Dom Estevão Bettencourt, osb, em sua
Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” (Nº 456, Ano 2000, p.194), publicou
uma matéria para explicar o que é de fato, o martírio cristão, que nada
tem a ver com os que morrem por simples causas sociais e políticas. Pior
ainda, quando alguns consideram mártires pessoas que o Papa nem
beatificou.
Vejamos o que ensina Dom Estevão:
A palavra mártir vem do grego martys,
martyros, que significa testemunha. O mártir é uma testemunha
qualificada que chega ao derramamento do próprio sangue. O Papa Bento
XIV assim se exprime:
“O martírio é a morte voluntariamente
aceita por causa da fé cristã ou por causa do exercício de outra virtude
relacionada com a fé”.
O Catecismo da Igreja Católica § 2473 retoma o conceito:
“O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte”.
O Concilio do Vaticano II desenvolve tal noção:
“Visto que Jesus, Filho de Deus,
manifestou Sua caridade entregando Sua vida por nós, ninguém possui
maior amor que aquele que entrega sua vida por Ele e seus irmãos (cf.
1Jo 3, 16; Jo 15, 13). Por isso, desde o início alguns cristãos foram
chamados – e alguns sempre serão chamados – para dar o supremo
testemunho de seu amor diante de todos os homens, mas de modo especial
perante os perseguidores. O martírio, por conseguinte – pelo qual o
discípulo se assemelha ao Mestre, que aceita livremente a morte pela
salvação do mundo, e se conforma a Ele na efusão do sangue – é estimado
pela Igreja com exímio dom e suprema prova de caridade. Se a poucos é
dado, todos, porém, devem estar prontos a confessar Cristo perante os
homens, segui-lo no caminho da cruz entre perseguições, que nunca faltam
à Igreja” (Lumen Gentium, nº 42).
A propósito deve-se notar o seguinte:
O martírio é uma graça que tem sua
iniciativa em Deus. Não compete ao cristão procurar o martírio
provocando os adversários da fé. A Igreja sempre condenou esse
comportamento, pois seria presunçoso (quem pode ter a certeza que irá
suportar corajosamente os tormentos do martírio?); além do quê, seria
provocar o pecado do próximo ou dos algozes.
Para que haja martírio propriamente
dito, requer-se que o cristão morra livremente, ou seja, aceite
conscientemente o risco de morrer por causa da sua fé. A aceitação da
morte pode ser explícita, como no caso em que o perseguidor deixa a
escolha entre renegar a fé (ou uma virtude relacionada com a fé) e a
morte. A aceitação livre pode ser implícita quando a pessoa sabe que o
seu compromisso cristão pode levá-la até a morte e, não obstante, é fiel
a esse compromisso.
Para que a Igreja declare oficialmente que alguém é mártir da fé, são efetuadas pesquisas a respeito:
- A verdadeira causa da morte: pode ser
que um cristão seja condenado à morte não por ser cristão, mas por
estar envolvido em alguma campanha política ou de outra ordem;
- A livre aceitação da morte por parte da vítima;
- Graças ou milagres obtidos por intercessão do(a) servo(a) de Deus.
O processo é iniciado na diocese à qual
pertencia a vítima ou na qual ela foi levada à morte. Continua e termina
em Roma, na Congregação para as Causas dos Santos.
O martírio é algo tão antigo quanto a
pregação da Palavra de Deus. Já ocorreu na história dos Profetas do
Antigo Testamento. No século II a.C. os irmãos macabeus sofreram a morte
cruenta por causa da sua fé (cf. 2 Mc 7, 1-42), assim como o escriba
Eleazar (cf. 2MC 6, 18-31).
O martírio teve seu ponto alto em Jesus
Cristo. Santo Estevão é o primeiro mártir do Cristianismo após Jesus
Cristo (cf. At 7, 55-60). No fim do século I, o Apocalipse fala de
“imensa multidão”, que ninguém pode numerar, daqueles que lavaram e
alvejaram suas túnicas no sangue do Cordeiro” (cf. Ap 7, 9.14). Em
síntese, São Paulo afirma que “todos aqueles que quiserem viver com
piedade em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2Tm 3, 12).
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