Rompimento com a graça Divina
Por um ato de misericórdia, Deus criou o
universo e tudo que nele contém, e como obra prima dentre as criaturas
visíveis, criou o homem à sua imagem e semelhança, a fim de que este
pudesse participar de sua própria vida, através da graça. Tragicamente o
homem quebrou a aliança estabelecida com Deus, e por meio do primeiro
pecado, todo o gênero humano ficou privado de sua graça e estava
condenado a não mais participar do fim para o qual Deus o havia criado.
Que grave e duro castigo infligido pela Justiça Divina ao pecado
cometido! Entretanto, quão doce e suave solução encontrada pela
Misericórdia Infinita do Criador, pois Ele enviou ao mundo o seu Filho
Unigênito, a fim de redimir todo o gênero humano, e é por isso que a
Igreja não hesita em cantar “O Felix Culpa, que há merecido a graça de
um tão grande Redentor”.
Redenção do gênero humano
Tendo o homem sido infiel, perdeu o
maior dos tesouros que lhe fora confiado: a graça de Deus; não só as
portas do paraíso terrestre lhe foram fechadas, mas o céu já não podia
receber o homem fora do estado de graça. Entretanto, em sua Infinita
misericórdia “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu filho unigênito”
(Jo 3,16) e a todos que cressem no seu nome, deu o poder de se tornarem
filhos de Deus (cf. Jo 1, 12). Com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo à
Terra, “a revelação de Deus entrou no tempo e na história, e [esta]
torna-se, assim, o lugar onde podemos constatar a ação de Deus em favor
da humanidade”[1].
A Santa Igreja continua a missão de Cristo
Ao se entregar como vítima para a
salvação dos homens, Nosso Senhor não só reparou a ofensa feita a Deus
através do pecado, mas mereceu para todos os homens a graça e de “sua
plenitude todos nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1, 16).
Deus poderia distribuir sua graça aos
homens diretamente por Si mesmo; entretanto, quis dispensá-la por meio
da “Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos
fossem em certo modo, seus colaboradores na distribuição dos divinos
frutos da Redenção”[2] e a Igreja é desta forma a continuadora da obra
começada pelo Salvador.[3]
Igreja fortalecida pelos Sacramentos
A vida e os ensinamentos de Cristo
deitam luz sobre a existência do homem, e lhe é traçada uma meta que
pareceria um exagero se não fosse proposta pelo próprio Filho de Deus:
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). Como
atingir este alto objetivo sendo o homem tão frágil e volúvel?
Certamente seria difícil imaginar que os
pais dissessem a um filho recém-nascido: “Nós demos a vida a você, mas
não haverá alimento quando você tiver fome, nem remédios quando adoecer,
nem apoio de um braço quando você se sentir fraco. Portanto arranje-se
como puder”.[4] Se os homens não são capazes de tratar assim a um filho,
sobretudo Deus não o faria. (Cf. Lc 11, 13)
Assim como o corpo humano necessita de
energias especiais para que se mantenha vivo, cresça e se desenvolva, “o
Salvador do gênero humano providenciou admiravelmente ao seu corpo
místico enriquecendo-o de sacramentos, que com uma série ininterrupta de
graças amparam o homem desde o berço até ao último suspiro”[5].
Os Sacramentos na vida pessoal e social
Os sacramentos estão presentes em toda
vida da Igreja, “existem por meio dela e para ela”[6], e segundo a
afirmação de Santo Agostinho, “são esses sacramentos que fazem a
Igreja”.[7]
Às necessidades espirituais, Cristo
instituiu os sacramentos do batismo, crisma, Eucaristia, penitência e
unção dos enfermos, afim de que o homem pudesse alcançar, recuperar, e
aumentar a graça de Deus ao longo de sua vida. Assim, aos que nasceram
para esta vida mortal, lhes é infundido a verdadeira vida da graça
através do batismo, pelo qual são feitos membros da Igreja, e ao serem
assinalados com o caráter batismal, passam a ter o direito de receber
todos os outros dons sagrados. Com a crisma, o cristão passa a ser um
verdadeiro soldado da Santa Igreja, recebendo as forças necessárias para
proclamar e defender sua fé. Pelo sacramento da penitência, a Igreja
oferece a seus filhos o perdão de suas faltas e um novo vigor em sua
marcha rumo ao céu. Pela Sagrada Eucaristia, “fonte e ápice de toda a
vida cristã”[8], os fiéis não somente são alimentados e fortificados,
mas manifestam a unidade de todos entre si constituindo um só corpo
unido a Cristo, sua Cabeça. Por fim, pela Unção dos enfermos, a Santa
Igreja ampara e consola os doentes, concedendo às almas feridas o
remédio sobrenatural, que lhes abrirá a porta do céu, onde poderão gozar
da divina bem-aventurança por toda a eternidade.[9]
Às necessidades sociais, foi dado o
matrimônio, afim de prover o “aumento externo e bem ordenado da
sociedade cristã”[10] constituindo a família como uma igreja doméstica,
afim de que pela palavra e pelo bom exemplo, os pais possam ser
verdadeiros e dignos reflexos de Deus para os próprios filhos[11]. Por
fim, pelo sacramento da Ordem, Cristo provê a Igreja de pastores que
cuidem do rebanho, sustentando-o com o Pão dos Anjos e com o alimento da
doutrina, dirigindo-o com os conselhos, e fortalecendo-o de todas as
formas com as graças celestes, especialmente através da distribuição dos
sacramentos[12].
A Igreja se torna unida e elevada pelos sacramentos
Através deste circuito de graças
estabelecido pelos sacramentos que são ministrados a cada indivíduo,
toda a Igreja se eleva tornando-se mais santa e unida, vivendo em
harmonia no mesmo espírito e no mesmo sentimento (Cf . ICor 1, 10). É
através desta união entre os católicos realizada pelos sacramentos que
nasce nas almas a caridade fraterna que tanto caracteriza aqueles que
querem ser seguidores de Cristo como Ele mesmo indicou: “Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros”(Jo 13,35). Este laço entre os membros da Igreja será tanto mais
estreito, quanto maior for a frequência aos sacramentos, através dos
quais, podem participar da graça e da caridade que lhes comunica a vida
sobrenatural e divina.
Quantos sentimentos de amor e de júbilo
não deveriam despertar em nosso coração este pensamento: Sou membro da
Igreja; sou membro de Jesus Cristo! Que amor por todos os Cristãos isso
deveria produzir em nós, já que todos estes cristãos são meus irmãos e
todos não fazemos mais do que um em Cristo! Que alegria ao pensar que ao
me santificar e trabalhar para a santificação dos outros, contribuo
para aumentar a beleza da Santa Igreja. Nada do que diz respeito a ela
pode deixar-me indiferente: entristece-me vê-la perseguida e rejubila-me
vê-la exaltada e glorificada. Ao participar da vida da graça trazida
com os sacramentos, já não sou uma frágil gota d’água isolada, mas faço
parte da força deste grande oceano que é a Santa Igreja de Cristo.[13]
Influência da Igreja e dos Sacramentos na história da civilização
Quais os benefícios dos sacramentos para
a sociedade? Segundo o Professor Plinio Corrêa de Oliveira, “a religião
conseguiu trazer ao mundo, com seus sacramentos, com a graça de que é
veículo, e com o admirável apostolado hierárquico da Igreja, uma
continuidade de ação santificadora que tem sido a coluna da
civilização”.[14] A ordem e a paz que houve na civilização católica são
fruto dessas graças, as quais tiveram como veículo infalível, os
sacramentos da Santa Igreja. Assim, a civilização Cristã é a civilização
dos sacramentos.
Para os que desejam a salvação
A enorme expansão da verdadeira religião
por todo orbe terrestre e todas as maravilhas da civilização cristã
atestam a superabundância de graças que vigorou no mundo após Nosso
Senhor Jesus Cristo ter fundado a Igreja Católica. A ordem social
inerente à comunidade dos batizados só foi possível mediante a graça de
Deus produzida pelos sacramentos. Que grande misericórdia do Salvador ao
acompanhar seus filhos a cada instante de suas vidas através dos
sacramentos que Ele próprio instituíra, cumprindo desta forma a promessa
que deixara de estar com os homens até a consumação dos séculos (Cf. Mt
28,20).
Portanto, é na consideração deste desejo
de Deus em salvar a humanidade perdida pelo pecado, que o homem deve
encher-se de confiança e procurar acercar-se cada vez mais dos
sacramentos, verdadeiras maravilhas postas por Deus à disposição de
todos aqueles que desejam a salvação.
Por Anderson Fernandes Pereira
[1] Fides et Ratio: carta encíclica João Paulo II. Disponível em:. Acesso em 18 mar. 2009.(11)
[2] Carta encíclica Mystici Corporis do Papa Pio XII. 29/06/1943. n. 12.
[3] Cf. Carta encíclica Mystici Corporis do Papa Pio XII. 29/06/1943. n. 12.
[4] TRESE. Leo J. A fé explicada. Tradução de Isabel Perez. Quadrante. São Paulo. 1995. p. 263.
[5] Carta encíclica Mystici Corporis do Papa Pio XII. 29/06/1943. n. 18.
[6] Catecismo da Igreja Católica 1118
[7] Apud. Catecismo da Igreja Católica 1118
[8] Lumen Gentium, Constituição Dogmática sobre a Igreja. Concílio Vaticano II, 11.
[9] Cf. Carta encíclica Mystici Corporis do Papa Pio XII. 29/06/1943. n. 18.
[10] Carta encíclica Mystici Corporis do Papa Pio XII. 29/06/1943. n. 18.
[11] Cf. Lumen Gentium, Constituição Dogmática sobre a Igreja. Concílio Vaticano II, 11.
[12] Cf. Lumen Gentium. 11. Cf. Carta encíclica Mystici Corporis do Papa Pio XII. 29/06/1943. n. 18.
[13]Cf. CHAUTARD, J. B. A Alma de todo apostolado. São Paulo: FTD. 1962. p. 194-200.
[14] CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Opera Omnia. São Paulo: Retornarei, 2008. p. 432.
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