“O
gênero humano”, disse o poeta T.S. Eliot, “não suporta muita
realidade”. Não precisamos ir longe para encontrar provas dessa
afirmação. Hoje, as pessoas fogem da vida real, uma a uma, retirando-se
para suas distrações particulares. As rotas de fuga vão das drogas e do
álcool aos romances de ficção e jogos de realidade virtual.
O que a realidade tem que a humanidade
acha tão insuportável? A enormidade do mal, sua aparente onipresença e
seu poder, e nossa evidente incapacidade de fugir dele – na verdade,
nossa incapacidade de perpetrar o mal. O inferno, ao que parece, está em
toda parte – em imitação barata da onipresença de Deus -, ameaçando nos
consumir, nos sufocar.
Essa é a realidade que não suportamos.
Contudo, é a dura e terrível realidade que João descreveu, sem hesitar,
no Apocalipse. As bestas de João assomam monstruosas, além da mais
medonha visualização de Hollywood, estalando as mandíbulas para as
presas mais inocentes e vulneráveis: uma mulher grávida, um bebê.
Desprezam a natureza e a graça, a Igreja e o Estado. Varrem um terço das
estrelas do céu. São o poder por trás do trono das nações e dos
impérios. Fortalecem-se com a imoralidade das pessoas que seduzem;
embriagam-se com o “vinho” da prostituição, da ganância e do poder
abusivo de suas vítimas.
Ao enfrentar essa oposição, precisamos
escolher: lutar ou fugir. É um instinto humano básico. Além disso,
depois de uma avaliação superficial de nossos recursos aparentes, e dos
recursos aparentes do inimigo, “fugir” parece ser a escolha razoável.
Entretanto, segundo os mestres espirituais, a fuga não é opção real. Em
sua clássica obra O combate espiritual, Dom Lorenzo Scupoli escreveu:
“Esta guerra é inevitável e é preciso lutar ou morrer. A obstinação dos
inimigos é tão ameaçadora que a paz e a arbitragem são completamente
impossíveis”. Em suma: fugimos do mal, mas não conseguimos nos esconder.
Além disso, não subimos ao céu se
fugimos do combate. Deus nos destinou- a nós, Igreja- a ser a esposa do
Cordeiro. Contudo, não governamos sem antes vencer as forças que se
opõem a nós, aos poderes que são pretendentes ao nosso trono.
O que vamos fazer? Devemos olhar a nossa
volta, depois de erguer o véu da simples visão humana. João revela a
notícia mais estimulante para os cristãos em combate. Dois terços dos
anjos estão do nosso lado, lutando com constância enquanto dormimos. São
Miguel Arcanjo, o mais feroz guerreiro do céu, é nosso aliado
incansável e imbatível. Todos os santos do céu clamam constantemente a
Deus por nossa defesa. E no fim- o mais estimulante de tudo- nós
vencemos! João vê o combate da perspectiva da eternidade; assim, ele
revela o fim tão brilhantemente quanto descreve as perdas. As batalhas
devastam tão encarniçadamente que os rios ficam vermelhos como sangue e
corpos apodrecem amontoados nas ruas. Porém, os vitoriosos entram em uma
cidade com rios que correm com água da vida e com sol que nunca se põe.
Leia novamente o padre Scupoli: “Se a
fúria dos inimigos é grande e seu número esmagador, o amor que Deus tem
por você é infinitamente maior. O anjo que o protege e os santos que
intercedem por você são mais numerosos”.
*HAHN, S. O banquete do Cordeiro: a missa segundo um convertido. 11ª edição. São Paulo: Ed. Loyola, 2009.
*Um dos livros de Scott Hahn, um
renomado professor de teologia e de Escritura na Universidade
Franciscana em Steubenville, nos Estados Unidos, fundador e dirigente do
Institute off Applied Biblical Studies, é o “Banquete do Cordeiro”, no
qual revela um segredo duradouro da Igreja: a chave dos cristãos para
entender os mistérios da missa.
O autor explora o mistério da Eucaristia
com os olhos novos e fala da missa como um poderoso dama sobrenatural,
no qual o sacrifício real do Cordeiro traz o céu à terra. Hahn era
protestante calvinista e quando se pôs a estudar sobre a vida dos
primeiros cristãos, se aproximou da Eucaristia.
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