Padre
Lemaître, cientista de fama mundial e criador da teoria do Big Bang,
respondendo se a ciência é necessária à Igreja afirmou:
“Certamente que não, a cruz e o
evangelho bastam-lhe. Mas ao cristão nada de humano é alheio. Como
poderia a Igreja desinteressar-se da mais nobre das ocupações
estritamente humanas: a busca da verdade?”
Nesta colocação simples, mas profunda, o
sábio jesuíta coloca, como se diz, “os pingos nos is”. Num mundo
dominado pela doutrina materialista, e seu filho mais “nobre”, o
cientificismo, muitos são levados a sacrificar dogmas de fé em nome de
uma suposta busca de harmonia entre ciência e fé.
Cristo fundou a Igreja Católica para anunciar a boa nova da salvação.
Esta é sua missão. Mas como bem lembra o padre Lemaître, o bom cristão
não pode ficar alheio às coisas do mundo. A ciência é uma forma de
resposta ao anseio da busca da verdade, que se revela pela glória do
Criador manisfestada na criação. Este desejo foi colocado por Deus no
coração do homem. Sendo assim, muito interessa à Igreja, e aos cristãos
em especial, a ciência. Entretanto, esta não lhe é necessária. É um algo
mais, um instrumento útil, mas não lhe faz parte da base. Nosso amado
João Paulo II explicou isso dizendo que:“A ciência pode purificar a religião do erro e da superstição. A religião pode purificar a ciência da idolatria e do falso absolutismo”.
Quão inspiradoras as palavras do papa! Se no passado a ciência ajudou a eliminar qualquer traço de misticismo da religião, hoje é a ciência que precisa da religião para se livrar da “idolatria e do falso absolutismo” do cientificismo. Esta doutrina filosófica se mascara de verdade científica e tenta fazer-nos crer que o universo é regido e organizado unicamente por leis físicas e acaso. Não há propósito na criação. Ora, isso é instrumento da ciência, faz parte das hipóteses que a ciência, como método, assume para poder investigar a natureza. Mantendo isto como hipótese de trabalho, como método, não há problema. Entretanto, de forma alguma, isto pode ser estendido para doutrina filosófica, como fazem os cientificistas. Eles, em uma atitude anticientífica, assumem esta postura e negam qualquer direito de posição contrária. Quem se opõe, e muitos cientistas o fazem, é taxado de ignorante, fanático ou fundamentalista.
O que pode ser mais danoso do que um ateu cientificista? Um religioso cientificista! Em busca de tentar harmonizar estas doutrinas materialistas com a fé, algo impossível, abdica-se de dogmas fundamentais. De maneira geral, argumenta-se que não há necessidade de propósito para entender a natureza. Assume-se que Deus fez o universo e suas leis no início dos tempos e, depois, deixou que ele seguisse seus rumos. Previamente pensados e queridos por Ele. Isolar Deus na origem de tudo, deixando o universo seguir só, é uma maneira fácil de evitar qualquer choque entre o cientificismo e a nossa fé. Entretanto, como bem argumenta o cardeal Dulles, não é consistente com a doutrina cristã. Segundo ele, se Deus atuou na história com profetas, se enviou seu Filho para morrer por nós, se o ressuscitou no terceiro dia e realiza tantos milagres até hoje, esta posição não pode ser cristã. De fato, como lembra o cardeal, esta filosofia não é nova. Se chama Deísmo e já foi condenada pela Igreja há muitos séculos.
Atualmente, a postura Deísta é muito comum para tentar conciliar a fé com o darwinismo materialista. A teoria da evolução não é um problema para a fé cristã, mas interpretá-la conforme o deísmo é, pois, como ensina a Igreja, há propósito na criação e Deus atua na história do universo. De modo geral, o que é importante é que fique claro para todo cristão que a ciência é um método para investigar a natureza. Ela não é, em si, uma doutrina filosófica. Quem tenta convencer os outros disto, ou não sabe nada sobre filosofia da ciência, ou está agindo de má fé. Até mesmo cientistas ateus, sérios, não extrapolam as capacidades da ciência. Richard Feynmann, ganhador do Nobel em Física, dizia que a ciência é como observar uma partida de xadrez.
”Não conhecemos as regras, e tudo que
podemos fazer é observá-la. É claro que, se insistirmos na observação,
acabaremos captando algumas das regras, e estas formam a física
fundamental”. Mas acaba aí o papel da ciência, que se limita a observar e
entender as regras.
A missão da Igreja não é científica, e portanto não precisa dela.
Entretanto, reconhece nela um meio de vislumbrar as maravilhas do
Criador e, por isso, caminho válido para a busca da verdade. O uso do
método científico como filosofia, junto com a filosofia materialista,
porém, é considerado grave erro pela Igreja. Os católicos e os
cientistas que têm fé devem unir-se contra o monopólio cientificista da
verdade, para o bem da própria humanidade.Alexandre Zabot
alexandrezabot@gmail.com
www.astro.ufsc.br/zabot
Físico, mestre e doutorando em Física pela UFSC
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