Os títulos pelos quais podemos chamar Nossa Senhora de Rainha, são os mesmos de Cristo.
Na ordem sobrenatural a graça coloca
Maria tão acima de toda criatura, que não pode deixar de ser a Rainha
natural do mundo (incluídos homens e Anjos)
A isto, porém, deve se acrescentar, como
sempre, o título jurídico de sua maternidade, fonte de todas suas
prerrogativas e funções. Maria é a Mãe do Rei e deve desfrutar das
honras de Rainha-Mãe.
E ainda nos deteremos numa ideia: Cristo é Rei graças a Maria.
A arte medieval e, sobretudo, a
bizantina, apresenta as figuras do Criador e do Pai com o atributo real
da coroa. Com isso significa o poder. Porém, temos ouvido que se diga
alguma vez: o Pai, Rei, o Filho ou o Espírito Santo Reis? Não. Este
título se reservou a Cristo.
Por que? Porque é um absurdo jurídico
ser rei de um país sem participar de sua nacionalidade. É certo que, por
exceção, foram eleitos monarcas oriundos do estrangeiro, mas todos eles
se nacionalizaram previamente no país em que haviam de reinar. Para ser
rei dos espanhóis há que ser espanhol, para sê-lo dos franceses cumpre
ser francês. Para ser rei dos homens, há que ser homem. Por isso não se
diz nunca do Espírito Santo que seja Rei, e o mesmo Verbo necessitou
fazer-se homem e chamar-se Cristo – nome do Verbo humanado – para
receber tal título.
Ora Maria é a fonte da humanidade de
Cristo, logo a Ela se deve o fato de uma das condições necessárias para o
reinado de Cristo. (…)
Rainha por direito de conquista
Recordemos o segundo título de Cristo. Maria foi associada à Redenção.
A beatíssima Virgem foi tomada para
auxílio na salvação e consorte no reino, pois só Ela compadeceu com Ele.
(…) E, portanto, só Ela obteve o consórcio no reino (cfr. Santo Alberto
Magno, Mariale, resp. ad qq. 26-43)
Se a maternidade divina é o fundamento radical da realeza mariana, sua compaixão é o mérito da mesma.
Pensamento semelhante é o de outro ilustre mariólogo:
Quando ouvimos Jesus prometer a seus
apóstolos de os fazer – porque O seguiram se serviram – poderosos em seu
reino celeste (Mt. XIX, 27-28), pensamos que Aquela da qual Ele
recebeu, do berço à sepultura, do presépio do Calvário, um incomparável
auxílio, em recompensa deve ser o primeiro personagem e a mais alta
influência, depois d’Ele, nos céus. Compreendemos que Ela seja
glorificada e exaltada com Ele, na proporção em que com Ele foi
humilhada e martirizada. (…)
Maria participou estreitissimamente e de
maneira muito especial, nas grandezas e nas humilhações de Jesus
Cristo, para não ser com Ele coroada de glória e de honra, elevada com
Ele acima dos próprios Anjos, partilhando sua soberania, Rainha-Mãe ao
lado do Rei seu Filho.
De estirpe real
O outro título PE ainda a Santíssima Virgem verdadeiramente Rainha: pertence Ela a uma raça de reis. Ouçamos o Pe. Jourdain:
Abundam, neste sentido, os mais
autênticos testemunhos. A começar pelo historiógrafo divino (São Mateus,
I, 1-17): Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de
Abraão. Abraão era rei; foi o que deu origem a uma longa sequência de
monarcas. Depois Isaac e Jacob até David, foram reis de fato embora não
portassem este nome. A partir de David, houve numerosos reis de nome e
de fato: reis escolhidos por Deus e postos por Ele sobre o trono. O
próprio Abraão recebeu o cetro de suas mãos. As seguintes palavras do
Gênese (XII, 2) exprimem bem a transmissão do poder soberano: “Farei
sair de vós um grande povo e Eu o abençoarei. Tornarei vosso nome
célebre e sereis abençoado.”
David e seus sucessores eram reis, não
se o pode contestar. Ora, a Bem-aventurada Virgem Maria descende de
David, como nos diz São Mateus. Ele não é o único a dizê-lo. Isaías
profeta (XI, 1), igualmente o proclama, quando diz: Sairá um rebento do
talo de Jessé, par de David, e uma flor nascerá de sua raiz. O rebento
de Jessé é bem a gloriosíssima Virgem Maria; de sua raiz, quer dizer, de
seu seio virginal, saiu Nosso Senhor Jesus Cristo,era flor divina de
suave e incomparável odor. A Igreja admite esta interpretação, quando,
no Ofício da Anunciação, ela aplica a Jesus e a Maria esse texto do
Profeta. No Ofício da Natividade da Santíssima Virgem, encontramos essas
palavras: “Natividade da gloriosa Virgem Maria, da raça de Abraão,
descendente da trino de Judá e da célebre família de David. E pouco
depois: “Maria, saída de uma raça real, brilha de um grande fulgor”.
Donde podemos concluir, sem receio de engano, que Maria descende do
santo Rei David, que Ela provém da estirpe de Jessé.
E Evangelho conforma os oráculos dos
Profetas e os ensinamentos da Igreja Católica. As duas genealogias de
Nosso Senhor, das quais uma pelo menos é a de Maria, remontam a David e O
fazem descender deste Rei. Ora, não era suficiente, para que Jesus
fosse efetivamente o Filho de David, que José pertencesse a esta
família. Cumpria, sobretudo, e era absolutamente indispensável que Maria
descendesse, como Ele, do Santo Rei, pois somente d’Ela tomou Jesus sua
humanidade, e só Ela Lhe podia transmitir os direitos de David ao mesmo
tempo que seu sangue real.
Na solene cerimônia da proclamação da
Realeza de Maria, no dia 1 de Novembro de 1954, o Papa Pio XII formulou a
seguinte oração (concedendo quinhentos dias de indulgência, todas as
vezes que recitada devotamente).
Das entranhas desta terra de lágrimas,
em que a humanidade sofredora penosamente se arrasta; entre as vagas
deste nosso mar perenemente agitado pelos ventos das paixões, elevamos
os olhos a Vós, ó Maria, Mãe estremecida, para reconfortar-nos
contemplando a vossa glória, e para aclamar-Vos Rainha e Senhora dos
Céus e da Terra, Rainha e Senhora nossa.
Com legítimo orgulho de filhos queremos
exaltar esta vossa realeza e reconhecê-la como a suma excelência de todo
o vosso ser, ó dulcíssima e verdadeira Mãe d’Aquele que é Rei por
direito próprio, por herança, por conquista.
Reinai, ó Mãe e Senhora, mostrando-nos o
caminho da santidade, dirigindo-nos e assistindo-nos, a fim de que dele
não nos afastemos jamais.
Do mesmo modo que exerceis no alto do
Céu o vosso primado sobre as milícias dos Anjos, que Vos aclamam sua
Soberana; sobre as legiões dos Santos, que se deleitam na contemplação
da vossa fúlgida beleza; assim também reinai sobre todo o gênero humano,
particularmente abrindo os caminhos da fé a quantos ainda não conhecem o
vosso Divino Filho.
Reinai sobre a Igreja, que professa e
celebra o vosso domínio e a Vós recorre como a refúgio seguro, em meio
às calamidades dos nossos tempos. Mas reinai especialmente sobre aquela
porção da Igreja que é perseguida e oprimida, dando-lhe a fortaleza para
suportar as adversidades, a constância para não se dobrar sob as
injustas pressões, a luz para não cair nas insídias do inimigo, a
firmeza para resistir aos ataques a descoberto, e em todos os momentos a
inquebrantável fidelidade ao vosso Reino.
Reinai sobre as inteligências, a fim de
que busquem unicamente a verdade; sobre as vontades, a fim de que
procurem somente o bem; sobre os corações, a fim de que amem
exclusivamente o que Vós mesma amais.
Reinai sobre os indivíduos e sobre as
famílias, assim como sobre as sociedades e as nações; sobre as
assembleias dos poderosos, sobre os conselhos dos sábios, do mesmo modo
que sobre as aspirações simples dos humildes.
Reinai nas ruas e nas praças, nas cidades e nas aldeias, nos vales e nos montes, no ar, terra e no mar.
E acatai a piedosa oração de quantos
sabem que o vosso reino é reino de misericórdia, onde toda súplica
encontra acolhida, toda dor conforto, toda desgraça alívio, toda
enfermidade saúde, e onde como que a um simples aceno de vossas
suavíssimas mãos, da própria morte ressurge sorridente a vida.
Concedei-nos que aqueles que agora em
todas as partes do mundo Vos aclamam e reconhecem como Rainha e Senhora,
possam um dia no Céu gozar da plenitude do vosso Reino, na visão de
vosso Filho, que com o Padre e o Espírito Santo vive e reina pelos
séculos dos séculos. Assim seja!
(Documentos Pontifícios, Vozes, 1955, n° 110, pp,. 23-24)
(CLÁ DIAS, JOÃO. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. Artpress. São Paulo, 1997, pp. 433-435)
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