situação de Justin Senk, do Colorado, EUA, que descobriu aos 15 anos que havia sido concebido “in vitro” de um doador anônimo. Senk investigou a sua origem e chegou à complicada conclusão que tinha quatro irmãos e irmãs que viviam em um raio de 25 quilômetros — com um total de cinco crianças nascidas de três mães que haviam se submetido a um tratamento de fertilidade na mesma clínica. A identidade do pai segue sendo desconhecida.
Não é preciso fazer um esforço de reflexão para entender que isto significa a total destruição da instituição familiar.
Outro caso narrado aconteceu em Virgínia, EUA, onde 11 mulheres tiveram filhos concebidos do esperma de um mesmo homem. O “Daily Telegraph”, da Austrália. Calcula que só 30% das crianças concebidas com esperma doado conhece a identidade de seu pai. Isto além de ser uma enorme injustiça e maldade com as crianças, é um fator terrível de destruição da família. E o que será da sociedade sem a família?
Em 11 de agosto, a “Associated Press” descrevia que se criou nos Estados Unidos um “web site”, “Donor Sibling Registry”, para ajudar a identificar aos nascidos com o esperma de um mesmo doador. O site foi criado por Wendy Kramer, para conseguir que seu filho Ryan, também concebido com esperma doado, encontrasse seus irmãos. Por meio dele, uma mãe, Michelle Jorgenson, descobriu que, além de ser pai de sua filha Cheyenne, o mesmo doador teve outros seis filhos, sendo que dois deles sofrem de autismo, e outros dois mostram sinais de disfunções sensoriais.
Segundo a “Associated Press” o site se converteu em um ponto de referência para quem busca informação sobre problemas de saúde perigosos.
Kramer afirma que: “Há pessoas em nosso site que buscam irmãos porque seus filhos têm problemas médicos, para assegurar-se, porque nem sequer diante de uma emergência medica os bancos de esperma permitirão algum contato, o que é frustrante”.
Vemos assim que outro mal das fertilizações “in vitro”, é que podem gerar e propagar graves problemas de saúde.
No ano passado, o “New York Times” apresentava outro caso de um doador de esperma que transmitiu uma grave enfermidade genética a cinco filhos, nascidos para quatro casais. O artigo, publicado em 19 de maio, observava que não se sabe com exatidão de quantas crianças é pai. As crianças, todas de Michigan, carecem de um tipo de glóbulo branco, o neutrófilo. Isto significa que são muito vulneráveis às infecções e propensos à leucemia. As crianças têm 50% de chance de transmitir o problema genético a seus próprios filhos.
Cada vez há mais pressão para que se permita a utilização da FIV para mulheres solteiras. As clínicas de fertilização “in vitro”, por razões financeiras, pressionam os governos para que as dispense de ter que considerar a necessidade de um pai na hora de oferecer o tratamento, para poderem fazer a inseminação em lésbicas e mulheres solteiras.
Outra pressão acontece agora no sentido de se reconhecer legalmente nos casais do mesmo sexo a ambas as partes como «pais». É a supressão da necessidade de um pai, algo terrível para qualquer filho; é a mais ousada destruição da família.
O jornal “Telegraph”, de Londres, em 08 de outubro de 2006, afirmou que nos últimos anos aumentou de forma notável o número de mulheres solteiras que conceberam através da FIV. No ano passado, 156 mulheres lésbicas receberam tratamento nas clínicas de FIV, quando em 2000 só 36. O número de mulheres solteiras que receberam a FIV subiu de 215 para 536. É o que chamam de “produção independente”. Gera-se a criança, não mais como o fruto do amor de um casal que comprometeu a sua vida um com o outro até a morte, mas como um deleite para a mulher.
O Catecismo da Igreja ensina que o filho é um dom de Deus para o casal (§1652), mas não é um “direito” das pessoas:
“O filho não é algo devido, mas um dom. O “dom mais excelente do matrimônio” é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objeto de propriedade, a que conduziria o reconhecimento de um pretenso “direito ao filho”. Nesse campo, somente o filho possui verdadeiros direitos: o “de ser o fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção”. (§2378)
Começa também a haver uma pressão sobre os Parlamentos para aprovarem a inseminação para mulheres com mais de 40 anos. No ano passado, o médico italiano Severino Antinori ajudou uma mulher de 62 anos a ter um filho, como informou em 8 de julho o “Times”. Patrícia Rashbrook entrou no livro dos recordes como a mãe britânica mais velha. O jornal “The Guardian” informou em 8 maio 2006 , que ao ano nascem mais de 20 bebês de mulheres com mais de 50 anos. Quais serão as implicações futuras disso? Esta mulher tem um organismo adequado para gerar um filho? Será que a natureza errou?
Em 2002, o último ano do qual se tem dados, nas clínicas de fertilidade britânicas foram tratadas 96 mulheres que superavam os 50 anos. Uma quarta parte delas ficaram grávidas.
A Igreja Católica, infelizmente quase que sozinha, levanta a sua voz, em nome de Cristo, para dizer que tudo isto é um grave erro e que esta forma de conceber não é ética: “As técnicas que provocam uma dissociação da paternidade… são gravemente desonestas”, porque elas “lesam o direito da criança de nascer de um pai e de uma mãe conhecidos por ele e ligados entre si pelo matrimônio”. (Catecismo §2376).
Lamentavelmente, como acontece hoje em outras práticas imorais, como no aborto, quem sofre a consequência de tudo isto são as inocentes crianças. É uma grande violência; é o desrespeito do forte contra o fraco, do adulto contra a criança. Isto ofende gravemente a Deus. É mais um sinal da franca decadência da civilização ocidental, porque rejeitou o Cristianismo que a modelou.
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