Quando falamos ou ouvimos falar sobre as virtudes, muitas vezes pensamos
que se trata de esforços e lutas para sermos melhores. É verdade que
sem esforço não é possível exercitá-las; de fato, o próprio Catecismo
nos ensina que a pessoa virtuosa tende ao bem, com todas as suas forças
sensíveis e espirituais .
Este tema (as virtudes) foi objeto de
profundas meditações nas filosofias antigas. Por exemplo, Aristóteles,
no livro II da Ética a Nicômaco, elaborou a sua doutrina sobre o mesmo,
considerando as virtudes como uma disposição adquirida com o próprio
esforço, para fazer o bem, segundo os ditames da razão. Mas é com São
Tomás de Aquino que encontramos o ponto de partida e a mais clara
orientação deste tema dentro da teologia moral, adquirindo, assim, a
clareza que se perdeu nas diversas tradições filosóficas.
Em
vários documentos da Igreja vemos a importância das virtudes para uma
vida moral reta: em primeiro lugar está a caridade, que "dirige todos os
meios de santificação, os informa e leva a seu fim" , assim como as
outras virtudes teologais . Também a humildade, a obediência, a
fortaleza e a castidade , além das virtudes sociais, tais como:
lealdade, justiça, sinceridade, fortaleza . Na Veritatis Splendor, o
Beato João Paulo II nos ensina que para poder discernir a vontade de
Deus, aquilo que é bom, é necessário o conhecimento da Lei de Deus em
geral, mas aquele não é suficiente: é indispensável uma espécie de
"conaturalidade" entre o homem e o verdadeiro bem. Esta conaturalidade
fundamenta-se e desenvolve-se nos comportamentos virtuosos do mesmo
homem: a prudência e as outras virtudes cardeais, e, antes ainda as
virtudes teologais da fé, esperança e caridade. Neste sentido, disse
Jesus: "Quem pratica a verdade aproxima-se da luz" (Jo 3,21) .
Na
sua etimologia, virtude deriva do grego ἀρετή /aretê, que também
expressa o conceito de excelência, no sentido de esforço da realização
da própria essência. Podemos, então, compreender que o homem virtuoso é o
homem santo, visto que seu fim último é Deus e seu chamado é à
santidade. Quando este homem procura, escolhe e pratica o bem, e para
isso empenha todas as suas forças sensíveis e espirituais, ele realiza a
própria essência e encontra a felicidade.
A vivência das
virtudes é, também, a pedra de toque da autenticidade da nossa
intimidade com Deus. Elas são como um espelho da nossa espiritualidade.
Podemos afirmar que aquilo que experimentamos no "segredo" da oração,
torna-se visível através dos nossos atos. Quanto mais autêntica e
profunda for a nossa oração, mais virtuosos (santos) e felizes seremos,
porque a santidade e a oração têm ambas o mesmo fim.
Quando toca
no tema das virtudes, o Catecismo as define como "disposição habitual e
firme para fazer o bem", isso quer dizer que a virtude é criativa e em
qualquer situação realizará o bem. É aqui que compreendemos a
necessidade da disposição, porque para realizar o bem em qualquer
situação, é necessário ter domínio de si, amor pela verdade e,
sobretudo, confiança e docilidade ao Espírito Santo, porque é dele que
provém toda virtude e é Ele quem nos impulsiona a desejar e fazer o bem.
Dar o melhor de si
Outro
aspecto muito importante é que a virtude "permite à pessoa não só
praticar atos bons, mas dar o melhor de si" . E quando é que você dá o
melhor de si? São João nos dá uma pista: "Amemo-nos uns aos outros, pois
o amor vem de Deus; e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao
conhecimento de Deus" ; também São Paulo, no hino à caridade afirma:
"Mesmo que eu fale em línguas, a dos homens e a dos anjos, se me falta o
amor, sou um metal que ressoa, um címbalo retumbante (…). Mesmo que
distribua todos os bens aos famintos e entregue meu corpo às chamas, se
me falta o amor, nada lucro com isso (…). O amor é paciente, o amor é
serviçal, não é ciumento, não se incha de orgulho, nada faz de
inconveniente, não procura o próprio interesse (…). Tudo desculpa, tudo
crê, tudo espera, tudo suporta" . Portanto, dar o melhor de si é amar! E
amar é buscar em tudo fazer a vontade de Deus.
Ensinando o
caminho da virtude, portanto, da santidade e da felicidade, aos
filipenses, São Paulo escreveu: "Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro,
nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso,
virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor".
Quanto à
classificação das virtudes, seu desenvolvimento, como crescer na
conaturalidade com o bem e quais são os vícios que lhes são contrários.
Shalom!
Josefa Alves
Comunidade Católica Shalom
www.comshalom.org
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