Alguns dificilmente conseguem dissimular o despeito, e procuram
vingar-se nos outros e na vida. Há também os que se proporcionam uma
vida agradável a qualquer preço, buscando os prazeres conforme o próprio
apetite. Outros, por fim resignados, acabam por acomodar-se: não se
preocupam mais com o problema, cumprem conscienciosamente seus deveres
profissionais e, se forem cristãos, buscam no respeito às regras morais e
religiosas uma segurança tranquilizadora ou uma compensação para a sua
sensibilidade, num misticismo sem vida.
Compreendendo a decepção, a revolta, a luta e o sofrimento deles é preciso que se diga a uns e outros, delicadamente, o quanto se enganam, o celibato não é um fracasso; é um convite a se realizar plenamente, mas noutro plano que o do lar. Só o egoísta é estéril.
Você nunca encontrou a “alma irmã”.
Pedro gostava de você, mas seus pais – por questões financeiras – impediram que o romance continuasse.
Você recusou Luís; para você ele não era o homem “perfeito” com quem você sonhava.
Paulo morreu.
Absorvida por deveres familiares ou pela dedicação a alguma “obra”, dedicação mais ou menos esclarecida, você ficou “sobrando”.
À medida que os anos passam, a sua solidão vai se tornando mais pesada.
Você fica a olhar os esposos que se abraçam.
Você vê os filhos de seus amigos… e você sofre na carne, no coração.
Afinal, quem é você?
Para seus pais, se você mora com eles, uma criança:
“Você fechou bem a porta?”; “Ainda não apagou a luz?”; “Chegou carta; é de fulana”; “Não se penteie assim!”
Para a vizinhança você é “uma solteirona”: “que pena, não conseguiu se casar”
Para você mesma, quantas vezes, uma frustrada.
É bem verdade que o homem sozinho é, de certa forma, incompleto: “Não é bom que o homem seja só” (capítulo 1 do Gênesis).
Todo o homem, porque foi criado à imagem de Deus é chamado à comunidade e à unidade com outra ou outras pessoas.
Ele é chamado a ser criador, no amor. Todo homem deve “desposar”. Todo homem deve “engendrar”, mas há muitos níveis de realização para essa comunidade e essa paternidade.
Existem outras unidades além da unidade física de um homem e de uma mulher no casamento: “Serão uma única carne” (Capítulo 1 do Gênesis).
A unidade espiritual com todos os homens, nasce de um coração amigo e disponível; a unidade sobrenatural com toda a humanidade no Cristo, nasce do amor-caridade para com todos.
Há outra fecundidade além da fecundidade física: a fecundidade espiritual.
E ainda há mais outra fecundidade, além da fecundidade espiritual, é a fecundidade sobrenatural, no Cristo.
Você não é um “frustrado”, porque, como solteiro, você tem de realizar a sua unidade e a sua fecundidade em níveis superiores.
Você é chamado a um equilíbrio e a um desenvolvimento mais difícil, porem, mais profundo e mais fecundo.
A vocação própria é para cada um a melhor e a mais bela; em si, porém, a virgindade aceita e, mais ainda, a virgindade consagrada é um estado de vida superior ao casamento, porque o corpo limita o homem, só o espírito lhe oferece o infinito. (Ver São Paulo, 1Epist. aos Coríntios, cap. 7,27. 33-34. 37-38).
Estéril é aquele que vive sem amor. O amor é sempre portador e criador de vida. Não importa o seu estado, ame e você dará a vida.
Vida alguma pode desabrochar, expandir-se completamente se não for plenamente aceita.
Toda vocação é uma resposta consciente e livre a um oferecimento de Deus. Não foi você quem escolheu o seu celibato, foram os acontecimentos que lho impuseram. Enquanto você apenas o suportar, você não conseguirá viver.
Se você quiser conhecer a alegria da plenitude e da fecundidade, é preciso que você o aceite e a ele adira livremente.
O que faz você sofrer há tanto tempo é a incerteza sobre a sua vocação. Devo pensar em um lar? Devo organizar minha vida de solteiro?
Vida alguma é “pré-fabricada”, os dons de cada um, os acontecimentos permitidos por Deus orientam as existências.
É dentro da noite que nos cabe decifrar as cartas de amor que Deus nos envia. O mais puro lê mais depressa, o mais desapegado comete menos erros na leitura e na aplicação.
Viva a sua vida presente, e mantenha-se disponível. Não é porque um rapaz e uma moça se gostam mutuamente que devem, obrigatoriamente, casar-se. O afeto sensível é um sinal que por si só não é suficiente.
Não é porque você tanto deseja casar-se, que você esteja obrigatoriamente destinado ao casamento; a atração é apenas um elemento, entre outros, na vocação de cada um.
Desconfie de sua imaginação. Em sonhos é fácil construir um lar; em sonhos é fácil educar crianças.
A renúncia assume para você aspectos de esforço sobre-humano, porque são seus sonhos que você deve abandonar; e, com toda a certeza, a realidade iria contrariar esses sonhos.
Além das aparências tranquilizadoras, homem algum conhece sua própria fecundidade.
Não é porque você é solteiro que deva renunciar a ser adulto. Ser adulto é ser interiormente autônomo. Escravo de um dever mal compreendido, você não tem o direito de restringir sua vida ao ritmo de vida de seus pais idosos.
Há galhos que é preciso podar, há parasitas que é preciso cortar. Você tem medo de se embrenhar pelo desconhecido. Você tem medo de fazer os outros sofrerem. Você tem as incompreensões, as lágrimas, os julgamentos severos e, sob pretexto de amor filial e de devotamento, você esconde a própria fraqueza, paralisa o seu desenvolvimento e frustra seus pais na maturidade a qual eles têm direito. Não obstante todas as aparências, você os impede de progredir…
Não é para si próprios que os homens criam e educam os filhos, mas para os outros e para Deus (qualquer que seja o seu estado de vida).
Enquanto eles não derem totalmente os filhos, sua missão não está terminada. Se ainda os disputam aos outros (maridos, filhos, profissão, compromissos… humanidade, Deus), por pouco que seja, estão fracassando. Eles não amam bastante seus filhos.
Ainda que você se tenha colocado em condições exteriores que facilitem o seu equilíbrio humano, você nada terá feito, ainda, para o completo desenvolvimento e a fecundidade de sua vida: se você continuar na sua torre de marfim, se você se “instalar” na vida, se você se recusar a engajar-se no mundo para o serviço de seus irmãos.
Para que a sua vida de solteiro tenha êxito é preciso sublimar todas as potências de sua pessoa; mas sublimação não quer dizer: refugiar-se no sonho, evadir-se no idealismo, buscar compensações evidentes ou disfarçadas, mas pelo contrário, à plena luz aceitar as próprias forças, mesmo quando sua vitalidade for, às vezes, inquietante; organizá-las, concentrá-las e orientá-las conscientemente para um desenvolvimento superior.
O celibato não esclerosa as faculdades afetivas, reclama, pelo contrário, o seu crescimento infinito, alargando o coração até os limites do Mundo.
Frequentando uma amiga só, a sua sensibilidade será bem pobre. Frequentando apenas um ambiente de solteiros, você estará limitando em muito o seu desenvolvimento. Visitar sempre um único lar poderia ser perigoso, pois “o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.
Não se apegue demais a um padre, poderia haver prejuízos para ambos; acolha bem a todos os outros, começando pelos mais próximos: uma vizinha idosa, uma viúva que busca emprego, os noivos que procuram casa, o adolescente que se procura a si mesmo…
Abra-se inteiramente aos problemas do Mundo, engaje-se sem medo no serviço concreto dos homens, no sindicato, no partido político…
Não se “defenda”; é um dever para você unir sua vida ao destino de seus irmãos.
Se você fez o sacrifício de um lar, seja para o serviço de todos. Então, se você duvidou de suas possibilidades, você ganhará novamente confiança em você mesmo; se você foi sempre “esmagado”, se sentirá ainda mais firme; se você sofreu por causa da solidão, os contatos – inclusive com pessoas de sexo diferente – concorrerão para o equilibrar; se a sua fé se estiolou, ela se fortificará e se tornará adulta.
Mulher solteira, o Senhor precisa de você, mulher disponível, para ser mãe do humano num mundo inumano. Não se “refugie” na piedade sentimental; seu amor de Deus não passaria da busca de uma satisfação pessoal. Mas, num único esforço, abra toda a sua alma a Deus, aos homens, e, despojada, disponível, pacificada, você conhecerá a ALEGRIA daquela que se dá.
No meio dos esquartejamentos inerentes a toda vida, deixe-se guiar pelo Espírito: Se você sabe reconhecer sua fraqueza, permanecer atenta e pobre, responder aos seus convites, através dos acontecimentos Ele lhe mostrará o caminho.
Depois de ter andado bastante, olhe para trás. Olhe o caminho percorrido. Você compreenderá porque Deus tinha especialmente reservado para você essa estrada; então sem reserva nenhuma, você poderá dizer-lhe OBRIGADO.
Retirado do livro “Construir o Homem e o Mundo”, de Michel Quoist
Compreendendo a decepção, a revolta, a luta e o sofrimento deles é preciso que se diga a uns e outros, delicadamente, o quanto se enganam, o celibato não é um fracasso; é um convite a se realizar plenamente, mas noutro plano que o do lar. Só o egoísta é estéril.
Você nunca encontrou a “alma irmã”.
Pedro gostava de você, mas seus pais – por questões financeiras – impediram que o romance continuasse.
Você recusou Luís; para você ele não era o homem “perfeito” com quem você sonhava.
Paulo morreu.
Absorvida por deveres familiares ou pela dedicação a alguma “obra”, dedicação mais ou menos esclarecida, você ficou “sobrando”.
À medida que os anos passam, a sua solidão vai se tornando mais pesada.
Você fica a olhar os esposos que se abraçam.
Você vê os filhos de seus amigos… e você sofre na carne, no coração.
Afinal, quem é você?
Para seus pais, se você mora com eles, uma criança:
“Você fechou bem a porta?”; “Ainda não apagou a luz?”; “Chegou carta; é de fulana”; “Não se penteie assim!”
Para a vizinhança você é “uma solteirona”: “que pena, não conseguiu se casar”
Para você mesma, quantas vezes, uma frustrada.
É bem verdade que o homem sozinho é, de certa forma, incompleto: “Não é bom que o homem seja só” (capítulo 1 do Gênesis).
Todo o homem, porque foi criado à imagem de Deus é chamado à comunidade e à unidade com outra ou outras pessoas.
Ele é chamado a ser criador, no amor. Todo homem deve “desposar”. Todo homem deve “engendrar”, mas há muitos níveis de realização para essa comunidade e essa paternidade.
Existem outras unidades além da unidade física de um homem e de uma mulher no casamento: “Serão uma única carne” (Capítulo 1 do Gênesis).
A unidade espiritual com todos os homens, nasce de um coração amigo e disponível; a unidade sobrenatural com toda a humanidade no Cristo, nasce do amor-caridade para com todos.
Há outra fecundidade além da fecundidade física: a fecundidade espiritual.
E ainda há mais outra fecundidade, além da fecundidade espiritual, é a fecundidade sobrenatural, no Cristo.
Você não é um “frustrado”, porque, como solteiro, você tem de realizar a sua unidade e a sua fecundidade em níveis superiores.
Você é chamado a um equilíbrio e a um desenvolvimento mais difícil, porem, mais profundo e mais fecundo.
A vocação própria é para cada um a melhor e a mais bela; em si, porém, a virgindade aceita e, mais ainda, a virgindade consagrada é um estado de vida superior ao casamento, porque o corpo limita o homem, só o espírito lhe oferece o infinito. (Ver São Paulo, 1Epist. aos Coríntios, cap. 7,27. 33-34. 37-38).
Estéril é aquele que vive sem amor. O amor é sempre portador e criador de vida. Não importa o seu estado, ame e você dará a vida.
Vida alguma pode desabrochar, expandir-se completamente se não for plenamente aceita.
Toda vocação é uma resposta consciente e livre a um oferecimento de Deus. Não foi você quem escolheu o seu celibato, foram os acontecimentos que lho impuseram. Enquanto você apenas o suportar, você não conseguirá viver.
Se você quiser conhecer a alegria da plenitude e da fecundidade, é preciso que você o aceite e a ele adira livremente.
O que faz você sofrer há tanto tempo é a incerteza sobre a sua vocação. Devo pensar em um lar? Devo organizar minha vida de solteiro?
Vida alguma é “pré-fabricada”, os dons de cada um, os acontecimentos permitidos por Deus orientam as existências.
É dentro da noite que nos cabe decifrar as cartas de amor que Deus nos envia. O mais puro lê mais depressa, o mais desapegado comete menos erros na leitura e na aplicação.
Viva a sua vida presente, e mantenha-se disponível. Não é porque um rapaz e uma moça se gostam mutuamente que devem, obrigatoriamente, casar-se. O afeto sensível é um sinal que por si só não é suficiente.
Não é porque você tanto deseja casar-se, que você esteja obrigatoriamente destinado ao casamento; a atração é apenas um elemento, entre outros, na vocação de cada um.
Desconfie de sua imaginação. Em sonhos é fácil construir um lar; em sonhos é fácil educar crianças.
A renúncia assume para você aspectos de esforço sobre-humano, porque são seus sonhos que você deve abandonar; e, com toda a certeza, a realidade iria contrariar esses sonhos.
Além das aparências tranquilizadoras, homem algum conhece sua própria fecundidade.
Não é porque você é solteiro que deva renunciar a ser adulto. Ser adulto é ser interiormente autônomo. Escravo de um dever mal compreendido, você não tem o direito de restringir sua vida ao ritmo de vida de seus pais idosos.
Há galhos que é preciso podar, há parasitas que é preciso cortar. Você tem medo de se embrenhar pelo desconhecido. Você tem medo de fazer os outros sofrerem. Você tem as incompreensões, as lágrimas, os julgamentos severos e, sob pretexto de amor filial e de devotamento, você esconde a própria fraqueza, paralisa o seu desenvolvimento e frustra seus pais na maturidade a qual eles têm direito. Não obstante todas as aparências, você os impede de progredir…
Não é para si próprios que os homens criam e educam os filhos, mas para os outros e para Deus (qualquer que seja o seu estado de vida).
Enquanto eles não derem totalmente os filhos, sua missão não está terminada. Se ainda os disputam aos outros (maridos, filhos, profissão, compromissos… humanidade, Deus), por pouco que seja, estão fracassando. Eles não amam bastante seus filhos.
Ainda que você se tenha colocado em condições exteriores que facilitem o seu equilíbrio humano, você nada terá feito, ainda, para o completo desenvolvimento e a fecundidade de sua vida: se você continuar na sua torre de marfim, se você se “instalar” na vida, se você se recusar a engajar-se no mundo para o serviço de seus irmãos.
Para que a sua vida de solteiro tenha êxito é preciso sublimar todas as potências de sua pessoa; mas sublimação não quer dizer: refugiar-se no sonho, evadir-se no idealismo, buscar compensações evidentes ou disfarçadas, mas pelo contrário, à plena luz aceitar as próprias forças, mesmo quando sua vitalidade for, às vezes, inquietante; organizá-las, concentrá-las e orientá-las conscientemente para um desenvolvimento superior.
O celibato não esclerosa as faculdades afetivas, reclama, pelo contrário, o seu crescimento infinito, alargando o coração até os limites do Mundo.
Frequentando uma amiga só, a sua sensibilidade será bem pobre. Frequentando apenas um ambiente de solteiros, você estará limitando em muito o seu desenvolvimento. Visitar sempre um único lar poderia ser perigoso, pois “o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.
Não se apegue demais a um padre, poderia haver prejuízos para ambos; acolha bem a todos os outros, começando pelos mais próximos: uma vizinha idosa, uma viúva que busca emprego, os noivos que procuram casa, o adolescente que se procura a si mesmo…
Abra-se inteiramente aos problemas do Mundo, engaje-se sem medo no serviço concreto dos homens, no sindicato, no partido político…
Não se “defenda”; é um dever para você unir sua vida ao destino de seus irmãos.
Se você fez o sacrifício de um lar, seja para o serviço de todos. Então, se você duvidou de suas possibilidades, você ganhará novamente confiança em você mesmo; se você foi sempre “esmagado”, se sentirá ainda mais firme; se você sofreu por causa da solidão, os contatos – inclusive com pessoas de sexo diferente – concorrerão para o equilibrar; se a sua fé se estiolou, ela se fortificará e se tornará adulta.
Mulher solteira, o Senhor precisa de você, mulher disponível, para ser mãe do humano num mundo inumano. Não se “refugie” na piedade sentimental; seu amor de Deus não passaria da busca de uma satisfação pessoal. Mas, num único esforço, abra toda a sua alma a Deus, aos homens, e, despojada, disponível, pacificada, você conhecerá a ALEGRIA daquela que se dá.
No meio dos esquartejamentos inerentes a toda vida, deixe-se guiar pelo Espírito: Se você sabe reconhecer sua fraqueza, permanecer atenta e pobre, responder aos seus convites, através dos acontecimentos Ele lhe mostrará o caminho.
Depois de ter andado bastante, olhe para trás. Olhe o caminho percorrido. Você compreenderá porque Deus tinha especialmente reservado para você essa estrada; então sem reserva nenhuma, você poderá dizer-lhe OBRIGADO.
Retirado do livro “Construir o Homem e o Mundo”, de Michel Quoist
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