segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Clínicas populares atraem pacientes pelos preços baixos

Clínicas de Fortaleza chegam a cobrar R$ 70 por uma consulta, com direito a retorno, mesmo sem convênio
De olho em um potencial de mercado que movimenta cerca de R$ 1 trilhão por ano, as chamadas clínicas populares elegeram a nova classe social emergente C como alvo para ofertar os seus serviços. Muitos consumidores com até R$ 2,5 mil de renda familiar, mas sem planos de saúde e tempo para esperar nas longas filas do Sistema Único de Saúde (SUS) estão migrando para clínicas populares em busca de serviços rápidos e baratos.

No Centro, em um único quarteirão é possível encontrar até oito clínicas populares
FOTO: ÉRIKA FONSECA


Com a expansão deste tipo de serviço em todas as regiões brasileiras, hoje é possível entrar em um consultório médico sem temer o risco de contrair uma dívida impagável. Clínicas de Fortaleza e da Região Metropolitana chegam a cobrar R$ 70 por uma consulta, com direito a retorno, mesmo que o usuário não seja coberto por nenhum convênio.

É possível fazer uma Ultrassonografia abdominal total por R$ 60, enquanto na maioria das clínicas particulares o serviço custaria em média R$ 160. Já um diagnóstico complexo, como uma ressonância magnética, também pode custar até 65% mais barato que a média do que normalmente é cobrado nas clínicas particulares.

Demanda

A demanda da classe média por serviços de saúde fez aumentar o número de empresas que atuam no setor. Atentos à ascendência deste mercado, um grupo de médicos atuantes em Fortaleza se uniu para criar a Clínica Nova, que fica localizada no Centro de Fortaleza.

"As clínicas populares estão ocupando lacunas entre os planos de saúde e o SUS. Uma consulta particular pode custar até R$ 250 e no sistema público a demora chega a ser absurda. Por isso, aproveitamos as ´falhas´ desses sistemas para investir no crescimento do segmento", conta o sócio-administrativo da Clínica Nova, Yuje Takeda.

O baixo custo chega a atrair até 40 pacientes por dia em uma única clínica. "Em menos de um mês de funcionamento já atendemos mais de 1.000 pacientes, ou seja, cerca de 40 por dia. E a tendência é só aumentar", ressalta Takeda.

Capitalização

Nas clínicas espalhadas pela Capital é possível encontrar até mais de 20 especialidades atendidas por médicos, que, na maioria das vezes, são conveniados a planos de saúde e têm seus próprios consultórios.

Segundo o médico Assis Carvalho, sócio da Clínica Nova, não há nenhuma mágica na existência das clínicas populares. Segundo o médico, uma consulta paga pelos planos de saúde é de aproximadamente R$ 49 por consulta que, em geral, é paga somente depois de quarenta dias. Nas clínicas, os médicos cobram R$ 70, pagam menos com a manutenção da unidade e recebem o restante no ato.

"Nas consultas particulares, eles repassam o custo com infraestrutura, funcionários e acomodações. Na clínica popular isso é oferecido sem um alto custo, por isso o atendimento com os mesmos especialistas tem um preço mais baixo. Conseguimos captar mais pacientes por um preço mais acessível", destaca o médico.

De acordo com Yuje Takeda, como a média de atendimento por consultório é relativamente alta (em torno de 40 pacientes por dia), a liquidez torna-se um fator muito interessante para garantir a lucratividade deste segmento de mercado. Ele destaca que o modelo de clínica médica popular pode ser bastante lucrativa uma vez que os custos de investimentos são relativamente menores em relação aos tradicionais centros de especialidades médicas com ofertas de serviços particulares.

Crescimento

Alguns prédios da Rua Dr. João Moreira, no Centro de Fortaleza, mais precisamente próximo à Santa Casa de Misericórdia, transformaram-se em um grande aglomerado médico-hospitalar que atende a preços reduzidos. Em um único quarteirão, é possível encontrar até oito clínicas populares.

A fila de pacientes chega à calçada do quarteirão que concentra a maioria das clínicas populares de Fortaleza, mas quem está nelas garante que se livra de uma espera ainda maior. "No consultório demora muito e ainda tem que agendar. Já no SUS, não tem nem como tentar. Por outro lado, aqui chegou e pagou", diz a dona de casa Cecília Amélia Moreira, que veio do município de Jaguaruana para conseguir um atendimento.

O mesmo acontece com a auxiliar de serviços gerais Venusia Militão de Lima. Aos 46 anos, ela não tem cobertura de nenhum plano de saúde e, após quatro tentativa frustradas, resolveu se consultar em uma clínica popular. "Estou doente a pelo menos oito dias. Já fui na UPA (Unidade de Pronto Atendimento), no Hospital Geral de Fortaleza e nada. Não fui liberada do trabalho e por isso preciso melhorar logo", conta Venusia que resolveu utilizar o serviço pela primeira vez.

Alternativa

Para o Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec), as clínicas podem ser uma boa alternativa para médicos e pacientes, desde que prevaleça a conduta ética. "Queremos que os pacientes sejam atendidos bem, sendo colocados à disposição deles os recursos que a medicina tem", afirma o tesoureiro do Cremec, Rafael Dias.

De acordo com ele, para as clínicas serem consideradas legais é necessário que os profissionais sigam a conduta do valor mínimo de uma consulta. "Os convênios cobram cerca de R$ 50 por uma consulta e esperamos as clínicas tentem cobrar um valor equivalente a isso", afirma Dias.

Ele ainda ressalta que as falhas no sistema público acabam incentivando este tipo de atividade. "As pessoas que não conseguem atendimento no SUS e procuram as clínicas populares em busca de um atendimento rápido e dentro das suas condições financeiras", avalia. 

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