Não é fácil falar de Deus. Não é fácil falar daquilo que está tão
distante e é tão misterioso. ”Ninguém jamais viu a Deus”. Pertence a
outra ordem de ser. No entanto, ao mesmo tempo, encontra-se
profundamente envolvido na criação porque é a sua criação e porque
somos suas criaturas. Não encontramos Deus como quem encontra o vizinho
da casa ao lado quando sai de casa a cada manhã. Mas há muitas
maneiras de conhecê-lo.
Quando olhamos para a criação, quando olhamos para nós mesmos e para a
maravilha que é, por exemplo, nosso próprio corpo, experimentamos a
Deus como Criador, aquele que nos tirou do nada e nos ofereceu a vida.
Dizemos então que é Pai exatamente porque o vemos como gerador da vida,
da nossa vida.
Também fizemos memória de Jesus, aquele que nasceu em Belém e que
passou a vida fazendo o bem, curando os enfermos e anunciando o Reino
de Deus; Ele que falava de Deus como seu Papai e que logo morreu na
cruz numa tarde escura de sexta-feira. Lembramos de sua vida e de sua
ressurreição. É o Filho, porque havia algo especial naquele homem que
não nos atrevemos a definir. Sua humanidade era tão grande que nele
vemos a presença de Deus. Recordamos também o tempo posterior a Jesus.
Os Apóstolos e os discípulos sentiram a presença do Espírito de Deus.
Esse Espírito trouxe-lhes inspiração e os animou a anunciar a Boa-Nova
do Reino. Hoje continua inspirando e animando muitos a continuar o
anúncio de salvação para todos.
Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Três formas de ver a realidade? Não.
Há algo mais. Algo nos diz que esse mistério que é Deus é o mistério do
amor e do relacionamento. E que, quando experimentamos a presença de
Deus, nos sentimos chamados a participar desse amor e a compartilhá-lo
com os que estão ao nosso redor.
Viver como Deus é viver amando e é esta a nossa vocação.
DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
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