É impressionante como os mártires morriam perdoando os seus carrascos:
No Líbano, o jovem Ghassibé Kayrouz foi
assassinado quando se preparava para entrar no Seminário. Numa gaveta de
seu quarto, os seus genitores encontraram um texto escrito na véspera
de sua morte, que foi lido por ocasião do seu enterro:
“Tenho um só pedido a fazer-lhes:
perdoem àqueles que me matarem. Fazei-o de todo o coração, e rogai
comigo que meu sangue, mesmo que seja o sangue de um pecador, seja
resgate pelos pecados do Líbano, uma hóstia misturada ao sangue das
vítimas que tombaram, de procedências e religiões diversas; seja o preço
da paz, do amor e do entendimento que foram perdidos por esta pátria e
até pelo mundo inteiro. Queiram ensinar às pessoas o amor através da
minha morte, e Deus os consolará, proverá às suas necessidades e os
ajudará a viver esta vida. Não tenham medo, não estou pesaroso, nem me
sinto triste por deixar este mundo. Só estou triste porque vocês estarão
tristes. Rezem, rezem, rezem e amem seus inimigos”
Na Algéria, o Pe. Christian de Chergé, trapista assassinado, escreveu pouco antes da sua morte:
“Quisera, no momento oportuno, ter o
tanto de lucidez que me permitisse solicitar o perdão de Deus e dos meus
irmãos, assim como eu perdoaria de todo o coração a quem me tivesse
atingido”.
Na África do Sul, Malusi Mpumlwana, torturado e, depois, rechaçado, disse ao sair da prisão:
“Quando eles me torturavam, eu pensava:
são filhos de Deus e comportam-se como animais. Precisam de que nós os
ajudemos a recuperar a humanidade que eles perderam”.
Em El Salvador, o Pe. Navarro, assassinado aos 11/05/1977 com o jovem Luís (de 14 anos), murmurou antes de morrer:
“Morro porque preguei o Evangelho. Sei quem são meus assassinos. Saibam que lhes perdoo”.
Na Albânia, Mark Çuni foi
executado aos 06/03/1946, ao mesmo tempo que o Pe. Dajani e seus
companheiros. Eis as suas últimas palavras:
“Perdoo a todos aqueles que me julgaram,
condenaram e vão executar-me. Digam a minha mãe que ela pague os quinze
napoleões de ouro que eu devo a Ludovik Racha. Viva Cristo Rei! Viva a
Albânia!”.
Quanto ao Pe. Daniel Dajani, encerrou seus dias dizendo:
“Perdoo a todos os que me fizeram mal…”.
Na Polônia, quando o Cardeal
Wyszynski soube da morte do chefe comunista Bierut, que o tinha traído e
mandara lançar na prisão, escreveu em seu Diário:
“Nunca mais terei a ocasião de discutir
com Boleslaw Bierut. Ele já sabe que Deus existe e que Ele é amor.
Doravante Bierut está do nosso lado. Solicitarei do Senhor a
misericórdia para o meu perseguidor. Amanhã celebrarei a Missa em
sufrágio por ele; desejo absolvê-lo, na confiança de que Deus encontrará
na vida do defunto atos que falarão em seu favor. Muitas vezes no
cárcere rezei por Boleslaw Bierut! Talvez esta oração nos tenha ligado
um ao outro a ponto de ele chamar-me em seu socorro… Os seus
colaboradores talvez em breve reneguem Bierut, como isto se deu com
Stalin. Eu não o esquecerei. O meu dever de cristão o exige”.
Em Tirana, na Albânia, o Pe. Zef Pilumi, um dos poucos sacerdotes que sobreviveram à perseguição, contou o seguinte:
“Um dia, após o fim da perseguição, um
dos meus carrascos veio a esta casa para pedir-me ajuda. Precisava de
submeter-se a uma cirurgia e só o podia fazer na Grécia. Trazia consigo a
sua carteira de trabalho, que lhe assegurava o salário de aposentado.
Disse-me ele que queria dar-me esse dinheiro, caso eu lhe pudesse pagar a
viagem para que fosse tratar-se no estrangeiro. Resolvi levar isso ao
meu Conselho Paroquial. Todos sabiam que tal homem havia sido meu
carrasco. Mas concordamos em pagar-lhe a viagem até Salônica, sem nada
receber do seu salário de aposentado. Quando ele voltou da Grécia e veio
visitar-me, eu lhe disse que ele nada nos devia; caiu então em prantos.
É necessário perdoar, como pede o Evangelho”.
Na Croácia, o Cardeal Stepinac, vítima dos comunistas, escrevia:
“Que a maldade deles não vos impeça de amar vossos inimigos! Uma coisa é a maldade, outra coisa é o homem”.
Ainda na Albânia o Cardeal Mikel
Koliqi, após quarenta anos de campo de concentração, de cárcere ou de
residência vigiada, declarava:
“Não sinto mágoa alguma. Eu lhes digo
francamente: não experimento ressentimento algum. Ao contrário, peço a
Deus que perdoe a eles. Para um cristão, a vingança não tem sentido”.
Ainda se pode citar a Sr.ª
Eugenia Guinzbourg. Narra que os seus companheiros de campo de
concentração se sentiam fortemente tentados a odiar seus carrascos.
Dizia-lhes então:
“Assim procedendo, cairemos num círculo
vicioso. Vejam! Eles contra nós, nós contra eles, e de novo eles contra
nós… Até quando há de durar o círculo vicioso do ódio? Vamos Ter que
sustentar ainda e sempre o triunfo do ódio?”.
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