sábado, 5 de julho de 2014
Nunca desanimar
O que é que faz desanimar os homens em luta contra o pecado?
Serem obrigados a lutar sempre contra as mesmas dificuldades sem poder humanamente ter nenhuma esperança de sair delas; e voltar a cair por terra, quando já pensavam estar definitivamente de pé, solidamente apoiados em seus pés?
Em ambos os casos esquecem a Onipotência de Deus e seu Poder. O desânimo é um sério obstáculo em nossas vidas, pois ele nos aniquila, nos faz perder tempo, e porque é essencialmente uma falta de confiança, afasta-nos de Deus, nosso Salvador único.
Para o cristão não há nenhuma razão para desânimo.
Você “cozinha sua tristeza” “não tem mais gosto para nada”:
“você vai deixando tudo no mesmo para ver como fica”.
Não acredita mais no esforço “para que lutar?”; “nunca conseguirei”; “é sempre a mesma coisa”.
O desânimo o imobiliza, o paralisa, deixa-o sem reação. Você não é mais dona de sua vida. Você não vive mais!
Você está desanimado? É porque confiava em você mesmo e agora constata dolorosamente que não pode contar consigo.
Se você confiasse em Deus, sofreria com o erro, mas não desanimaria. Porque Deus é tão poderoso e tão amante depois do pecado quanto antes. O desânimo é sempre prova de demasiada confiança em si e de muito pouca confiança em Deus.
Não procure escapar artificialmente às suas dificuldades, aos seus maus hábitos, aos seus pecados inesperados.
“Se eu pudesse não ter feito aquilo”
“Se fosse possível voltar atrás”
“Se eu tivesse que recomeçar”
“Não é normal que eu tenha tantas dificuldades”
“Não é justo”
“E por causa do meu temperamento, nada posso fazer. ”
Se você quiser triunfar do pecado, a primeira atitude é reconhecer o mal que está em você. Não invente desculpas, não fuja, não procure esquecer, negar, porque não é assim que você o destruirá. Aceite a falta de hoje, a tentação de amanhã, a tirania daquele hábito, essas ocasiões de pecado das quais você não pode escapar. Cristo não veio para nos tirar às tentações, nem suprimir as possibilidades de pecar, e sim, para perdoar nossos pecados.
Fique sossegado, os próprios santos não foram dispensados da luta contra o mal. São Paulo escrevia aos romanos: “Não faço o que quero, mas o que odeio… Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero… Quando quero fazer o bem, o mal está ao meu lado. Em meu ser profundo, desejo a lei divina, mas, em meus membros vejo outra lei lutar contra a lei do meu espírito e me tornar prisioneiro da lei do pecado que reside em meus membros. Um miserável, é o que sou! Quem me libertará deste corpo que me arrastaria para a morte?” (Rm 7,15-24).
Aos olhos de Deus, o valor de um homem não se mede pela escassez de suas tentações, pelo pequeno número de suas quedas, nem mesmo pela ausência de pecados materialmente graves, mas, antes, pela sua confiança total da Onipotência do Salvador, por seu amor, e por sua vontade de querer tentar ainda e sempre.
Enquanto restar em você um pouco de abatimento, de tristeza, de vazio na alma, é porque você não crê bastante no perdão do Senhor, porque esse perdão deve trazer-lhe paz, alegria. Quando o filho pródigo volta para casa, o pai quer que todos esqueçam o passado. Dá um banquete para convidar todos à alegria. “Há mais ALEGRIA no céu por um pecador que se arrepende que por noventa e nove justos que perseveram.”
Cristo é severo para o pecado, mas bom para o pecador. Se você for vítima do pecado, o Senhor virá a você para amá-lo mais e salvá-lo. Mistério infinito do amor. Não ofereça resistência e você ficará mais unido ao seu Senhor depois do pecado, do que antes. Assim, toda falta é um aceno; um convite a se oferecer a Cristo Salvador.
Você se sente cada vez mais fraco, a mercê da primeira tentação que aparecer.
Você descobre em si cada vez mais egoísmo e orgulho.
Você vê cada vez com mais lucidez as faltas de amor em sua vida, as hesitações, as recusas. Não desanime, alegre-se, pois o Senhor veio para você. E se você se lançar em seus braços, ele o vai poder perdoar e salvar.
Pois, como é que você quer que Ele o perdoe, se você acha que não tem nada que possa ser perdoado?
Como quer que Ele o salve se você não se entrega para ser salvo?
Não pense que vai conseguir a paz ficando cada vez mais segura de você, de sua vida honesta, de sua imaculada virtude. Essa tranquilidade seria a pior ilusão, porque então você não teria necessidade do Senhor e ficaria só, horrivelmente só e vulnerável sem Ele.
“Não vim para o justo, mas, para o pecador.”
“Vim salvar o que estava perdido.”
“Não são os que têm saúde que precisam de mim, mas, os doentes.”
Desconfie do desânimo especial que originam os pecados contra a castidade. O vazio físico que eles criam, o mal-estar psicológico que os acompanha, a impressão de tirania do instinto todo poderoso, confundem seu julgamento e deformam sua culpabilidade. Os pecados contra a carne não são os mais graves, sim os contra a fé, esperança e caridade.
O hábito limita a sua liberdade e também a sua responsabilidade diante do pecado.
Se o hábito paralisa você com seus laços, você tem que, com perseverança e paciência, reconquistar a sua liberdade. Constatar a sua fraqueza não desanima tanto, se ao mesmo tempo você constata a onipotência de Deus, do amor divino. O amor não lhe faltará nunca, é você que não crê bastante no amor.
É grave continuar no chão depois que se levou o tombo, mas, é ainda mais grave sentar-se à beira da estrada crendo que já se chegou ao fim.
Seus pecados devem recolocar você na linha da verdade de sua fragilidade; eles permitirão que você volte a ser criança e volte a caminhar, desta vez dando a mão ao Pai.
“Ponho o Senhor constantemente diante de meus olhos
E, porque Ele está ao meu lado, não serei abalado.
Por isso meu coração se alegra, e minha alma canta
E, ainda mais, minha carne também repousará em segurança.” (Sl 15).
Michel Quoist
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