Quando
eu tinha 23 anos de idade, recém-formado, aprovado como professor de
uma universidade federal – UNIFEI – já casado e pai do nosso primeiro
filho, Mateus, eu me sentia como um pequeno rei na face da terra. De
repente, comecei a perceber que a minha vista estava enfraquecendo, e
rapidamente, comecei a enxergar mal.
Eu que nunca havia usado óculos, pensei que fosse apenas um pequeno
problema e logo procurei o oftalmologista. Tão logo eu me sentei diante
dos seus aparelhos, ele me disse: – Má notícia, você está com deformação
das córneas, uma doença chamada ceratrocone, não tem cura, só pode ser
melhorada com o uso de lentes de contato de vidro. Outra saída seria
fazer transplantes das córneas, algo que naquele tempo (1973) era coisa
rara.Naquela manhã eu saí do médico como se tivesse tomado uma “paulada na moleira” como diz o povo. Caí de quatro, desabou o meu pequeno reinado que não tinha durado nem um ano. Me lembro que na época eu já conhecia e trabalhava com o padre Jonas Abib, e, junto com minha esposa, lhe perguntei:
- Padre, o que será que Deus quer de tudo isto?
Ele apenas me respondeu:- “Não sei, mas Ele tem um propósito nisto, só saberemos mais tarde”.
Depois de usar as duras e incômodas
lentes de contato por dez anos, tive de me submeter a quatro cirurgias
para transplante das córneas porque as lentes já não faziam mais efeito.
Foi uma dura experiência! Mas eu já tinha aprendido a dar graças a Deus
por tudo.
Hoje eu sei que através de tudo o que eu tive de passar, Deus mudou
sem dúvida a minha vida. Talvez eu não estivesse escrevendo essas linhas
se Ele não tivesse permitido que tudo isto acontecesse. Deus seja
louvado!Hoje, enxergo relativamente bem e faço tudo o que preciso, apenas usando óculos.
Lembro-me de que certa vez, enquanto eu ainda usava as lentes de contato, fomos com toda a família passar uns dias na praia. Numa manhã, eu jogava bola com os filhos, ainda pequenos, na areia; de repente, a bola bateu em meu rosto e eu perdi uma das lentes de contato, e sem ela eu quase nada enxergava. Procuramos por muito tempo na areia, mas não a encontramos. Dei graças a Deus e entreguei o problema em suas mãos. Quando voltamos para casa, fui ao médico para fazer uma nova lente.
Após me examinar ele disse: “foi bom você ter perdido esta lente, ela já estava fora do seu grau, e se você continuasse a usá-la ela iria prejudicar a sua córnea”. Dei graças a Deus de novo, por ter perdido aquela lente, pois naquela hora eu sabia o porquê Deus permitiu que eu a perdesse.
Uma das experiências mais emocionantes e proveitosas que aprendi na fé, é dizer a Deus “obrigado”, também quando as coisas dão errado.
Toda vez que você perceber que agiu sem fé, na mesma hora peça perdão a Deus pela sua falta de fé, e por ter tomado das Suas mãos as rédeas de sua vida; e as entregue de novo a Ele. Deus compreende a sua fraqueza, e o perdoa, e está pronto a renovar em você o Espírito Santo; mas temos também de fazer a nossa parte, continuar lutando, sem desanimar e sem desesperar.
Podemos dizer “obrigado Senhor” mesmo quando o mundo todo está desabando ao nosso lado. Por quê?
Porque Deus é todo poderoso, Pai amoroso, e sustenta o mundo em suas mãos, e tem o comando da minha vida. Deus não pode nos abençoar se ao invés de confiar Nele ficarmos nervosos, lamuriando, xingando, ou até quem sabe revoltados contra Ele pelo que aconteceu. É claro que nesta hora o demônio vai soprar no seu ouvido algo assim: “está vendo, Deus não ama você de jeito nenhum; se o amasse não deixaria isto acontecer com você!”. Quando você louva a Deus neste momento, você dá um tapa na cara do tentador e ele se vai.
Mesmo na dor mais profunda, mesmo na perda mais dramática, diga a Deus “obrigado Senhor” por tudo isto, por mais absurdo que possa lhe parecer. Se você fizer esta experiência na fé, verá Deus agir em sua vida poderosamente.
Ele manda “dai graças em tudo”, exatamente por aquilo que está “doendo” agora dentro de você.
Quando louvamos a Deus no sofrimento não estamos exaltando o mal e nem mesmo querendo dizer que Deus possa ser seu autor ou que nos queira ver sofrer; nada disso, apenas confiamos que se Ele permitiu que esse mal acontecesse conosco – e que não foi causado por Ele – é porque Ele saberá tirar daí um bem maior.
Quando aceitamos trocar a nossa vontade pela vontade de Deus, Ele supre a nossa fraqueza com a Sua força. São Paulo chegou a dizer: “sinto alegria nas minhas fraquezas… Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10). O Apóstolo tinha muito claro diante dos seus olhos toda a sua fraqueza: “Porém, temos esse tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós.” (2Cor 4,7).
Caminhar pela fé meu irmão, abandonar-se em Deus, é crer e aceitar de bom grado “toda” a vontade de Deus para a nossa vida, qualquer que ela seja, em qualquer situação, sem reclamar, sem lamuriar, sem blasfemar.
Prof. Felipe Aquino
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