Muitos
perguntam também por que as crianças, tão inocentes, sofrem, e se Deus
não estaria sendo injusto permitindo isto. Deus não pode ser injusto,
senão não seria Deus.
As crianças e os inocentes sofrem porque participam da dignidade humana, e compartilham a sorte da humanidade.
O espiritismo quer explicar o sofrimento
da criança pela via da reencarnação, pela lei do Karma, segundo a qual a
pessoa estaria expiando as culpas dos pecados cometidos em vidas
anteriores. As sucessivas reencarnações se repetiriam até a purificação
total da pessoa.
Acontece que ninguém provou de maneira
positiva a reencarnação. Em estado psíquico normal, sem hipnose, ninguém
tem consciência de já ter vivido anteriormente. Até mesmo um grande
adepto moderno da reencarnação reconhece que:
“O mais importante argumento contra a
reencarnação é o esquecimento quase geral das vidas passadas; são
extremamente raras as recordações da reencarnação; eis por que podem ser
consideradas como ilusões individuais… Se é verdade que já vivemos
algumas vezes, como se explica não só o esquecimento geral das vidas
anteriores, mas o esquecimento dessas vidas por espíritos elevados e
sobretudo pelos místicos, os quais penetram até a essência do ser?” (W.
Lutoslawski, Preesistenza e Reincarnazione, 61s).
Se uma pessoa está sofrendo neste mundo,
para se redimir de sua culpa, mas não sabe que culpa é esta, de nada
vale o seu sofrimento. Se ela não conhece os erros que cometeu no
passado, como poderá corrigir a sua vida? Como, então, poderá melhorar a
sua vida através da reencarnação, se não sabe em que melhorar? Esta é
uma grande incoerência da “lei do Karma”.
É interessante dizer que, mesmo sob
estado hipnótico, em geral, as pessoas que dizem se lembrar de suas
vidas anteriores, se identificam com pessoas ilustres e importantes;
nunca com pessoas comuns. Douglas Home, observador desses fatos, dizia
que já tinha encontrado doze Maria Antonieta, rainha da França, seis ou
sete Maria Stuart, rainha da Inglaterra, muitos São Luiz, rei de França,
uns vinte Alexandre Magno e César… Nunca encontrou alguém que dissesse
que foi em outra vida uma pessoa sem importância.
Quando se visita uma clinica de doentes
mentais também é possível encontrar alguns doentes que se identificam
com personagens importantes da história. Eu sou Napoleão!…
Então, a criança não sofre para pagar os
pecados de uma suposta vida anterior. Ela sofre porque é solidária com a
humanidade, e as consequências de seus erros a atingem também, embora
inocente. Não é preciso inventar teorias complicadas para explicar o
sofrimento; e nem mesmo culpar a Deus pelo erro que é nosso.
Deus não interfere no sofrimento da
criança, a todo instante fazendo milagres para impedir o mal, para não
destruir a ordem natural que Ele mesmo criou. Deus não quis fazer o
homem e o mundo como um teatro de marionetes, teleguiado por Ele, não;
Ele lhe impôs leis que regulam a vida e a natureza.
Em consequência do pecado, o sofrimento
e a morte fazem parte da história de todos os homens, inocentes ou
pecadores. Muitas vezes um inocente morre por causa de um pecador. Os
acidentes das estradas comprovam isto todos os dias; e ninguém pode
culpar a Deus, mas sim os verdadeiros culpados que são os maus.
São Paulo ensina que “o salário do
pecado é a morte” (Rm 6,23); e esta pode atingir a todos, inocentes e
culpados, porque a humanidade é solidária; é unida. Cada pecado atinge
todos os a homens; assim como cada ato bom também atinge.
A fé ensina que Deus Pai, pelo
sofrimento redentor de Jesus, resgatará todo sofrimento da criança
inocente e fará cada uma ressuscitar um dia com Cristo.
Não devemos esquecer que os primeiros
mártires da Igreja são os inocentes que morreram pelas mãos de Herodes,
em Belém (Jr 31,15). Hoje são santos mártires da Igreja. O seu
sofrimento não foi em vão. Não podemos olhar os fatos só com os olhos
deste mundo; é preciso vê-los à luz da fé.
A paixão e morte de Jesus resgatou o
mundo. Ouvi uma história muito bela que não sei se foi verídica, mas que
faz a gente pensar.
Em algumas cidades americanas há aquelas
pontes sobre um largo rio, formadas de duas partes que se abrem e
levantam quando passam sob elas os navios.
Havia uma dessas pontes, que além de
tudo continha uma estrada de ferro sobre ela. Um homem a operava. Quando
vinha o trem ele baixava a ponte para ele passar, quando vinha um
navio, ele a levantava comandando máquinas e engrenagens enormes, que
ficavam sob os seus pés.
Certo dia o seu filho, pequeno, foi
visitá-lo, com uma bola nas mãos. Ao brincar com a bola, esta
escapou-lhe e caiu lá no meio das engrenagens. Logo o garoto desceu os
degraus para pegar a bola, sem que o pai pudesse impedi-lo, e se meteu
no meio das grandes engrenagens. E eis que o trem vinha vindo; e ele
teria de baixar logo a ponte, sabendo que o filho estava lá em baixo
correndo risco. Gritou desesperado para que o filho deixasse a bola e
subisse, mas este não o ouvia. Eis que o trem se aproximava rápido, e
ele sentiu que não teria tempo de ir buscar o garoto antes do trem
passar… Ficou com o coração na mão… o dilema era enorme: se baixar a
ponte as engrenagens matariam o seu filho, se não baixasse a ponte seria
uma enorme tragédia, muitas pessoas pereceriam no acidente.
Não teve alternativa, com o coração
sangrando e os olhos cheios de lágrimas, baixou a ponte (…) o trem
passou, e as pessoas, como faziam de costume, lhe abanavam os lenços e
lhe davam adeus e sorrisos (….)
O Pai entregou Jesus por nós assim (…).
Ainda duvidaremos do seu amor? Por isso, diante da dor e da morte, mesmo
de uma criança inocente, façamos silencio e jamais ousemos culpar a
Deus; não somos dignos e nem capazes de compreender os seus santos
desígnios. É melhor não crer em Deus, do que crer em um Deus que seja
malvado.
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Do Livro: ”NÃO VOS CONFORMEIS COM ESTE MUNDO” – Prof. Felipe Aquino
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