Na leitura de hoje, vemos que Cristo nos liberta do medo. Como as
enfermidades, os temores podem ser agudos ou crônicos.Os medos agudos são determinados por uma situação de
perigo extraordinário. Como surgem de improviso, assim desaparecem com o cessar
do perigo, deixando apenas uma má recordação. Não dependem de nós e são
naturais.
Mais perigosos são os medos crônicos, os que vivem
conosco, os quais levamos desde o nascimento ou a infância, pois se tornam
parte de nosso ser e, por vezes, acabamos até os “acariciando”.
Jesus
deu um nome às ansiedades mais comuns do homem: “Que
vamos comer? Que vamos beber? Com que vamos nos vestir?” (Mt 6,31). A ansiedade converteu-se na
enfermidade do século e é uma das causas principais da multiplicação dos
infartos.
Vivemos na ansiedade, no medo irracional do desconhecido.
Temer sempre, esperar, sistematicamente, o pior e viver sempre numa palpitação.
Se o perigo não existe, a ansiedade o inventa; se existe, agiganta-o.
A pessoa
ansiosa sofre sempre duas vezes: primeiro, na previsão; depois, na realidade. O
que Jesus, no Evangelho, condena não é tanto o simples temor ou a justa
solicitude pelo amanhã, mas, precisamente, a ansiedade e a inquietude. “Não
vos preocupeis - diz - com o amanhã. A cada dia se basta com seu próprio
mal”.
O
remédio para nossas inseguranças se resume em uma palavra: confiança. Confiar
em Deus, crer na providência e no amor do Pai celeste. “Quanto
a vós, até os vossos cabelos da cabeça estão contados. Vós valeis mais que
muitos pardais”. A
verdadeira raiz de todos os temores é o de encontrar-se só. Esse contínuo medo
da criança de ser abandonada.
Jesus
nos assegura justamente isso: não seremos abandonados. “Se
minha mãe e meu pai me abandonam, o Senhor me acolherá” (Salmo 27,10). Ainda que todos nos
abandonem, Ele não o fará. Seu amor é mais forte que tudo.
O Senhor quer nos libertar dos temores, mas Ele não tem
um só modo para fazê-lo, mas dois. Ele nos tira o medo do coração ou nos ajuda
a vivê-lo de maneira nova, mais livre, fazendo disso uma ocasião de graça para
nós e para os demais.
Deus mesmo quis fazer essa experiência. No Horto das
Oliveiras, está escrito que Ele experimentou a tristeza e a angústia. O texto
original sugere a ideia de um terror solitário, como de quem se sente isolado
do consórcio humano, numa solidão imensa. Ele as quis experimentar precisamente
para redimir também este aspecto da condição humana. Desde aquele dia, vivido
em união com Ele, o medo – especialmente o da morte – tem o poder de nos
levantar em vez de nos deprimir, de nos fazer mais atentos aos demais, mais
compreensivos. Em uma palavra: mais humanos.
Jesus Cristo está comigo. A quem temerei? Assaltem-me as
vagas e a cólera dos grandes: tudo isso não vale, sequer, o peso de uma teia de
aranha, porque Ele está comigo e o Seu báculo me enche de confiança.
Padre Bantu Mendonça
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