A
grande libertação que podemos experimentar é a da escravidão que nós
mesmos nos impomos. Somos escravos de nós mesmos e dos nossos pecados.
O nosso ego está sentado no trono do
nosso coração e não quer sair daí por nada, nem para dar o lugar a Deus,
que é o único que tem o direito de ocupá-lo. E esse tirano que está
sentado neste trono é exigente, vaidoso, soberbo e manhoso; e nos faz
sofrer.
Por que temos angústia e depressão? Por
que temos medo? Porque temos receio de que o nosso “eu” seja atingido,
contrariado, ameaçado, ferido, e de alguma maneira sofra. Então, ficamos
protegendo-o o tempo todo, com medo de que seja atingido.
São precisos muitas vezes “fracassos e
decepções” para que cada um de nós aprenda que o único caminho para ser
feliz de verdade, que é a “morte de si mesmo”, a morte do amor próprio
exagerado, a morte do nosso egoísmo e egocentrismo.
Não foi à toa que Jesus disse: “quem
quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”
(Lc 9,23). Quando eu não me importar demais com minha reputação, meu
amor próprio, então, as calúnias, as fofocas e as críticas contra mim
não me farão mais mal; e eu serei feliz apesar delas.
Quando eu não amar mais as riquezas, elas não me farão mais falta e eu não ficarei correndo e sofrendo por causa delas.
Quando eu aceitar não mais estar no
centro do universo, não vou ficar mais triste se me marginalizarem ou me
colocarem em segundo lugar. E serei feliz assim mesmo. Se eu não mais
desejar o primeiro lugar, não mais sofrerei quando o perder.
Quando eu aprender a viver somente com o
necessário, não mais sofrerei porque não possuo aquilo que é supérfluo.
Muitos dos nossos sofrimentos provém do nosso egoísmo, que escraviza a
nós mesmos. O egoísmo engendra a morte dentro de nós, a caridade gera a
vida. É claro que é necessário proteger a nós mesmos contra os perigos,
as doenças, as dificuldades da vida, etc. Nada contra a sermos
previdentes. O que não podemos é ficar “paparicando” a nós mesmos como
se fossemos um reizinho que não pode sofrer, ou para quem nada pode dar
errado nunca. Todo mundo sofre, todos têm problemas, todos perdem entes
queridos, então, por que eu não posso passar por isso? Não sou melhor do
que os outros.
É o pecado original que expulsou Deus do
trono do coração do homem e aí fez sentar o nosso ego. Este passou a
comandar a nossa vida ao invés de Deus, e tudo começou a complicar para o
homem e para a humanidade.
A ordem de Jesus de “renunciar a si
mesmo” pode parecer a princípio um contrassenso, mas é exatamente o que
precisamos, é uma grande sabedoria. “Renunciar a si mesmo”, não quer
dizer se desvalorizar ou jogar a vida fora, ao contrário, é deixar Deus
ser o guia da sua vida, e não você. É desocupar o trono de onde partem
as ordens para a sua vida, e deixar Deus sentar na cadeira de comando.
Ora, afinal, quem é mais capaz, você ou Deus, para dirigir a sua vida?
Se é Ele, por que então resistir? Quando Jesus diz: “… e siga-me”, Ele
está mandando que você obedeça as suas leis, a Sua vontade, a doutrina
que a Igreja ensina, e não, viver segundo a “sua” moral e a “sua” lei.
Não queira você fazer as leis; obedeça as que Deus fez.
Todo o trabalho de Deus sobre nós, que chamamos de conversão,
consiste simplesmente em dar o lugar a Deus no trono do nosso coração. E
isto é difícil porque o ego apegou-se a este lugar, pelo pecado, com
raízes profundas.
As ações de Deus sobre nós são no
sentido de reverter o veneno do pecado original, para convencer o ego a
deixar o lugar de Deus e passar a servi-lo, e não de ser servido.
A maneira mais fácil é que nós mesmos
façamos esta “cirurgia” com a graça de Deus e a ação do Espírito Santo.
Precisamos querer e aceitar deixar o trono que é de Deus para que Ele
nos conduza com sabedoria e nos dirija com o seu poder onipotente.
“Senhor eu quero agora mesmo deixar este
lugar que eu usurpei e que é Seu. Peço perdão Senhor por tanto tempo
ter agido assim e não tê-lo deixado guiar a minha vida.
Mas agora, com todo o meu querer,
livremente, amorosamente, Senhor, com gosto, eu dou ao Senhor o trono do
meu coração, e quero ficar aos Seus pés, como um servo fiel, atento
para ouvir as Suas menores ordens, e executá-las com grande amor. Divino
Espírito Santo, sela em meu coração esta decisão para que nunca mais eu
volte atrás nela. Amém”.
Quando você viaja de avião, e acontece
uma turbulência, você não corre para a cabina do piloto para ajudá-lo ou
dar-lhe ordens, porque você não entende nada de navegação aérea e de
pilotagem. Apenas você fica quieto na cadeira, com o cinto de segurança
atado, até que a turbulência passe, deixando o avião nas mãos do
Comandante. Na sua vida deve ser assim também.
Deixe o “Piloto” comandar o voo da sua
vida. Ele conhece o “avião”, ele sabe de pilotagem e a turbulência está
em Suas mãos. Quando Deus permite que a gente passe por alguma
turbulência, Ele está “fazendo uma obra em nós”. Esta obra é para a
retirada de nós mesmos do centro de nossa vida; por isso não se assuste.
Entregue o comando da vida ao Piloto.
A melhor de todas as penitências que
podemos fazer nesta vida é aceitar os sofrimentos que Deus permite que
cheguem a nós. É claro que isto é difícil. Os sofrimentos de cada dia de
sua vida, todos eles, Deus usa para tirar o seu “eu” do centro da sua
vida, para que Ele possa reinar em você. Este é um longo, lento e
amoroso trabalho que Deus faz em nós.
Ele sabe o que está fazendo em você,
mesmo que lhe pareça tudo muito estranho ou errado. Que sentido pode ter
eu perder o emprego, ou tomar um grande prejuízo financeiro, ou perder a
esposa?
Eu não sei responder a você, e ninguém
sabe, mas Deus sabe que atrás disso há um desígnio de conversão para
você. Ter fé é exatamente acreditar no que São Paulo disse: “Tudo
concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rom 8,28). A lógica de tudo
isto, é então, dar glória a Deus no meio deste fogo que me queima mas me
purifica. E quando você é capaz de louvar a Deus nesta hora, então,
está deixando o trono do seu ser para que Deus sente aí e comande a sua
vida. “Aceita tudo o que te acontecer” (Eclo 2,4) diz o livro do
Eclesiástico.Quando você aceita que Deus comande a sua vida então, você
aceita tudo o que lhe acontece hoje ou possa acontecer amanhã. Tudo está
nas Suas mãos. Se você está aflito, angustiado, em pânico, é porque
você está preocupado com você mesmo e não está aceitando o que Deus está
fazendo com você agora. É duro dizer isto, mas é a realidade; ficamos
como que brigando com Deus.
Diga: “Senhor, seja feita a Sua vossa
vontade assim na terra como no céu!” quantas vezes for preciso, até que
você aprenda a aceitar a vontade de Deus pelo que estiver passando. O
medo surge exatamente porque você se sente impotente diante do problema
que está a sua frente; humanamente você se vê num beco sem saída e fica
em pânico.
Só tem uma saída, aceite tudo o que
possa te acontecer, e que você não pode mudar, agora ou depois, e deixe
os resultados nas mãos de Deus”.
Prof. Felipe Aquino
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