domingo, 25 de maio de 2014

A importância de se estabelecer um dia para a família

-Ô menino, por que você não quer sair com a gente? – Raiva. Ninguém me entende.
-Raiva? Que pecado, meu filho! Criança não sente raiva.
- E você, homem, por que não chega em casa mais cedo? – Pra quê? Pra passar raiva?
- E você, mulher? Por que não para quieta? Quando não está batendo perna na rua, só fica enfiada nessa cozinha? – Até parece que faço, porque gosto.


Hoje, vamos refletir sobre o sentimento de raiva nas relações familiares. Situação essa que tem afastado os seus membros do encontro fraterno, do almoço aos domingos e os afastado do cuidado que um deveria ter com o outro.

A elaboração do sentimento de raiva acontece devido à frequência, à duração e à intensidade com que os eventos que provocam frustração e pavor acontecem dentro desse contexto, que eliciam repostas de ansiedade e tensão, provocando o medo de conviver com seus próprios familiares. É muito importante que, na rotina doméstica, a família ocupe um espaço significativo e que todos a reconheçam como fonte de vida.

O treino de conviver com cada membro como único ajudará na manutenção dos vínculos e da boa convivência. Consequentemente, todos desejarão estar em família. Mas e a raiva? Qual o lugar desse sentimento no comportamento das pessoas quando estão com seus familiares?

Segundo Ivan Capelatto, em seu livro 'A Equação da Afetividade', "a raiva nada mais é que a manifestação do medo. Resultado da ação de uma região de nosso cérebro, composta pelas amígdalas cerebrais. Esta parte do cérebro também é responsável pela proteção do indivíduo, por sua reação diante dos perigos do mundo. São responsáveis pelas reações de medo, que farão com que lutemos ou fujamos", ressalta o autor. Diante dessa explicação, é possível compreender que todos nós estamos sujeitos a sentir raiva e manifestar medo diante de situações em que ela é provocada. O ambiente familiar é propício para que esse sentimento venha à tona com constância. São pessoas com comportamentos diferentes, mas que convivem e precisam de alinhamento em suas relações para garantir a felicidade. Um exemplo muito comum, apresentado por Capelatto, é o da criança que, quando interrompida, em sua brincadeira, porque tem que tomar banho, corre risco de sentir medo de perder aquele prazer que estava sentindo. Nesse momento, as amígdalas são acionadas, a expressão da criança será de raiva por não saber lidar com o medo. De forma semelhante, acontece com o casal quando interrompido em uma relação sexual com a chegada inesperada do filho em seu quarto; além daqueles momentos comuns vividos nas famílias brasileiras: ir ao supermercado e não poder fazer a feira ou não poder pagar o Plano de Saúde que precisam ou desejam ter.

Quem nunca ouviu essas expressões: "Que raiva! Quem tem clima para namorar com tantos problemas?", "Quando chega o fim de semana, não aguentamos nem mais brincar com os filhos de tão cansados!". Esses eventos causam danos à vida psicológica da criança e de qualquer ser humano, além de afetar o clima familiar. O sentimento que está por trás de cada expressão dessas é o de raiva, e precisará ser bem administrado para que não passe a controlar a alegria, o temor e o humor da família. Portanto, as reações que cada um demonstra deverão ser entendidas, inicialmente como uma manifestação do organismo que funciona bem. Nem sempre aceitar tudo, demonstrar não sentir raiva e ser a família perfeita e boazinha do bairro é sinal de convivência saudável. Essas reações são sintomas de uma realidade. A falta de raiva em situações reais pode implicar em ausência de medo, indiferença e, consequentemente, sensação desconfortável.

Qual a consequência? Relacionamentos frios e artificiais. E estar em família nos fará sentir um peixe fora d'água. Não faremos questão de encontrar um dia para estarmos juntos. Será sempre ruim conviver com quem tem o nosso sangue se não ouvirmos o que a raiva, que sempre manifesta o medo, quer falar. Estar junto sem se sentir pertença, por causa da raiva não sentida, do medo não amparado, da verdade não dita e da falta de acolhimento às necessidades de todos, é colocar a família em um beco sem saída. Será sempre o fim de um sonho. Um pesadelo conviver. Ter tempo para a família é decidir viver em contato com as nossas emoções sem perder o respeito e o amor por quem nos deu muito mais do que um nome e um sobrenome. Deu-nos a vida!

Se dermos atenção a quem está ao nosso lado e o acolhermos em seus momentos de raiva e medo, será mais fácil agendar um dia ou dois, passar o feriado e tantas outras datas juntos!

Qual dia você escolheu para estar em família?

Judinara Braz

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