Em
síntese: A corrente filosófico-religiosa “Nova Era” é um amálgama de
esoterismo, hinduísmo (com panteísmo e reencarnação), holismo,
comunicação com os mortos, medicina alternativa, gnosticismo e também
Cristianismo. Carece de nítida estrutura de pensamento, como também de
um governo central. Tem-se expandido notavelmente, porque parece
conciliar entre si modos diversos de pensar e agir. Pode-se dizer que
Nova Era é a expressão da insatisfação do homem moderno, que experimenta
o vazio causado pelo materialismo e as rápidas mudanças da sociedade
contemporânea. Os adeptos da Nova Era recusam o que o mundo atual lhes
oferece, mas nada de positivo têm a pôr no lugar dos valores
tradicionais, pois as mensagens do esoterismo, do channeling, da
ufologia, da gnose (…) são altamente fantasiosas e subjetivas; as
emoções e os sentimentos prevalecem sobre a lógica e o raciocínio. – Aos
fiéis católicos compete responder ao desafio de Nova Era mediante a
transmissão integral e convicta da mensagem cristã guardada na Igreja
Católica; saibam associar palavra e conduta de vida, pois o homem
moderno se interessa grandemente pela coerência e sinceridade com que os
fiéis vivem sua crença religiosa.
A corrente filosófico-religiosa dita
“Nova Era” está sempre em foco, suscitando novas e novas interrogações.
Em 1993, foi publicado em português o volume “Compreendendo a Nova Era”,
da autoria de Russell Chandler, escritor-jornalista do Los Angeles
Times.¹ Impressionado pelo movimento religioso norte-americano, R.
Chandler resolveu pedir oito meses de licença ao seu jornal para estudar
a fundo o fenômeno “Nova Era”. Aproveitou então esse tempo para fazer
uma pesquisa extensa e profunda, entrevistando pessoas, lendo obras,
assistindo a palestras …, que lhe permitiram escrever o volume em pauta.
– Realmente, a obra de R. Chandler fornece informações múltiplas e
preciosas sobre a Nova Era. Eis a razão pela qual a utilizaremos nas
páginas subsequentes para abordar o assunto já considerado em PR
379/1993, 554-572. Dada a atualidade do tema e o interesse dos leitores
por claras notícias a respeito, pode-se Ter como oportuna mais uma
apresentação do assunto enriquecida por dados novos.
Começaremos por perguntar:
QUE É A “NOVA ERA”?
O autor assim abre o seu capítulo 1:
“Desencorajador! Este foi o adjetivo que
demos a um imenso quebra-cabeça que escolhemos, certo feriado, dentro
do armário cheio de jogos (…)
Quando, no verão de 1987, planejei
escrever um livro que fizesse sentido acerca do amorfo movimento da Nova
Era, isso também pareceu-me uma tarefa desencorajadora. Havia tantas
peças e pedacinhos. Havia fronteiras incertas. Havia sempre novas
esferas de atividade. Havia um elenco giratório de personagens (…)
Apesar de estar tão em moda, é muito
difícil definir a Nova Era, pois suas fronteiras são imprecisas.
Trata-se de um caleidoscópio sempre em mutação de “crenças, hábitos
adquiridos e rituais”, conforme a revista Time observou com razão em seu
artigo de fundo da edição de 7 de dezembro de 1987, New Age Harmonies”
(pp. 15-17).
O autor assim esboça o que seja Nova
Era: é um amálgama ou uma confluência de várias correntes de pensamento
heterogêneas, que têm ao menos um fio condutor comum: a recusa, um tanto
confusa e irracional, do pensamento e dos valores convencionais, em
favor de certas posturas teóricas e práticas novas (novas, porque
“provenientes do além” ou do aprofundamento de elementos misteriosos).
Daí a expressão “Nova Era”. Mais precisamente: estaríamos na transição
da Era de Peixes (era colocado sob o signo de peixes) para a Era de
Aquário ou Aguadeiro (jovem que traz um cântaro de água que ele vai
derramar em sinal de bênção, conforme o Zodíaco e a Astrologia).
E quais seriam os elementos que confluem na Nova Era? – Podemos recensear sete deles.
O Pensamento Hindu
Predomina nas expressões da Nova Era o
hinduísmo, muito voltado para a mística e o invisível – o que
corresponde a um anseio do homem ocidental; vários mestres budistas têm
feito escola no Ocidente, como também muitos cidadãos ocidentais têm ido
procurar na Índia alguma resposta para as suas aspirações.
O hinduísmo tem duas grandes notas
características: o panteísmo e o reencarnacionismo. O panteísmo
identifica a divindade, o homem e o mundo entre si. Essa identificação
condiz bem com o holismo, concepção filosófica subjacente e muitas teses
da Nova Era: holon, em grego, significa todo a Nova Era entende que
todas as coisas formam um só todo (holon). Este princípio retorna
frequentemente nos escritos da Nova Era:
“O antigo paradigma que divide, separa e
analisa, precisa de ser descartado – até mesmo apagado de forma
terminante – para que seja aberto espaço para a nossa suposta unidade
entre a realidade e o divino. Tudo é Uno; Deus é Tudo, e Tudo é Deus. A
humanidade é endeusada, a morte é negada, e a ignorância – e não o mal –
passa a ser o inimigo” (p. 37).
A crença na reencarnação é corolário
lógico do panteísmo: se não há Deus distinto do homem e Salvador, é a
própria criatura que se deve salvar… e ela o faz mediante duas ou mais
encarnações, necessárias para que se desvincule totalmente do apego das
paixões.
A Comunicação com os Mortos
Chama-se, na Nova Era, “canalização” a comunicação com os mortos; os
médiuns são “canalizadores” ou “canais”. Estes põem-se em transe para
poder entrar em contato, como dizem, “com algum espírito, mestre
desencarnado, habitante de outro planeta ou mesmo com alguma entidade
animal altamente evoluída” (p. 99).
As canalizações incluem a psicografia;
poesia e peças musicais são assim captadas do “fundo mental” dos
mestres, como dizem. – Entre os canais de grande renome está o
brasileiro Luiz Antônio Gasparetto, que dirige um Centro Espírita para
os pobres em São Paulo e leva ao ar um programa semanal de televisão,
durante o qual diz receber cinquenta artistas, “mestres antigos”:
Renoir, Picasso, Goya, Van Gogh e Toulouse-Lautrec… Estes misturariam as
tintas, as poriam nas mãos de Gasparetto, movimentariam rapidamente os
seus braços e mãos sobre o papel ou a tela … É também canal de grande
fama o pastor protestante Neville Rowe, engenheiro eletricista formado,
que serve de canal para Golfinhos e também para Soli, um habitante de
planeta distante das Plêiades!
Nossa Senhora do Rosário estaria falando
através de Verônica Leuken, uma católica ultra-tradicionalista. A
Virgem SS. Teria revelado que o Pe. Teilhard de Chardin S. J. (+ 1955)
se acha no inferno e que o presidente John Kennedy está no purgatório
“por não Ter manuseado direito a crise dos mísseis em Cuba” (p. 102).
“Os protestante conservadores geralmente
identificam as entidades canalizadas com maus espíritos ou demônios. De
acordo com este ponto de vista, as entidades são reais, mas mentem para
as pessoas” (p. 105).
Há, porém, quem julgue que “os médiuns
estão ludibriando propositalmente os seus clientes, a fim de obterem
fama ou lucro ou ambas as coisas”” (p. 106).
Objetos Voadores e Inteligências Extra-Terrestres
É parte integrante do amálgama da Nova Era a aceitação de discos voadores (OVNI) e de seres extra-terrestres (Ets).
“Os americanos são desesperadamente
curiosos de coisas como os objetos voadores não identificados (OVNI) e
as Inteligências Extra-terrestres (IETs)” (p. 110).
Um médium da Nova Era, Darryl Anka,
“afirma que foi o primeiro a detectar Bashar, um ser extra-terrestre
proveniente da constelação de Órion, quando ele (Anka) e alguns amigos
puderam ser fisicamente, em plena luz do dia, de perto, a nave de Bashar
sobre Los Angeles” (p. 111).
“Ruth Norman, de oitenta e seis anos de
idade, a quem o People’s Weekly chamou “a grande dama dos espíritos da
Nova Era”, é proprietária de sessenta e sete acres nas imediações de San
Diego da Califórnia, onde, no ano de 1002, ela espera que aterrissem
trinta e três espaçonaves interligadas, cada qual trazendo mil
habitantes de outros planetas, inaugurando assim a era de UNARIUS
(Universal Articulate Interdimensional understanding of Science)”
(People Weekly, 26/01/1987, p. 31).
“No livro Out on a Limb, Shirley
MacLaine “vê” veículos cheios de seres extraterrestres. Esses estariam
mencionados no livro do Êxodo, quando “o povo hebreu saiu do Egito e
atravessou o Mar Vermelho” (14,19-22); e também percebe uma espaçonave
na visão das rodas do profeta Ezequiel (Ez 1-10)” (p. 111).
“Uma pesquisa da Gallup, feita em 1987,
mostrou que 50% dos americanos acreditam na existência de discos
voadores – a mesma proporção dos que crêem que os seres extraterrestres
são reais – e uma em cada dez pessoas disseram que já tinham visto algo
que pensavam ser algum OVNI” (p. 112).
“Os filmes de Stephen Spielberg, como E.
T. e Encontros do Terceiro Grau têm fomentado a chamada ufologia
(estudo sobre os objetos voadores não identificados), onde os visitantes
do espaço exterior são sempre tipos amigáveis, sábios e benévolos.
Mas os relatos de seres malévolos também
têm aparecido aos montões. O livro Communion, do escritor de fantasias
Whitley Strieber, esteve entre os títulos mais vendidos no verão de
1987. A sinistra estória, que Strieber insiste ser veraz, é seu relato
de Ter sido sequestrado para o interior de uma espaçonave por uma horda
de alienígenas com 90 cm de altura” (p. 112).
George King, o inglês que é a luz
orientadora da Sociedade Aetherius, sediada em Los Angeles, afirma ter
entrado em contato com o “Mestre Jesus” e com uma multidão de
inteligências espaciais. E prediz que um “Novo Mestre” virá “em breve e
publicamente em um disco voador” (p. 115).
“Também há o culto Bo and peep, algumas
vezes chamados de “Os Dois”. Em meados da década de 1970, essa
misteriosa dupla proclamou que, para escaparem da vindoura catástrofe,
os crentes precisavam vender tudo, abandonar seus familiares e amigos e
não se desgrudar de Bo and Peep, até que espaçonaves, descendo à Terra,
sugassem-nos todos para a segurança em um redemoinho astral” (p. 115).
“Alguns grupos protestantes
conservadores acreditam que os contatos com os OVNIs com as IETs são
causados pela atividade demoníaca (a mesma explicação que oferecem
quanto às entidades canalizadas) – aquilo a que o observador de seitas,
David Fetcho, se referiu, ao falar em espíritos demoníacos que obtiveram
o poder de realizar materializações reais no terreno físico” (p. 117).
Medicina Alternativa
A Nova Era fala de “saúde holística”, ou
seja, a saúde que envolve todo o homem em seus aspectos físico e
espiritual. O pressuposto aquariano do holismo aplica-se também a este
setor, e leva a crer as doenças têm fundo psíquico, devendo-se a falso
acúmulo de energias; consequentemente, podem ser curadas pela sugestão,
por placebos e pela emissão de energias saudáveis.
“De acordo com a medicina oriental, a
dor é entendida não como um sintoma, mas como um acúmulo de energia em
algum local do corpo, energia essa que, se for corretamente
redistribuída, poderá restaurar a saúde e equilibrar hamonicamente o
corpo. A energia – energia psíquica – corrige ou equilibra as
incorreções orgânicas” (p. 206s).
“A acupuntura e suas terapias correlatas
da acupressão (shiatsu) e da reflexoterapia também fazem uso da crença
de que o fluxo da energia pode ser redirecionado para que haja um
equilíbrio de energias curativas, ou mediante a inserção de agulhas
(acupuntura) ou por meio da aplicação de pressão (acupressão e
reflexoterapia) a pontos específicos do corpo” (p. 207).
Além disso, várias outras táticas são aplicadas pela medicina holística:
- a reflexoterapia, que, efetuando
massagens sobre pontos precisos dos pés, produz rápido alívio nas partes
do corpo em que isto se faça necessário;
- a iridologia ou diagnóstico da íris: o
olho, sendo o espelho da alma, a observação da íris pode detectar o que
está errado na vesícula biliar ou em qualquer outro órgão do corpo;
- a leitura da aura ou dos campos
coloridos eletromagnéticos etéreos que circundam o corpo humano; disto
se segue a massagem correta, a terapia pelos aromas, pelas cores, pelos
cristais, pelas vestes … destinados a restaurar a vibração correta do
organismo;
- a ioga, a massagem do Rolfing pretendem expelir as energias negativas acumuladas no corpo físico;
- vitaminas, sais minerais, dieta
vegetariana, remédios homeopáticos “formam raios adicionais da bem
azeitada roda holística da saúde. Essa revolução tem produzido para a
nação norte-americana mais de seis mil lojas naturais, com vendas
calculadas em três bilhões e trezentos milhões de dólares somente no ano
de 1987″ (p. 209);
- a cirurgia psíquica ou por “médicos do espaço! Também é praticada;
- o recurso aos placebos ou ingredientes neutros, que sugestionam o paciente para que se sinta melhor ou curado:
“O Dr. Wayne Oates, professor e autor,
publicou os resultados de treze estudos sobre pacientes onde um grupo de
pacientes com dores crônicas recebeu apenas pílulas açucaradas,
enquanto outro grupo recebia medicação para aliviar as dores. Trinta e
cinco
por cento dos pacientes que não tomaram remédios, tiveram um alívio de,
pelo menos, metade da dor, porquanto tinham acreditado que estavam
recebendo os medicamentos certos” (p. 212).
por Russell Chandler
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 384 – Ano 1994 – p. 194