A realidade enunciada neste título é uma circunstância que tem –
verdadeiramente – escravizado muitíssimas pessoas em nosso tempo,
roubando a alegria e o sentido de suas vidas. São inúmeros os corações,
principalmente dos mais jovens, que se têm deixado dominar por inúmeras
formas de carências afetivas, as quais não lhes permitem compreender o
próprio valor e os tornam verdadeiros "mendigos" de pobres migalhas de
afeto.
"As carências são o vazio que ficou no coração, por não
ter recebido o necessário amor afetivo no decurso da vida. São um vazio,
uma falta de amor: uma verdadeira fome, uma fome de amor" (PEDRINI,
2006, p. 20). Tal definição (de carência) é clara e com precisão nos
revela a dinâmica de tal realidade, a qual tem o poder de nos trancafiar
em um verdadeiro cárcere emocional.
Em virtude de um intenso processo de domínio
por parte das carências, poderá alguém, por exemplo, ter quarenta anos
de idade, mas, seus afetos e emoções terem apenas dez. Isso em virtude
de não ter recebido o suficiente amor para amadurecer e avançar
afetivamente ao longo de sua história. Tal pessoa possuirá uma
afetividade imatura e infantil, mesmo diante das muitas décadas que
coleciona na existência.
Essa fragilidade pode gerar inúmeros
desequilíbrios emocionais, além de causar muitos problemas e
desencontros em nossos relacionamentos. Os filhos que não se sentiram
suficientemente amados, por exemplo, poderão ter uma grande tendência à
rebeldia e a constantes desobediências para com seus pais. Tal
comportamento poderá configurar, ainda que de maneira inconsciente, um
ato como que de "vingança" da parte dos filhos para com os genitores,
isso em virtude de não terem recebido o suficiente amor afetivo que
esperavam receber.
Da mesma forma, as carências podem fabricar
inúmeros problemas na vida conjugal, pois "o casal carente não se casa
para amar, mas para ser amado" (PEDRINI, 2006, p. 20). Seu coração
carente só espera receber o amor do outro, nunca sabendo gratuitamente o
ofertar. A consequência de tal comportamento será manifestada, mais
cedo ou mais tarde, com brigas, cobranças, exigências e chantagens sem
igual, tornando assim insuportável qualquer relacionamento e interação.
Quantos
não são os corações que se encontram infelizes em virtude de carências e
vazios? Quantos olhares não carregam dores e feridas profundas que os
marcaram e que ainda os acompanham tornando suas vidas pesadas e sem
sentido? Pode ser que você, que agora lê este artigo, identifique alguns
destes processos acontecendo em sua história e coração. Saiba que a
tudo isso será necessário reagir, não se permitindo por tais realidades
escravizar.
A carência percorre as estradas de muitos corações,
tornando tristes suas histórias e opacos os seus olhares. A carência não
pode nem deve ser suprida, assim ela fabrica escravidão. A carência
precisa ser curada e superada! Este será o caminho para uma concreta
restauração e libertação afetiva.
Somente o amor poderá curar as
carências do coração e não há qualquer esquema ou raciocínio que possa
fazê-lo, pois, como dizia o filósofo Blaise Pascal: "Uma gota de amor
vale mais que um oceano de inteligência".
Necessário é se
permitir amar tendo também a coragem de ofertar o amor, visto que será
isso o que nos restaurará e curará em nossos vazios. Afinal, o processo
de cura das carências afetivas só se tornará verdadeiramente possível
através do exercício do amor afetivo, constantemente dado e recebido,
independentemente do contexto e personagens. É preciso ter iniciativas
de amor, as quais, por sua vez, gerarão um propício ambiente de amor,
pois, afinal: o "amor atrai o amor" e a atitude de amar sempre dará à
luz um ambiente e atitudes de amor, mesmo em circunstâncias de
hostilidade e desafeto.
Faz-se extremamente necessário não ter
medo de amar e de demonstrar o afeto em qualquer situação; isso sem
desequilíbrios, é claro. Tal realidade curará o coração, enchendo-o de
luz, esperança e vida nova.
Texto extraído do livro "Curar-se para ser Feliz" de padre Adriano Zandoná
Padre Adriano Zandoná
Sacerdote da Comunidade Canção Nova
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