A
profissão de cada um é um meio para se fazer a vontade de Deus no
dia-a-dia. Amar é servir. Viver mal a profissão, trabalhar mal, sem
competência e bom desempenho, é uma forma de desobedecer a vontade de
Deus.
O trabalho foi colocado em nossa vida, por Deus, como “um meio de
santificação”. Depois que o homem pecou no paraíso, e perdeu o “estado
de justiça e santidade” originais; Deus fez do trabalho um “meio de
redenção” para o homem.“Porque escutaste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te proibira de comer, maldito é o solo por causa de ti. Com sofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e cardos e comerás a erva dos campos. Com suor do teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado” (Gen 3,17-19).
Por causa do pecado o trabalho agora é acompanhado do “suor”, mas este sofrimento Deus o fez matéria prima de salvação.
Sem o trabalho do homem não há o pão e o vinho que, na mesa eucarística, se transformam no Corpo e no Sangue de Cristo. Sem o trabalho do homem não teríamos o pão de cada dia na mesa, a roupa, a casa, o transporte, o remédio, a cultura, etc. Tudo que chega a nós é fruto do trabalho de alguém; é por isso que o labor é santo e nos santifica quando realizado com fé, conforme a vontade de Deus.
O mundo não é ruim, porque saiu das mãos de Deus. Qualquer modo de fuga e de rejeição das honestas atividades diárias é algo contra a vontade de Deus. Somente com essa ótica poderemos entender plenamente o mundo com os olhos de Deus.
Qualquer que seja o trabalho, sendo honesto, ele é belo aos olhos de Deus, porque com ele estamos “cooperando com Deus na obra da Criação”. Não importa se o trabalho consiste nos simples afazeres de uma doméstica ou nas complicadas tarefas de um cirurgião que salva uma vida, tudo é importante diante de Deus. O que mais importa é a intensidade do amor com que cada trabalho é realizado. Ele se tornará eterno na vida futura.
São Paulo ensinou aos colossenses: “Tudo o que fizerdes, fazei de bom coração, não para os homens, mas para o Senhor, certos de que recebereis dele a herança” (Col 3,17.23). Isto é, todo trabalho deve ser feito para Deus.
Não podemos ter uma vida dupla, não podemos ser “esquizofrênicos” como cristãos; temos de encontrar o Senhor na nossa vida de todos os dias, senão, não o encontraremos nunca. Disse São Josemaria Escrivá que: “A vocação cristã consiste em transformar em poesia heroica a prosa de cada dia.”
Infelizmente a maioria dos homens, mesmo muitos católicos, têm uma visão distorcida do trabalho, e, por isso, fazem de tudo para se ver livres dele. É um engano. Jesus trabalhou até os trinta anos naquela carpintaria humilde e santa de Nazaré e assumiu o trabalho mais humilde, o de carpinteiro, que era desprezado no seu tempo.
São Bento, de Núrcia, tomou como lema da vida dos mosteiros: “Ora et Labora!” (Reza e Trabalha!). Diz o Catecismo que: “O trabalho não é uma penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível”(n.378).
“O trabalho é, pois, um dever: “Quem não quer trabalhar, também não há de comer” (2Ts 3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Suportando a pena do trabalho unido a Jesus, o artesão de Nazaré e o crucificado do Calvário, o homem colabora de certa maneira com o Filho de Deus na sua obra redentora” (§ 2427).
Confúcio disse certa vez que: “Deus colocou o trabalho como sentinela da virtude”. Há um provérbio chinês que diz que “não é a erva daninha que mata a planta, mas a preguiça do agricultor”. Por isso, todo trabalho deve ser feito com zelo e dedicação. Quem cumpre o seu dever com amor e dedicação, acaba por amá-lo; acaba transformando a obrigação em satisfação.
Ao trabalhar, o homem não só transforma as coisas e a sociedade, mas, o mais importante é isso: aperfeiçoa a si mesmo, se santifica. O trabalho faz o homem paciente, perseverante, forte, disciplinado, ocupado em fazer o bem, compreensivo, aprende a valorizar os outros, etc.. E são essas virtudes que o fazem de fato feliz. Todo trabalho traz em si a sua misteriosa recompensa.
O caminho mais certo de um trabalhador se condenar à mediocridade é o de executar apenas o trabalho pelo qual é pago. Assim ele se torna apenas um mercenário e não um construtor do mundo.
Uma coisa é certa: não são as coincidências e sortes, nem a natureza, nem as dificuldades da vida, ou da História, mas o trabalho realizado por nossas próprias mãos, que determinarão o nosso destino. Os homens amontoam os erros de sua vida e criam um monstro que chamam destino. No devido tempo cada um colhe aquilo que plantou com o seu trabalho dedicado. Há uma lei da vida: colhemos aquilo que plantamos. Não há juiz mais justo e mais severo que o tempo.
Prof. Felipe Aquino
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