No último dia da série especial, padres recém-ordenados reconhecem desafio de dar novo vigor à Igreja
Para Francisco, renovar a Igreja significa, também, voltar às suas origens, em que se prezava pelo auxílio aos que necessitam
"Dar
o nosso ´sim´ para dizer que ainda há esperança na humanidade, em uma
sociedade tão desvalida como a que vivemos hoje, parece nadar contra a
correnteza". É dividido entre a certeza das dificuldades e a
perseverança que Francisco Martins vê o futuro que tem à frente. Apenas
um dia depois de se tornar sacerdote na Capital, aos 34 anos, ele sabe
das responsabilidades, dos sacrifícios e das batalhas que o ofício
guarda, especialmente nos dias atuais. Ainda assim, não hesitou em
tomá-los para si.
O
padre Jean Fernandes se preocupa em corresponder à realidade de hoje.
Para isso, acredita ser necessário o trabalho com a juventude. Foto:
Helosa Araújo
Na noite de ontem, juntamente a sete jovens
cearenses, Francisco foi ordenado padre pela Arquidiocese de Fortaleza. A
data marcou o fim de oito anos de estudo e o início do trabalho para
fortalecer a fé nas paróquias do Estado. Tarefa essa que colocará em
prática diante da presente conjuntura da Igreja Católica.
Por
vezes foge da compreensão de parte da sociedade o que leva pessoas tão
jovens a optarem pelo sacerdócio como projeto de vida. Para Francisco,
no entanto, a escolha é fruto apenas do sentimento comum de cuidar e
ajudar o próximo. "Nosso objetivo maior é cuidar do povo, ensiná-lo a se
amar e se respeitar", ressalta ele.
Chamado
A
vocação para a vida sacerdotal sempre existiu em Francisco e, em certo
momento, falou mais alto que quaisquer outras vontades. Mais que os
planos de trabalhar com o pai na área de usinagem e, quem sabe,
construir uma carreira. Mais que o desejo de dar continuidade ao namoro
de dois anos. Ser padre havia se transformado em dever.
"Parece
que Deus vai inclinando nosso coração para isso. Ele chamava e estava na
hora de responder a esse chamado. Eu pensava no que poderia fazer para
mudar a humanidade, que está tão sofrida, tão fragmentada. Queria ajudar
as pessoas a preencherem as lacunas das vidas delas", diz.
Se,
para Francisco, perceber o caminho que se apresentava foi natural, para
Jean Fernandes, que se preparava para a ordenação de ontem à noite,
reconhecer a mesma vocação exigiu tempo e reflexão.
Na
adolescência, afastou-se da Igreja e só voltou a frequentá-la aos 16
anos, quando, também por convite da mãe, entrou para um grupo de oração
da Comunidade Shalom, em Natal, Rio Grande do Norte, cidade onde nasceu.
"Para minha surpresa, lá encontrei a felicidade que não encontrava
antes", conta.
Contudo, só mais tarde resolveu participar mais
ativamente da Igreja. A experiência serviu para discernir e amadurecer a
orientação eclesiástica.
Com apenas um dia de sacerdócio, ambos
já têm noção do que os espera à frente. Em suas mãos, está a
responsabilidade de colocar em prática as mudanças condizentes com o
novo pontificado. Primeiramente, a necessidade de discutir e lidar com
os problemas que afligem a sociedade dos dias de hoje.
Voltar às origens
Conhecedor
das periferias da Capital, onde mora e trabalha atualmente, Francisco
vê no cotidiano o sofrimento causado pela pobreza, pela desintegração do
ambiente familiar, a expansão do tráfico de drogas e da violência nas
ruas e a corrupção política. Por isso, diz que ser padre é ir na
contramão dos rumos para os quais o mundo tem se dirigido. "Nosso papel
fundamental é dizer para a sociedade que ela ainda tem jeito, que ainda
pode ser melhor", acredita.
Francisco Martins descobriu a vocação sacerdotal ainda jovem e foi ordenado ontem FOTO: BEATRIZ BLEY
Na
visão do sacerdote, renovar a Igreja significa, também, voltar às suas
origens, em que se prezava pelo auxílio aos que precisam de ajuda e pela
propagação de valores como a solidariedade e o respeito em
contraposição ao individualismo e aos interesses particulares.
Já
para o padre Jean Fernandes, inserir-se na nova realidade e
corresponder à ela é uma das maiores preocupações. Recém-ordenado e em
sintonia com o pensamento da juventude de hoje, o sacerdote diz perceber
que trabalhar com os jovens, conhecer suas demandas e se aproximar de
seus pensamentos, pode ser a principal forma de dar vigor à Igreja
Católica.
"O jovem dá vida à Igreja. Mas para atingir essa
juventude, eu preciso estar dentro do mundo dela. Tento me atualizar
sobre os meios de comunicação, Facebook, Twitter, WhatsApp. Como
sacerdote, tenho que me utilizar sobre isso para ir ao encontro deles",
afirma Jean.
Ele afirma que cada padre deve moldar sua forma de
atuar de acordo com o contexto em que vive. "Meu sacerdócio não vai ser
melhor nem pior do que os de outros anos, vai ser diferente. Hoje, nós
enfrentamos outros conflitos, outras descobertas. Meu anseio é
corresponder a isso", reflete Jean Fernandes.
VANESSA MADEIRAREPÓRTER
FIQUE POR DENTRO
Ordenação ocorreu na Catedral
A
cerimônia de ordenação presbiteral dos oito diáconos cearenses foi
realizada, ontem, na Catedral Metropolitana, no Centro da Capital. A
celebração foi comandada pelo arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio
Aparecido Tosi Marques. Os futuros sacerdotes já têm marcadas as datas e
horários das primeiras missas, em dezembro:
Diácono Evanilson Raquel de Oliveira: hoje, às 19h, na Paróquia de Baturité
Diácono Francisco Alexandre Alves: hoje, às 10h, na Paróquia do Jereissati I, Maracanaú
Diácono Carlos Daniel Pereira: dia 25, às 10h, na Paróquia da Parangaba.
Diácono Leonardo Dornelles de Almeida: dia 25, às 19h, no Shalom da Paz, bairro Aldeota
Diácono Francisco das Chagas Martins: dia 26, às 19h, na Paróquia do Carlito Pamplona
Diácono José Almir Jucá Júnior: dia 30, às 19h, na Paróquia de Maracanaú
Diácono Jean Fernandes Costa: dia 29, às 19h, no Shalom da Paz, no bairro Aldeota
Diácono Francisco dos Santos Monteiro: dia 21, às 19h, na Capela de Lago de Dentro, Sucatinga
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