O site Zenit.org
publicou na íntegra as palavras do Santo Padre em sua Audiência geral
desta quarta-feira (28), a qual foi dedicada para falar de sua recente
viagem à Terra Santa. Segue o texto:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nos dias passados, como vocês sabem,
fiz uma peregrinação à Terra Santa. Foi um grande dom para a Igreja e
dou graças a Deus por isso. Ele me guiou naquela Terra abençoada, que
viu a presença histórica de Jesus e onde se verificaram eventos
fundamentais para o judaísmo, o cristianismo e o islã. Desejo renovar a
minha cordial gratidão a Sua Beatitude o Patriarca Fouad Twal, aos
bispos dos vários ritos, aos sacerdotes, aos franciscanos da Custódia da
Terra Santa. Estes franciscanos são bravos! O seu trabalho é belíssimo,
aquilo que eles fazem! O meu grato pensamento vai também às autoridades
jordanianas, israelenses e palestinas, que me acolheram com tanta
cortesia, diria também com amizade, bem como a todos aqueles que
cooperaram para a realização da visita.
1. O escopo principal desta
peregrinação foi comemorar o 50º aniversário do histórico encontro entre
o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras. Aquela foi a primeira vez em
que um Sucessor de Pedro visitou a Terra Santa: Paulo VI inaugurava
assim, durante o Concílio Vaticano II, as viagens fora da Itália dos
Papas na época contemporânea. Aquele gesto profético do Bispo de Roma e
do Patriarca de Constantinopla colocou uma pedra milenar no caminho
sofrido, mas promissor, da unidade de todos os cristãos, que desde então
deu passos relevantes. Por isso, o meu encontro com Sua Santidade
Bartolomeu, amado irmão em Cristo, representou o momento culminante da
visita. Juntos, rezamos no Santo Sepulcro de Jesus, e conosco estavam o
Patriarca Grego-Ortodoxo de Jerusalém, Theophilos III e o Patriarca
Armênio Apostólico Nourthan, além de arcebispos e bispos de diversas
igrejas e comunidades, autoridades civis e muitos fiéis. Naquele lugar
onde ressoou o anúncio da Ressurreição, sentimos toda a amargura e o
sofrimento das divisões que ainda existem entre os discípulos de Cristo;
e realmente isso faz tanto mal, mal ao coração. Ainda estamos
divididos; e naquele lugar onde ressoou justamente o anúncio da
Ressurreição, onde Jesus nos deu a vida, ainda nós estamos um pouco
divididos. Mas, sobretudo, naquela celebração repleta de recíproca
fraternidade, de estima e de afeto, ouvimos forte a voz do Bom Pastor
Ressuscitado que quer fazer de todas as suas ovelhas um único rebanho;
sentimos o desejo de sanar as feridas ainda abertas e prosseguir com
tenacidade o caminho rumo à plena comunhão. Uma vez mais, como fizeram
os Papas precedentes, eu peço perdão por aquilo que fizemos para
favorecer esta divisão, e peço ao Espírito Santo que nos ajude a curar
as feridas que fizemos aos outros irmãos. Todos somos irmãos em Cristo e
com o Patriarca Bartolomeu somos amigos, irmãos, e partilhamos a
vontade de caminhar juntos, fazer tudo aquilo que hoje podemos fazer:
rezar juntos, trabalhar juntos pelo rebanho de Deus, procurar a paz,
proteger a criação, tantas coisas que temos em comum. E como irmãos,
devemos seguir adiante.
2. Outro escopo desta peregrinação
foi encorajar naquela região o caminho rumo à paz, que é ao mesmo tempo
dom de Deus e empenho dos homens. Fiz isso na Jordânia, na Palestina, em
Israel. E o fiz sempre como peregrino, em nome de Deus e do homem,
levando no coração uma grande compaixão pelos filhos daquela Terra que
há muito tempo convivem com a guerra e têm o direito de conhecer
finalmente dias de paz!
Por isto, exortei os fiéis cristãos a
deixarem-se “ungir” com coração aberto e dócil pelo Espírito Santo,
para serem sempre mais capazes de gestos de humildade, de fraternidade e
de reconciliação. O Espírito permite assumir estas atitudes na vida
cotidiana, com pessoas de diversas culturas e religiões, e assim de se
tornar “artífices” da paz. A paz se faz artesanalmente! Não há
indústrias de paz, não. Faz-se a cada dia, artesanalmente, e também com o
coração aberto para que venha o dom de Deus. Por isto exortei os fiéis
cristãos a deixarem-se “ungir”.
Na Jordânia agradeci às autoridades e
ao povo pelo seu empenho no acolhimento de numerosos refugiados
provenientes das zonas de guerra, um empenho humanitário que merece e
requer o apoio constante da Comunidade Internacional. Fiquei
impressionado com a generosidade do povo jordaniano em receber os
refugiados, tantos que fogem da guerra, naquela região. Que o Senhor
abençoe este povo acolhedor, que o abençoe tanto! E nós devemos rezar
para que o Senhor abençoe este acolhimento e pedir a todas as
instituições para ajudarem este povo neste trabalho de acolhimento que
faz. Durante a peregrinação, também em outros lugares encorajei as
autoridades interessadas a prosseguir com os esforços para aliviar as
tensões na área do Oriente Médio, sobretudo na martirizada Síria, bem
como a continuar na busca de uma solução equitativa para o conflito
israelense-palestino. Por isto, convidei o presidente de Israel e o
presidente da Palestina, todos dois homens de paz e artífices de paz, a
virem ao Vaticano para rezarem junto comigo pela paz. E por favor, peço a
vocês que não nos deixem sozinhos: vocês, rezem, rezem muito para que o
Senhor nos dê a paz, nos dê a paz naquela Terra abençoada! Conto com as
vossas orações. Forte, rezem, neste tempo, rezem muito para que venha a
paz.
3. Esta peregrinação à Terra Santa
foi também a ocasião para confirmar na fé as comunidades cristãs, que
sofrem tanto, e exprimir a gratidão de toda a Igreja pela presença dos
cristãos naquela região e em todo o Oriente Médio. Estes nossos irmãos
são corajosas testemunhas de esperança e de caridade, “sal e luz” aquela
Terra. Com suas vidas de fé e de oração e com a apreciada atividade
educativa e assistencial, eles trabalham em favor da reconciliação e do
perdão, contribuindo para o bem comum da sociedade.
Com esta peregrinação, que foi uma
verdadeira graça de Deus, quis levar uma palavra de esperança, mas
também a recebi! Eu a recebi de irmãos e irmãs que esperam “contra toda
esperança” (Rm 4, 18), através de tantos sofrimentos, como aqueles que
fugiram do próprio país por causa dos conflitos; como aqueles tantos
que, em diversas partes do mundo, são discriminados e desprezados por
causa de sua fé em Cristo. Continuemos a estar próximo a eles! Rezemos
por eles e pela paz na Terra Santa e em todo o Oriente Médio. A oração
de toda a Igreja apoia também o caminho rumo à plena unidade entre os
cristãos, para que o mundo creia no amor de Deus que em Jesus Cristo
veio habitar entre nós.
E convido vocês agora a rezarem
juntos, a rezarem juntos à Nossa Senhora, Rainha da paz, Rainha da
unidade entre os cristãos, a Mãe de todos os cristãos: que ela nos dê a
paz, a todo o mundo, e que ela nos acompanhe neste caminho de unidade.
[Ave Maria]
(Trad.:Canção Nova)
Fonte: http://www.zenit.org/pt/articles/audiencia-a-paz-se-faz-artesanalmente-nao-ha-industrias-de-paz
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