terça-feira, 10 de junho de 2014

Pedir, por quê?



homem_rezandoSabemos que precisamos pedir…
Você, como todos os cristãos, pede coisas a Deus, para si e para outros. Faz bem. Mais ainda, quando pede está fazendo uma coisa que Cristo deseja. Não lembra quantas vezes Ele nos mandou, de maneira até insistente, que fizéssemos oração de petição?
Baste recordar, neste sentido, o Pai-Nosso, com toda a sua sequência de pedidos (o pão de cada dia, o perdão das nossas ofensas, o socorro na tentação, a libertação do mal); e também as afirmações categóricas do Senhor sobre a importância de pedir, como: Eu vos digo: pedi, e vos será dado; buscai e achareis; batei, e vos abrirão (Lc 11,9). Pedi e recebeis, para que a vossa alegria seja completa (Jo 16,24).
Nós pedimos, e achamos lógico fazer assim, porque temos consciência de que precisamos da graça, das bênçãos e dos dons de Deus. Sobre isso não há a menos dúvida, pois toda dádiva boa e todo o dom perfeito – como escreve São Tiago – vêm de cima: descem do Pai das luzes, no qual não há mudança nem mesmo aparência de instabilidade (Tg 1,17).
Objeções à oração de petição
Mas você sabe que, não poucas vezes, alguns cristãos dizem que não entendem por que devemos pedir. Todos cremos – comentam – que Deus é um Pai que nos ama e que, como diz Jesus, sabe o que vos é necessário, antes mesmo que vós o peçais? (Mt 6,8). Então, por que pedir – perguntam -, se Ele já sabe de antemão o que precisamos, e é bom, e é todo-poderoso e quer o nosso bem…?
Além disso, acrescentam: Se, como diz São Tiago, em Deus não há mudanças nem instabilidade, não será pretensão nossa esperar que “mude”, por causa da nossa oração, e nos conceda o que nós – e não Ele – desejamos? Não seria mais perfeito dizer simplesmente Seja feita a vossa vontade? E alguns concluem, então: Por isso eu não peço nada, só agradeço e me abandono em Deus? (atitude que, seja dito de passagem, também adotaram grandes santos, durante algumas temporadas – inspirados por Deus -, e só depois de terem feito e de fazerem depois uma intensa e contínua oração de petição).
Tudo o que essas pessoas dizem sobre a bondade, o poder e a ciência de Deus é verdade, mas as conclusões que tiram não estão certas. Em todo o caso, não há dúvida de que estão colocando um problema difícil: Como combinar essas verdades sobre a bondade e a ciência de Deus com o fato de que o próprio Deus mande pedir, e pedir sem cansaço: É necessário rezar sempre, sem esmorecer (Lc 18,1)?
Seria absurdo achar que fomos nós, agora, os que “descobrimos” essa aparente contradição. Já foi descoberta há muitos séculos pelos antigos cristãos, e os dois maiores teólogos católicos, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, estudaram a questão amplamente e chegaram a idênticas conclusões.
Como eles dizem (e eu apenas vou resumir), é verdade que nós não precisamos de rezar para “informar” Deus sobre as nossas necessidades, porque Ele já as conhece muito bem; e também é verdade que seria absurdo pretender “dobrar” Deus, fazendo com que mude” a sua vontade, e se deixe “dominar” pela nossa.
Então, por que devemos pedir? A resposta a isso é dupla, e cheia de sentido para quem tiver a perspectiva da fé. É importante, sobretudo, para a nossa vida prática, a fim de compreendermos que nunca devemos relegar a oração de petição para um segundo plano, antes devemos considerá-la sempre uma necessidade espiritual básica, uma parte essencial da vida interior do cristão.
Retirado do livro: “Para estar com Deus”, Francisco Faus
FAUS, Francisco. Para estar com Deus.Ed.Cultor de livros: São Paulo,2012.

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