quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O Anglicanismo

rosadosventosNo século passado se registrou, na Inglaterra, o chamado “Movimento de Oxford”, chefiado por teólogos anglicanos (entre os quais John Newman depois convertido ao catolicismo e feito cardeal). Esses estudiosos se puseram a pesquisar a literatura teológica dos primeiros séculos cio cristianismo ou os Padres da Igreja; mediante esse retorno às fontes, verificaram que a Igreja Católica havia guardado puramente a mensagem de Cristo e das primeiras gerações cristãs. A continuidade desse estudo é muito alvissareira, pois pode preparar o reatamento da comunhão entre o anglicanismo e o catolicismo.
A Comunhão Anglicana ou o anglicanismo teve suas origens no século XVI, época da Reforma Protestante.
Na Inglaterra, o rei Henrique VIII (1509-1547), nos inícios de seu governo mostrou-se zeloso pela fé cristã tradicional. Em 1524, contra a obra de Lutero sobre O Cativeiro Babilônico, escreveu uma Afirmação dos Sete Sacramentos, que lhe valeu do Papa Leão X o título de “Defensor da Fé” Não obstante, havia de ser arrastado por seus afetos.
Em 1509, Henrique esposou Catarina de Aragão, viúva de seu irmão Artur l)este casamento teve vários filhos, dos quais um só, Maria Tudor, ficou em vida.Com o tempo, Henrique se apaixonou por uma cortesã, Ana de Boleyn. Por isso, procurou dissolver O seu casamento com Catarina, alegando que fora nulo, porque os nubentes eram cunhados em primeiro grau. Tal pretexto era falso, porque o Papa Júlio II dera a Henrique explícita dispensa para se casar com Catarina; ademais somente, após 18 anos de vida conjugal Henrique trazia à tona esse “impedimento”. A corte real favorecia os anseios do rei. A rainha Catarina apelava para a Santa Sé, pedindo justiça. O Papa Clemente VIl resolveu entregar o exame do processo a um tribunal de Roma (julho de 1529).
Em janeiro de 1531, o Papa proibiu a Henrique novas núpcias enquanto a causa estivesse sob julgamento. O rei, vendo que pouca esperança lhe restava, quis obter a dissolução do seu casamento da parte da hierarquia da Inglaterra: Thomas Cromwell, obscuro advogado que adquirira influência sobre o rei, aconselhava a Henrique que, a exemplo dos príncipes alemães, se separasse de Roma. Em fevereiro de 1531 uma assembléia do clero, instigada pelo rei, proclamou Henrique “Chefe Supremo da igreja da Inglaterra”,  com a cláusula “na medida em que a Lei de Cristo o permite”. Em  1532, o rei elevou a sé arquiepiscopal de Cantuária Thomas Cranmer que, numa viagem à Alemanha, tinha entrado em contato com o luteranismo; Cranmer resolveu declarar nulo o casamento de Henrique VIII, de modo que este se casou em 1533 com Ana Boleyn. O Papa respondeu excomungando o monarca e final­mente declarando válido o casamento com Catarina. O cisma estava às por­tas: em novembro de 1534, o parlamento inglês votou o “Ato de Supremacia”, que proclamava ser o rei o “Único e Supremo Chefe da igreja na Inglaterra”; os súditos que não reconhecessem esse ato seriam punidos com a morte. A grande maioria do clero se submeteu, talvez porque acostumada ao conceito de Igreja nacional e bastante mundanizada. Resistiram, porém, até a morte, vários leigos e clérigos, dos quais se destacaram o leigo Tomás Moro e o bispo John Fisher.
Muitos mosteiros foram fechados, relíquias e imagens foram destruídas. Apesar do cisma e das pressões luteranas, o rei queria conservar íntegra a fé católica na Inglaterra: combatia tanto a adesão ao Papa (manto as inovações religiosas do continente.
Leia também: História da Igreja: O Cisma Anglicano
O que é necessário para um credo ser considerado religião?
Henrique teve por sucessor um filho de dez anos, que lhe nascera do seu terceiro matrimônio! Este menino, Eduardo VI, teve como tutores o duque de Somerset e o de Northunberland que, juntamente com o arcebispo Cranmer, muito trabalharam pela introdução da teologia protestante na Inglaterra. Houve revoltas em diversos condados e as desordens se avolumaram na Inglaterra, a tal ponto que, quando Eduardo VI morreu (aos 16 anos de idade), em 1553, a nação em peso se pronunciou pela princesa Maria, a Católica, filha de Henrique VIII e Catarina, contrariando a designação que Eduardo fizera em. favor de Joana, cortesã de sangue real, protestante.
Maria Tudor resolveu a situação. Era católica convicta e se pôs a trabalhar, apoiada por seu primo, o cardeal Reginaldo Pole, legado papal.
Em 1554, o Parlamento voltou a nova união da Inglaterra com a Santa Sé.
Os prelados depostos por Eduardo VI foram restituídos às suas sedes, enquanto os hereges, vindos do estrangeiro, foram expulsos.
A rainha Maria, no seu zelo restaurador, adotou medidas extremas, semelhantes às que Henrique VIII tomara contra os católicos. Esse zelo excessivo era, em parte, favorecido pelo povo, mas encontrou desaprovação da parte de católicos, que se tornaram avessos à rainha. Esta se tornou impopular também por seu casamento com Filipe, filho de Carlos V, que pouco depois subiu ao trono da Espanha com o nome de Filipe II. Morreu prematuramente (1558); pouco depois do seu desaparecimento, extinguia-se a restauração católica na Inglaterra.
Sucedeu-lhe no trono uma filha de Ana de Boleyn com Henrique VIII: a rainha Elisabete (1558-1603), visto que Maria não deixara herdeiros A nova soberana elevou a Inglaterra a extraordinário poder político e econômico. A sua religiosidade era misteriosa: convertera-se ao catolicismo sob Maria e, elevada ao trono, continuava a frequentar a missa, confessar-se e comungar. Essas atitudes, porém, não eram profundas e cediam a interesses políticos. No dia de sua coroação, jurou conservar a religião católica  no país; não obstante, motivos de conveniência a levaram a violar a sua palavra. Os católicos a consideravam rainha ilegítima e propunham Maria Stuart, da Escócia, como herdeira legítima do trono. Isso fazia Elisabete se inclinar, cada vez mais, para o protestantismo. Em conseqüência, sob as aparências de católica, foi tomando medidas anticatólicas e antipapais. Libertou os teólogos presos na Inglaterra e chamou de volta os pregadores de novidade outrora expulsos.
Um dos feitos mais importantes de Elisabete foi a tentativa de restaurar a hierarquia episcopal na Inglaterra, praticamente extinta por Henrique XIII e Eduardo VI. Para tanto, foi escolhido como arcebispo de Cantuária um antigo capelão da rainha, Mateus Parker, que recebeu a ordenação episcopal em 17/12/1559, às cinco horas da manhã, na capela de Lamberth, segundo um ritual novo, chamado “Ordinal”, confeccionado sob o rei Eduardo VI. O sagrante foi um bispo deposto, que se prestou a tal ofício: William Barlon, ex-titular da diocese de Beth, ordenado ainda sob Henrique VIII, validamente. Mateus Parker, uma vez ordenado bispo, ordenou outros bispos, reconstituindo assim a hierarquia na Inglaterra.historiaigrejadademedia
Após longos estudos de peritos, que investigaram de perto os fatos, o Papa Leão XIII, em 1896, declarou inválidas as ordenações anglicanas, baseando-se em dois motivos: 1°) insuficiência do rito (o Ordinal de Eduardo VI excluía qualquer alusão á missa como sacrifício de Cristo perpetuado sobre os altares pelo ministério dos sacerdotes; 2°) falta de intenção devida (William Barlon queria constituir uma hierarquia diversa daquela que Cristo fundou, desvinculada da Sé de Pedro). É por isso que a Igreja Católica maté hoje não reconhece as ordenações anglicanas, embora o assunto possa ser reestudado na base de novos aspectos que os estudiosos têm trazido á tona em ampla bibliografia. Este ponto é decisivo para a restauração da comunhão entre a Santa Sé e Cantuária. O reatamento, em nossos dias, vem sendo dificultado pela ordenação de mulheres para o presbiterato e até para o episcopado; dentro da Comunhão Anglicana, este fato tem aberto distância crescente entre os anglicanos e os católicos (acompanhados pelos ortodoxos orientais muito fiéis à Tradição).
No século passado, registrou-se na Inglaterra o chamado “Movimento de Oxford”, chefiado por teólogos anglicanos (entre os quais John Newman, depois de convertido ao catolicismo e feito cardeal). Esses estudiosos puseram ­se a pesquisar a literatura teológica dos primeiros séculos do cristianismo ou os Padres da Igreja; mediante esse retorno à fontes, verificaram que a Igreja Católica havia guardado puramente  mensagem de Cristo e das primeiras gerações cristãs. A continuidade desse estudo é muito alvissareira, pois pode preparar o reatamento da comunhão entre o anglicanismo e o catolicismo.

Santo do dia São Bernardo

Sao Bernardo_de_CorleoneO poder de atração deste santo foi extraordinário. Nascido em 1090 no Castelo de Fontaine, próximo de Dijon, o terceiro de seis irmãos, ainda muito jovem decidiu fazer-se monge em Cister. Tescelino, o bom pai de Bernardo, ficou consternado: um após outro, os filhos abandonavam os confortos do castelo para seguir Bernardo: Guido, o primogênito, deixou até a esposa, que também se fez monja. Nissardo, o caçula, também despediu-se do mundo, seguido pela única irmã, Umbelina e pelo tio Gaudry, que despiu a pesada armadura para vestir o hábito branco. Por último também Tescelino pediu para entrar no mosteiro onde estava praticamente toda a família. Um êxodo tão completo como este não se verificou talvez nunca na história da Igreja. E como outros numerosos jovens pedissem para entrar entre os cistercienses, foi necessário fundar outros mosteiros. Disso foi encarregado Bernardo, que deixou Citeaux abraçando uma pesada cruz de madeira e seguido de doze religiosos que cantavam hinos e louvores ao Senhor. O pequeno grupo, após uma longa marcha, fez uma parada num vale bem protegido. O lugar era bom e decidiram se estabelecer aí, após tê-lo batizado com o nome de Claraval. Experientes trabalhadores, como todos os beneditinos, os monges logo levantaram aí cabanas para rezar, para dormir e para comer. A antiga regra beneditina era aí observada com todo o rigor: oração e trabalho, sob a obediência absoluta ao abade. Mas Bernardo preferia os caminhos do coração à rígida norma fixa. “Amemos – ele dizia a seus filhos – e seremos amados. Naqueles que amamos encontraremos repouso, e o mesmo repouso oferecemos a todos os que amamos. Amar em Deus é ter caridade; procurar ser amado por Deus é servir à caridade.” De Claraval, Bernardo expandia a sua luz sobre toda a cristandade. Embora frágil e nunca em ótima saúde, percorreu meia Europa, orientou concílios, pregou uma cruzada à Terra Santa. E depois de laboriosas jornadas retirava-se à cela para escrever obras cheias de otimismo e de doçura, como o Tratado do amor de Deus e o Comentário ao Cântico dos Cânticos que é uma declaração de amor a Maria, pela qual tornou-se até autor e compositor, compondo palavras e música, do belíssimo hino Ave Maris Stella. É sua a invocação: “Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria” da Salve-rainha. Poucos instantes antes da morte, acontecida a 20 de agosto de 1153, assim consolava os seus monges: “Não sei a quem escutar, se o amor dos meus filhos que me querem reter aqui em baixo, ou ao amor do meu Deus que me atrai lá para cima.” Foi chamado por Pio XII “o último dos Padres da Igreja, e não o menor.”
Outros Santos do mesmo dia: São Bernardo de Claraval, Santo Amador, Santo Osvino, São Felisberto, Santa Maria de Matias, Beato Ladislau Maczkowski, Beata Maria Climent Mateu e Santo Samuel.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Qual o valor da intercessão dos santos?

kb4071A Igreja católica, desde os primeiros séculos, acredita que as pessoas que morrem perfeitamente santas, imediatamente vão para o céu; isto é, para a comunhão com Deus. Outros vão para a comunhão com Deus após a purificação do Purgatório (cf. Cat. n.1030). Nos primórdios do cristianismo os cristãos já celebravam a Missa sobre o túmulo dos mártires nas catacumbas de Roma, para suplicar-lhes a intercessão.
O Concilio de Trento (1545-1563) em sua 25ª Sessão, confirmou que: “Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos homens. É bom e proveitoso invocá-los suplicantemente e recorrer às suas orações e intercessões, para que vos obtenham benefícios de Deus, por NSJC, único Redentor e Salvador nosso.”aintercessoecultodossantos
Mesmo no Antigo Testamento já encontramos uma base bíblica desta intercessão dos que já estão na glória de Deus. Está no segundo livro de Macabeus (2 Mac 15,11-15). O povo judeu estava em guerra contra os gentios gregos, liderados por Judas Macabeus, por volta do ano 160 antes de Cristo. Para levantar o ânimo dos guerreiros, Judas contou-lhes a visão que teve, onde Onias, sacerdote já falecido e profeta Jeremias, também falecido, intercediam por eles:
“Narrou-lhes ainda uma visão digna de fé uma espécie de visão que os cumulou de alegria. Eis o que vira: Onias, que foi sumo sacerdote, homem nobre e bom… com as mãos levantadas, orava por todo o povo judeu. Em seguida havia aparecido do mesmo modo um homem com os cabelos todos brancos, de aparência muito venerável, e nimbado por uma admirável e magnífica majestade. Então, tomando a palavra, disse-lhe Onias: Eis o amigo de seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus. E Jeremias, estendendo a mão, entregou a Judas uma espada de ouro, e, ao dar-lhe, disse: Toma esta santa espada que Deus te concede e com a qual esmagarás os inimigos.” (2 Mac 15, 11-15)
A Tradição da Igreja está repleta de confirmações sobre a intercessão dos santos. Todos os santos foram devotos de outros santos, pois acreditavam em sua intercessão. Santa Teresa de Ávila disse que nunca deixou de receber uma graça que pediu a São José em alguma de suas festas. O mesmo dizia santa Teresinha do poder de intercessão dos santos. Todos os santos nos recomendam nos recomendarmos aos santos.
São Jerônimo (340-420), doutor da Igreja disse: “Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos… E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?” (Adv. Vigil. 6)
Santo Hilário de Poitiers (310-367), bispo e doutor da Igreja, garantia que: “Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos”.
São Cirilo de Jerusalém (315-386): bispo de Jerusalém e doutor da Igreja, afirmava que: “Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: Patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires; para que Deus, por sua intercessão e orações, se digne receber as nossas”.
São Domingos de Gusmão, moribundo, dizia a seus irmãos: “Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida”. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia antes de morrer: “Passarei meu céu fazendo bem na terra”. “Não morro, entro na vida!”
Por tudo isto é que a Igreja ensina que devemos suplicar a intercessão dos santos, venerar suas imagens, prestar-lhes culto e rogar sua intercessão. Essa intercessão, e especialmente a de Nossa Senhora, que é a mais poderosa de todas as intercessões, não substitui a medição única de Cristo, ao contrário, a reforça, pois, sem a medição única e indispensável de Cristo nenhuma outra intercessão teria valor, já que todas são feitas através de Jesus Cristo.
Por isso a Igreja não teme invocar os santos e suas preces por nós diante de Deus. Isto não é uma mediação paralela a de Cristo, nem substitutiva ou concorrente com a Dele; ao contrário, é subordinada a ela.
São Paulo diz que o cristão, com seu sofrimento unido ao de Cristo, “completa na sua carne o que falta à paixão de Cristo no seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). Cristo quer os redimidos participando de sua ação salvífica aqui na terra e também no céu, porque os cristãos, na terra, no céu e no purgatório são membros do Seu Corpo, a Igreja, pelo batismo, e assim são também responsáveis pela salvação do mundo.
Então, é pelos méritos e intercessão dos santos, que Deus muitas vezes nos concede as suas graças. Uma das Orações Eucarística diz “que diante de Deus os santos intercedem por nós sem cessar”. O Papa Paulo VI, na Constituição Apostólica sobre as Indulgências, ensina que quanto mais santos houver no céu, mais rapidamente o Reino de Deus se consumará na terra, por causa da intercessão deles.
O Catecismo da Igreja nos ensina o seguinte no n. 956:cpa_rela_o_de_santos_e_beatos
“Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Lumen Gentium, 49).
É por isso também que a Igreja recomenda que os pais ponham nomes de santos em seus filhos, a fim de que tenham desde pequenos um patrono no céu. Também os papas sempre designaram santos protetores das profissões, das cidades e países, protetores contra as doenças, etc. Quem desejar aprofundar este tema pode ler meus livros: “Intercessão dos santos” e “Relação dos santos e beatos da Igreja”. (Ed. Cléofas)

A Igreja Católica admite a predestinação?



homemsemrumo1“Afinal a doutrina católica admite ou não a predestinação? Em que se distinguiria do fato ou do destino a predestinação?”
Abordamos aqui uma das questões mais elevadas da fé cristã. Para penetrá-la, o estudioso tem que se resolver a não se deixar levar pelo sentimentalismo nem pelo antropocentrismo. Mas estritamente pelos dados da Revelação, que é sobrenatural (não, porém, anti-natural) e teocêntrica.
A questão da predestinação se prenda à do mal, de que trata “Pergunte e Responderemos” nº 5/1957 qu. 1. Tenha-se em vista o que aí se diz: 1) a possibilidade de errar é inerente ao conceito mesmo da criatura; 2) esta possibilidade se realizou no mundo quando o primeiro homem cometeu livremente o erro ou o mal moral, o pecado; 3) os males físicos (misérias e morte) são consequências do pecado; 4) a culpa dessas desordens recai em última análise sobre o livro arbítrio do homem, não sobre Deus; 5) Este se apiedou da criatura, tomando a sua sorte na Encarnação e na morte de cruz, a fim de dar valor salvífico ao sofrimento.
Entremos agora no tema da predestinação.
Conceito e existência da predestinação
Por predestinação entende-se em Teologia o desígnio, concebido por Deus, de levar a criatura racional (o homem) ao fim sobrenatural, que é a vida eterna. Note-se logo que este desígnio tem por exclusivo objeto a bem-aventurança celeste; não há predestinação para o mal ou o inferno.
A Sagrada Escritura atesta amplamente a existência de tal desígnio no Criador. De um lado, ela ensina que a Boa Notícia da salvação deve ser anunciada a todos os povos (cf. Mt 28,19) e que Deus quer “sejam salvos todos os homens e cheguem ao conhecimento da verdade” (cf. 1 Tim 2,4). De outro lado, ela também diz que há homens que se perdem (cf. Jô 17,12) e que o Senhor exerce uma providência especial para salvar os que não se perdem:
“Sabemos que, com aqueles que O amam, Deus colabora em tudo para o bem dos mesmos, daqueles que Ele chamou segundo o seu desígnio. Pois, aqueles que de ante-mão Ele conheceu, Ele também os predestinou a reproduzir a imagem de seu Filho… E, aqueles que Ele predestinou, Ele também os chamou (à fé); os que Ele chamou, Ele também os justificou (mediante o batismo); os que Ele justificou, Ele também os glorificou” (Rom 8,28-30).
Cf. Ef 1,3-6; Rom 9,14; 11,33; Mt 20,23; 22,14; 24,22-24; Jô 6,39; 10,28.
Na base destes textos, não resta dúvida entre os teólogos, desde o início do Cristianismo, sobre o fato da predestinação. Vejamos agora um ponto mais árduo, que é
II. O modo como Deus predestina
Está claro que o homem, como ser essencialmente relativo, depende do Criador não somente quanto ao seu existir, mas também quanto ao agir; já que ele nada é por si mesmo, também nada pode por si. É Deus, pois, quem lhe outorga o dom de praticar atos bons e, mediante os seus atos bons, chegar ao último fim, à bem-aventurança eterna. Esta conclusão se torna particularmente imperiosa se se tem em vista o caso do cristão: este é chamado a um fim sobrenatural (a visão de Deus face a face), objetivo que, ultrapassando todas as exigências da natureza, só por graça de Deus sobrenatural pode ser alcançado.
Estas proposições, claras em si mesmas, suscitam sério problema desde que se indague: como conciliar a primazia da ação de Deus no homem com a liberdade de arbítrio da criatura? Não se torna vã esta última debaixo daquela? Ou, vice-versa, não deve aquela retroceder para que seja esta salva guardada?
A fim de resolver a questão, dois sistemas são propostos pelos teólogos:
1) o sistema molinista: segundo L. Molina S. J. (+ 1600), Deus oferece a sua graça a todo homem; este, posto diante da oferta, livremente escolhe aceitá-la ou não; caso a aceite, a graça se torna eficiente, e induz o homem a praticar o bem.
Estendendo a sua doutrina à questão da predestinação, Molina ensinava que Deus, desde toda a eternidade, na sua “ciência média”, prevê como cada um dos homens se comportaria com relação à graça nas mais variadas circunstâncias da vida. Diante desta visão, o Criador decreta colocar tal indivíduo em tais e tais circunstâncias em que Ele sabe que a criatura aceitará a graça, e assim irá merecendo a salvação eterna. Desta forma. Deus predestina para a glória, mas – note-se bem – praevisis meritis, depois de haver previsto os méritos da criatura.
2) o sistema tomista (que tem por pioneiro Domingos Banes O.P. (+ 1604): partindo do princípio de que nada, absolutamente nada, pode haver na criatura que não lhe venha de Deus, ensina que a graça é eficaz por si mesma, anteriormente a qualquer determinação ou atitude do homem; não é este quem determina aquela, mas é a graça que predetermina a este, não moralmente apenas (por meio de exortações), mas fisicamente (por sua moção intrínseca, soberana). Contudo a graça por si eficaz não extingue a liberdade de arbítrio do homem; ao contrário, movendo e predeterminando a criatura, move tudo que nesta se encontra, isto é, as faculdades de agir e o livre arbítrio mesmo; ela dá ao homem não somente  agir, e tal agir determinado, mas também a modalidade com que o homem costuma agir, isto é, a liberdade; em conseqüência, sob a graça eficaz (na doutrina tomista) o homem pratica infalivelmente a ação à  qual Deus predetermina, mas pratica-a sem perder a sua liberdade, antes atuando-a plenamente. Como se vê, o tomismo é rigorosamente lógico: partindo dos conceitos de Criador e criatura, ensina que Deus deve ser o Autor de tudo aquilo de que também o homem é autor, até mesmo desta determinação do homem e do modo livre de tal determinação; o homem deve a Deus não somente a sua faculdade de livre arbítrio, mas também o uso preciso (tal e tal modo de usar) dessa faculdade.
No tocante à predestinação, o tomismo consequentemente afirma que Deus a decreta ante praevisa merita,  antes de prever os méritos do homem: de maneira absoluta e independente, o Criador determina levar tal e tal criatura à glória eterna e, por conseguinte, conferir-lhe os meios necessários para que a alcance. Em conseqüência desta predestinação é que o homem produzirá atos meritórios no decorrer da sua vida; estes são gratuitos dons de Deus; não desencadeiam o amor divino, mas, ao contrário, são desencadeados pelo liberal beneplácito do Senhor.
Nos séculos XVII/XIX alguns teólogos procuraram sistemas intermediários, conciliatórios entre o tomismo e o molinismo; recaíram, porém, indiretamente neste ou naquele. De fato, os dois sistemas são irredutíveis um ao outro. Quando foram pela primeira vez propostos na história, o Papa Clemente VIII instituiu em Roma uma Comissão ou Congregação dita “de autxiliis” (“concernente aos auxílios da graça”) a fim de os julgar. As sessões da Congregação prolongaram-se de 2 de janeiro de 1958 a 20 de agosto de 1607, tendo os Soberanos Pontífices tomado parte pessoal nos estudos respectivos. Finalmente o Papa Paulo V resolveu suspender o exame da questão, declarando lícito ensinar qualquer dos dois sistemas, pois nenhum deles envolve heresia (um é outro salvaguardam suficientemente a soberana ação de Deus e o livre arbítrio do homem, embora o tomismo mais acentue aquela e o molinismo mais realce a este). O Papa bento XIV confirmou esta decisão em um decreto de 13 de julho de 1748.
Fica, portanto, aos teólogos e fiéis católicos a liberdade de optar entre as duas teorias acima propostas. O católico tanto pode ser tomista como pode ser molinista; a ação do Espírito Santo em sua alma, a sua conaturalidade com as coisas de Deus lhe sugerirão a atitude a tomar.
Há, porém, três pontos atinentes à doutrina estudada sobre os quais a Santa Igreja se pronunciou definitivamente, de sorte que tanto molinistas como tomistas os professam indistintamente:
1) a conversão do pecador a Deus, ou seja, o ato inicial da via da salvação já é efeito da graça de Deus; é Deus quem primeiramente se volta para o pecador e lhe dá os meios de se colocar em estado de graça; não é o homem quem por suas forças naturais começa a procurar o Senhor, recebendo d’Este em resposta a graça sobrenatural;
2) a perseverança final ou a morte em estado de graça (a boa morte) é dom especial de Deus: não decorre dos mártires anteriores da pessoa, mas pode ser implorada pela oração;
3) a predestinação “adequada” (isto é, o desígnio que compreende todos os auxílios sobrenaturais, desde a graça da conversão até a graça da boa morte) é gratuita ou anterior à previsão dos méritos da criatura. E isto, tanto no tomismo como no molinismo… Também este reconhece que é Deus quem gratuitamente decreta colocar o homem em tais e tais circunstâncias nas quais Ele prevê que a criatura fará bom uso da graça (o tomismo diria:… nas quais Ele predetermina a criatura a fazer livremente bom o uso da graça).
As três proposições acima foram definidas por concílios, cujas declarações se encontram em Denziger-Umberg, Enchiridion Symbolorum 176-180; 183-189, 191-193;200.
III. Um juízo sobre a questão
1. A muitos fiéis impressiona o fato de que Deus predestina positivamente alguns para a glória celeste, deixando que outros se percam – fato firmemente atestado pela Sagrada Escritura e pela Tradição cristã. Perguntam se não haveria nisto injustiça da parte do Senhor.
– Não; em absoluto. Considere-se que
a) Deus a ninguém criou com destino positivo para a perdição ou a condenação.
Leia também: Predestinação: o que é?
Destino e predestinação
Ensinavam o concílio de Valença (França) em 855: “In malis ipsorum malitiam (Deus) praescivisse, quia ex ipsis est, non praedestinasse, quia ex illo non est. – Deus viu de ante-mão a malícia dos maus, porque provém deles, mas não a predestinou, porque não se deriva d’Ele” (Dz 322).
Foi condenada pelo episcopado da Gália no séc. V a seguinte proposição: “Cristo, Senhor e Salvador nosso, não morreu pela salvação de todos…; a presciência de Deus impele o homem violentamente para a morte; e todo aquele que se perde, perde-se por vontade de Deus…; alguns são destinados à morte, outros predestinados à vida” (carta de Fausto de Riez, ed. Migne lat. T. 53,683).
Outras declarações da Igreja se encontram em Dz 200; 316-318; 321-323; 514; 816; 827.
b) Deus, porém, criou seres finitos (só pode haver um Infinito, Deus), aos quais é inerente a falibilidade, o “poder errar”.
c) Esta falibilidade, sendo congênita, naturalmente tende a se atuar num ou noutro. Deus concede, sim, a qualquer indivíduo humano os meios necessários para que se salve pois quer a salvação de todos os homens (cf. 1 Tim 2,4); isto é doutrina freqüentemente afirmada pela Escritura e a Tradição (cf. Dz 318); nenhum desses meios de salvação, porém, força a liberdade humana; esta é sempre respeitada por Deus.
d) Por conseguinte, a menos que o Criador intervenha extraordinariamente, algumas criaturas, em virtude da sua falibilidade natural, se encaminham para a ruína eterna; o Criador não lhes faz injustiça se permite que se percam, apesar de terem os meios necessários para não se perderem.
e) Dado, porém, que Deus se empenhe infalivelmente pela salvação de alguns (muito ou poucos) homens, predestinando-os à glória eterna, Ele faz ato de pura misericórdia beneficia gratuitamente a estes, sem lesar em absoluto aos outros, que, por sua natural falibilidade e apesar dos auxílios divinos, se perdem (cf. a parábola dos operários na vinha, comentado em “Pergunte e Responderemos” 1/1958 qu. 8).
O concílio de Quierzy na Gália em 853 declarava: “Quod quidam salvantur, salvantis est donum; quod autem pereunt, pereuntilum est meritum. – O fato de que alguns se salvam, deve-se a um dom d’Aquele que os salva; o fato de que outros se perdem, deve-se ao mérito (mérito mau ou demérito) dos que se perdem” (Dz 318).
Deus, no caso de uns, manifesta sua Bondade transcendente; no caso de outros patenteia sua Justiça; em todo e qualquer caso, porém, faz reluzir sua soberana Liberdade, a qual não pode ser necessitada por bem algum criado, pois ela é o princípio e a causa de qualquer bem: “Que é que te distingue dos outros? E que tens que não hajas recebido? E, se o recebeste, porque te vanglorias como se não o tivesses recebido?” (1 Cor 4,7).
A predestinação, portanto, não implica injustiça em Deus; não deixa, porém, de constituir um mistério, mistério porque, com nosso intelecto finito, não vemos plenamente como em Deus se conciliam Justiça, Misericórdia e Liberdade, embora não nos seja plausível duvidar de que de fato se associam em estupenda harmonia (na visão face a face de Deus, no céu, contemplaremos a sábia combinação dos atributos divinos). – Em particular, não podemos assinalar motivo por que Deus escolhe tal homem para a glória, e não tal outro, por que escolheu Pedro e não Judas; lembremo-nos de que não são os méritos do homem que a este atraem o amor de Deus, mas é o amor antecipado de Deus que proporciona à criatura os respectivos méritos Sto. Agostinho admoestava: “Quare hunc trahat (Deus) et ilum non trahat, noli velle diiundicare, si non vis errare. – Porque é que Deus atrai a este e não aquele, não queiras investigar, se não queres errar” (In Io tr. 26 init.). Ante os desígnios do Criador, tome a criatura uma atitude de silêncio reverente; confie em Deus, cuja sabedoria e santidade certamente ultrapassam as de qualquer ser humano.
2. A luz dos procedentes, vê-se que sentido tem a frase de São Paulo: “Deus quer que todos os homens sejam salvos” (1 Tim 2,4). São Tomas (I Sent. D. 46, q. 1, a.1) a distingue nos termos seguintes:
a) Deus quer que se salvem todos os homens, enquanto os considera em si, como criaturas capazes de apreender a vida eterna, abstração feita das circunstâncias particulares em que tal ou tal homem se possa encontrar; deus a ninguém criou senão para a vida eterna;
b) O Criador, porém, não pode (não pode, por causa de sua Justiça) querer que todos se salvem, se considera cada um nas circunstâncias precisas em que ocorre ao Divino Juiz; alguns, com efeito, se Lhe apresentam como criaturas que deliberadamente rejeitam ser salvas ou recusam estar com Deus, pois se rebelaram conscientemente (por um pecado grave) contra Ele e permanecem impenitentes ou apegados ao pecado; o Senhor respeita o alvitre de tais homens e, em conseqüência, só pode querer assinalar-lhes a sorte por que optaram (embora tenha feito tudo para se salvarem).
É esta a famosa distinção entre “vontade antecedente” (isto é, que considera seu objeto em si, abstraindo das circunstâncias concretas em que ocorre) e “vontade conseqüente” (isto é, que considera o mesmo na situação precisa em que se acha). S. Tomas ilustra a doutrina lembrando o que se dá com todo juiz justo: este, em tese, antes de examinar as causas judiciárias, quer que todo e qualquer homem permaneça em vida; dado, porém, que se apresente algum homicida, ele não pode (porque é justo) deixar de querer seja punido (e punido com a pena de morte, onde esta é imposta pela lei).
IV. A atitude prática do cristão
O mistério da predestinação dos justos para a glória, embora apresente seus aspectos luminosos, tem suas raízes na insondável Magnificência divina; não podemos sempre assinalar a causa por que Deus outorga tal dom a tal pessoa. A quem o interrogasse a respeito. Ele diria com o Senhor da parábola: “Amigo, não cometo injustiça para contigo… Toma o que te compete, e vai-te… Não tenho o direito de dispor dos meus bens como me agrada? Ou tornar-se-á mau o teu modo de ver pelo fato de que Eu sou bom?” (Mt 20,13-15).
Consciente disto, o cristão não se detém em perscrutar sutilmente o que está acima do seu alcance, preocupando-se com questões curiosas ou vãs atinentes à predestinação. Na orientação da sua conduta cotidiana, tenha o fiel ante os olhos as três seguintes proposições:
1) Deus a ninguém absolutamente faz injustiça, nem no decorrer desta vida nem no momento do juízo final;
2) Muito ao contrário, o Criador se comporta para com todos qual Pai cheio de amor ou como o primeiro Ator empenhado na salvação dos homens.
Lembra o concílio de Trento, retomando palavras de Sto. Agostinho:
“Deus não manda o impossível, mas, dando os seus preceitos. Exorta-te a fazer o que podes e a pedir-lhe a graça para o que não podes, e auxilia-te para que o possas” (Sto Agostinho, de natura et  gratia 43,50; Denziger 804).
Mais ainda:
“Deus não abandona a não ser que primeiro seja abandonado. – Non deserit nisi prius deseratur” (Dz 804).
3) A atitude prática do cristão encontras ótimo modelo em São Paulo:
a) de um lado, o Apóstolo, consciente da eficácia e da responsabilidade do livre arbítrio, lutava qual bom atleta no estádio para conseguir a incorruptível coroa da vida (cf. 1 Cor 9, 24-27). No mistério da predestinação, muita coisa pode ficar oculta ao fiel; contudo nunca lhe restará dúvida sobre o fato de que Deus exige de cada um todo o zelo de que é capaz para chegar à salvação. Nisto se diferencia a doutrina tradicional cristã de qualquer fatalismo ou determinismo: Deus não retira ao homem o dom do livre arbítrio e da responsabilidade própria com que o quis dignificar; nem há força super-humana cega que de antemão torne vãos os esforços da criatura que procura o Criador. Portanto, errado estaria quem, com vistas à vida eterna, tomasse atitude desinteressada e passiva, baseada em raciocínio análogo ao seguinte: “Se tenho que quebrar a cabeça, nada me pode preservar desta desgraça; não importa, pois, que me atire ou deixe de me atirar à rua pela janela do quinto andar da casa”. Ó homem, nada há que determine a tua sorte eterna independentemente do teu livre arbítrio! O decreto pelo qual Deus predestina alguém à salvação eterna, implica sempre que esta será obtida mediante a livre cooperação do homem.
b) De outro lado, São Paulo, o lutador de Cristo, era feliz ao pensar na sua sorte póstuma; assim também o cristão. Para o Apóstolo, morrer equivalia a “dissolver-se para estar com Cristo” (cf. Flp 1,23), “deixar de ser peregrino na terra a fim de viver na casa do Senhor” (cf. 2 Cor 5,8). Todo discípulo de Cristo, embora reconheça a possibilidade de frustrar o seu último fim, tem confiança no Pai do céu e sabe que a procura sincera de Deus na terra não poderá ficar vã junto ao Pai; vive, por conseguinte, em demanda otimista da mansão celeste, consciente de que Deus o chama continuamente a esta após lhe ter preparado os meios para a conseguir. E, firme nesta crença, não permite que hipóteses inconsistentes tomem na sua mente o lugar de verdades seguras.
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 5, Ano 1958, p. 184

Desde quando a Igreja passou a usar o nome Católica?

Vaticano1600x1200O adjetivo católica é anterior ao nascimento da Igreja. Em grego, katholikos quer dizer aquilo que é conforme o todo. Hoje em dia, a palavra equivalente seria holística. De uma forma geral, a tradução para a palavra católica é sempre universal, contudo, o sentido dela é muito mais amplo.cpa_no_cora_o_da_igreja_1
O primeiro documento que contém o adjetivo católica referindo-se à Igreja é uma carta de Santo Inácio de Antioquia endereçada à Igreja de Esmirna, quando ele estava sendo levado para o martírio em Roma. O Bispo de Esmirna era Policarpo, que havia conhecido pessoalmente o Apóstolo João e, para ele, Santo Inácio diz:
Onde comparecer o Bispo aí esteja também a multidão. Da mesma forma que, onde estiver Cristo Jesus aí está também a igreja católica.
Assim, segundo Inácio, a Igreja local está onde está o Bispo e a Igreja católica (universal) está onde está Jesus. Contudo, essa palavra não era usada apenas nesse sentido. São Justino, quando escreveu o Diálogo a Trifão, usou a mesma palavra para referir-se à ressurreição geral, de todas as pessoas, portanto, originalmente, o termo se aplicava à universalidade do número das pessoas, numa imagem da Igreja que acolhe a todos em seu seio com seu abraço amplo.
A partir do século IV, com o surgimento de várias heresias, um outro sentido foi dado à palavra católica. São Cirilo de Jerusalém compara a fé católica com a fé herética, pois, enquanto a primeira aceita a fé como um todo, a segunda escolhe aquilo em que quer acreditar, selecionando o que mais lhe convém e rejeitando os demais conteúdos da fé da Igreja.
Desta forma, a palavra católica passou a designar não somente a Igreja que inclui todas as pessoas em todos os lugares, mas também a Igreja que inclui toda a fé, todos os sacramentos, todo o depósito e tesouro que foi deixado por Jesus Cristo e os Apóstolos. Com isso, a palavra foi sendo incorporada ao Credo como forma de distinguir a Igreja que guardava a fé inteira das seitas heréticas que estavam nascendo e que desprezavam o todo da fé.
Recentemente, houve o acréscimo da palavra romana ao adjetivo ‘católica’. Parece uma contradição dizer que a Igreja é católica, mas também romana, contudo, não o é. Diante do protestantismo, o objetivo disso foi salientar que a Igreja não é inteira, ou seja, católica, se o sucessor de Pedro, o Papa não estiver incluído nela.porquesoucatolico
Assim, a integridade da fé abrange também O fato de que, seja no ocidente, seja no oriente, existe uma ligação com aquele que tem o primado e a jurisdição universal sobre a Igreja de Pedro.
Portanto, a Igreja é una e, por isso, é católica, pois, possui o todo, nada tendo jogado fora. Esta Igreja acolhe a todos que queiram unir-se a Cristo. Em Roma, no túmulo do Apóstolo Pedro está a casa de todos que se deixam abraçar pela Mãe Igreja, Santa, Católica, Romana.

Santos Ponciano e Hipólito



31383_062808_650x420São Hipólito foi um dos escritores mais destacados da Igreja de Roma dos primeiros séculos. Pode ser comparado a Clemente de Alexandria ou Orígenes. Mas por ter escrito suas obras em grego,sua memória ficou bastante diminuída até obscurecer-se quase por completo ao latinizar-se a Igreja ocidental a partir do século IV. Muitas de suas obras perderam-se por esta causa, como seus comentários ao Antigo Testamento, mas ainda se conservam numerosos escritos seus de tipo exegético, apolético ou moral, que compõem um corpo de doutrina sobre os pontos mais importantes da fé católica. Presbítero da Igreja de Roma, entrou em conflito com o Papa Calixto, por pensar que o novo Papa, ao relaxar a legislação demasiado dura sobre o casamento e a penitência, estava abandonando a tradição apostólica. Com este motivo, para justificar sua posição, Hipólito escreveu o tratado sobre “A Tradição Apostólica”, fonte de primeira importância, para conhecermos a Igreja de seu tempo. Alguns pensam que esta postura intransigente o levou até o cisma. Ano mais tarde, ao ser assassinado o imperador Severo Alexandre e seu sucessor Maximino reiniciar a perseguição contra os católicos, Hipólito foi desterrado com o Papa Ponciano à ilha insalubre de Sardenha, morrendo assim mártir (+235).
Outros Santos do mesmo dia: São Cassiano de Ímola, São Simpliciano, Santa Raqdegundes, São Máximo Confessor, São Vigueberto, Santo Nerses Glaietsi, São Benildo Romancon, Santa Concórdia, Santos Félix e Fortunato, São João Berchmans, Beato Guilherme Freeman, Beato Novelono, Beata Gertudres de Attenberg, Beato João de Alverne, Beatos Felipe de Jesus e 50 Companheiros.

Meus pecados são perdoados na Santa Missa ou preciso ainda confessá-los?



confessionAlgumas pessoas afirmam que não se confessam com um sacerdote, pois pedem perdão dos seus pecados durante as missas, no Ato Penitencial. Entretanto, existe a real obrigação de se apresentar diante de um sacerdote em, ao menos, duas ocasiões.
A primeira, dirigida a todos os católicos que atingiram a idade da razão – definida como sendo aos 07 anos de idade -, indica que todo fiel é obrigado a se confessar pelo menos uma vez ao ano. Essa obrigatoriedade atinge a todos, mesmo que a criança ainda não tenha concluído a catequese ou não tenha feito ainda a primeira comunhão.
A segunda obrigação é dirigida a todos os católicos que se encontram em pecado mortal. O Código de Direito Canônico, em seu cânon 916, afirma que:ospecadosevirtudes
Cân. 916 – Quem está consciente de pecado grave não celebre a missa nem comungue o Corpo Senhor, sem fazer antes a confissão sacramental, a não ser que exista causa grave e não haja oportunidade para se confessar; nesse caso, porém, lembre-se que é obrigado a fazer um ato de contrição perfeita, que inclui o propósito de se confessar quanto antes.
No segundo caso, somente ao apresentar-se diante de um sacerdote e confessar seu pecado é que o fiel estará apto a novamente comungar o Corpo de Cristo. O Código também é bastante claro quanto a isso:
Cân. 960 – A confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo ordinário com o qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja; somente a impossibilidade física ou moral escusa de tal confissão; neste caso, pode haver a reconciliação também por outros modos.
Assim, se vê que existe uma íntima relação entre a confissão e a Eucaristia. O Catecismo da Igreja Católica chama a atenção para o caráter preventivo da confissão e da Eucaristia diante dos pecados:
Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia nos preserva dos pecados mortais futuros. Quando mais participarmos da vida de Cristo e quanto mais progredirmos em sua amizade, tanto mais difícil de ele separar-nos pelo pecado mortal. A Eucaristia não é destinada a perdoar pecados mortais. Isso é próprio do sacramento da reconciliação. É próprio da Eucaristia ser o sacramento daqueles que estão na comunhão plena da Igreja. (CIC, 1395)
A Eucaristia é o sacramento de quem está em comunhão com Deus. Portanto, antes de comungar, quem não está em comunhão, deve procurar um sacerdote e, por meio do sacramento da reconciliação, voltar à comunhão plena. As novas teologias, que afirmam ter a Eucaristia o poder de perdoar os pecados mortais, afastam-se não só da doutrina do Código de Direito Canônico e do Catecismo, mas da Igreja de dois mil anos.comoconfessar
Outros pensadores apresentam a mesa da Eucaristia como sendo uma mesa aberta para todo tipo de pecador público, demonstrando com isso uma tolerância que, no final, se transformará em falta de caridade. Sim, porque ao não mostrar claramente ao pecador o quanto o seu pecado ofende a Deus e o afasta Dele, não apresentando uma pena, um remédio para o seu pecado mortal, aquele pecador não quererá mudar de vida, converter-se.
Para o próprio bem do pecador, a Igreja disciplina o afastamento deste da mesa da Eucaristia, para que, tendo a noção da gravidade desse afastamento, reconcilie-se com Deus e com a Igreja por meio do sacramento da confissão.
Fonte: A RESPOSTA CATÓLICA – Padre Paulo Ricardo