Vindos de diferentes cidades do Estado e do Nordeste , os montadores demonstraram talento
Itatira. Cerca de 600 vaqueiros e vaqueiras participaram,
ontem, neste município, de uma cavalgada saindo da Fazenda Serra Verde
até a Igreja de Menino Deus. O evento integra a programação da
tradicional Missa do Vaqueiro, que faz parte do calendário oficial de
eventos do Estado, conforme da Lei 14.520/2009.
Com bandeiras, os participantes louvaram o padroeiro da cidade, Menino Deus fotos: Antônio Carlos Alves
Na intimidade com as montarias, gibões, chapéus de couro, o som dos
chocalhos, das batidas das ferramentas implantadas nos cascos dos
cavalos, aboios, repentes e músicas do inesquecível Luiz Gonzaga, o Rei
do Baião, que neste ano, se vivo estivesse completaria 101 anos.
O
ato litúrgico aconteceu na Igreja de Menino Deus, após a cavalgada no
percurso de seis quilômetros. O organizador da missa, Paulo Ruberto,
carregava a bandeira do Brasil; o defensor da cultura popular e
ex-prefeito da cidade, Zé Dival, levava a bandeira do Estado do Ceará; o
prefeito do município exibia, com orgulho, a bandeira da cidade.
Essa miscigenação cultural reúne centenas de vaqueiros de vários
municípios do Ceará e cidades do Nordeste. Todos em um só sentimento,
para transformar a festa em um dos maiores acontecimentos religiosos
durante os festejos alusivos àquele que retrata a vida e nascimento do
cristo, o filho de Deus.
Em cima de seus cavalos, eles participam da celebração, rezam pedindo
paz, saúde e agradecem as bênçãos alcançadas. No rosto de cada
vaqueiro, foi possível ver as marcas de uma vida de muito trabalho
debaixo do sol forte do sertão, motivo de orgulho para eles.
Na hora do ofertório, os vaqueiros depositaram no altar objetos do
cotidiano e instrumentos usados na lida com os animais. Durante a
celebração, presidida pelo padre Gean Batista, da Paróquia de Nossa
Senhora Imaculada da Conceição, a emoção tomou conta dos presentes.
O religioso lembrou que a primeira missa celebrada em homenagem aos
vaqueiros no Estado do Ceará foi celebrada em 1965, na Fazenda São
Paulo, de propriedade da Casa de São Francisco, e depois aconteceu uma
vaquejada. “Os vaqueiros precisam manter essa tradição. Os outros vão
dando continuidade de maneira rústica e original. Tudo isso deve ser
preservado, porque o vaqueiro é abençoado por Menino Deus”, lembrou.
O padre Gean também destacou que os vaqueiros, para serem felizes,
devem escutar a palavra de Deus e de Nossa Senhora, procurando colocar
em prática a doutrina. “A felicidade está na nossa mente, no coração,
nas nossas palavras. Ser feliz é seguir os passos divinos”, salientou.
“A Missa do Vaqueiro de Itatira é uma tradição que vai passando de pai
para filho”.
Para o prefeito de Itatira, um defensor da cultura popular que todos
os anos veem participar da missa, a vida dos vaqueiros de hoje não
difere de antigamente. "Correr atrás do animal desgarrado faz parte do
seu dia a dia. No Nordeste brasileiro esta prática é bastante comum,
eles são vistos por estradas de terras, vestidos de roupa de couro,
correndo atrás das reses, arriscando sua vida em plena Caatinga”,disse.
“O vaqueiro é um símbolo de coragem e arrojo dos sertanejos. Figura
lendária, que desafia o tempo. Há mais de um século eles correm pelo
campo em busca das reses desgarradas", frisou Antonio Almir.
É como dizia o escritor Euclides da Cunha em seu livro “Os Sertões”:
“o vaqueiro atravessa a vida entre ciladas, surpresas repentinas de uma
natureza incompreensível, e não pede um minuto de trégua”.
Destemidos, os vaqueiros não pensam nos riscos, quando entram no
mato. Homens e animais, no mesmo ritmo, inspiram versos dos poetas
aboiadores, conforme observou o padre.
Aos 43 anos, o vaqueiro Sinfrônio da Silva Gomes lembra que
participou pela primeira vez da missa em 1971, depois disso nunca mais
deixou de vir agradecer ao Menino Deus pela sua proteção. Ele disse que é
uma felicidade estar na festa e ainda com força para trabalhar. "Ser
vaqueiro é cuidar do gado, dos cavalos e ter amigo", ensina o vaqueiro.
“Eu monto todos os dias. Se eu deixar isso eu acho que morro. Quero
morrer na luta do gado”, contou José Maurício, que começou a lida com
gado quando tinha 10 anos de idade.
Outro que entra no histórico é Acrísio Santos de Sousa, de apenas 4
anos de idade. Ele veio para a missa em um cavalo da família de
vaqueiros do Saco do Belém. “Quero ser um grande campeão”, disse o
menino.
O organizador do evento Paulo Ruberto não escondia a sua emoção com a
festa. “Essa foi a missa mais emocionante da história do seus 9 anos.
Me sinto um homem realizado por tudo. Cada vaqueiro presente foi com se
estivesse acertado um vestibular para Medicina. Ser vaqueiro é passar no
vestibular todos os dias'”, disse Paulo Ruberto.
Os jornalistas Valéria Feitosa e Eduardo Queiroz, do Diário do
Nordeste, José Curduliuno, presidente da Associação dos Vaqueiros de
Canindé, e Dina Martins, Mestra da Cultura, receberam homenagens.
O prefeito Antonio Almir disse que o Caderno Regional, do Diário do
Nordeste, é um elo de ligação entre os povos do sertão e as autoridades,
nos níveis federal, estadual e municipal.
O prefeito disse que irá mandar para Câmara Municipal um decreto do Executivo criando o Dia do Vaqueiro em Itatira.
A Paróquia de Menino Deus encerra os festejos do padroeiro Deus Menino.
Antonio Carlos AlvesColaborador
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