Infelizmente, ou até felizmente, vivemos numa situação humana marcada
por grandes diferenças. Em determinados casos podemos chamar de
profundos abismos, seja na área social, política, econômica,
psicológica, religiosa etc. Isto está muito claro entre o Criador,
totalmente perfeito, e a criatura, condicionada às inumeráveis
imperfeições.
Dentro das condições naturais da vida, todas as
pessoas são chamadas à perfeição ou, pelo menos, a fazer esforço para
viver nestas condições. Portanto, a correspondência a isto depende de
cada um. Só assim é possível haver ordem social, convivência harmoniosa
e diminuição dos extremos, porque eles são excludentes e, às vezes,
desumanos.
Todo chamado supõe alguma resposta, que deve
ser assumida com muita responsabilidade. A proposta de Deus, contida na
Sagrada Escritura, é apresentada nestas condições, e traz
consequências para a vida social. Agindo assim, estamos contribuindo com
o bem das pessoas e participando da construção do que motiva o bem
viver, a harmonia na comunidade.
Quem faz o bem pode ser chamado de “ungido do
Senhor”, de quem entendeu o sentido da vida, e exercita suas qualidades
para construir um mundo e uma sociedade como ambiente saudável. Todos
nós podemos contribuir para vivenciar essa utopia, quebrando os muros
existenciais que aumentam e fortalecem as distâncias.
Um chamado, na visão cristã, identifica-se com a
palavra vocação, ou missão de construir alguma coisa. A vida não pode
ser infecunda, como uma parasita, que não contribui com nada. Sendo
criatura, cada pessoa participa do projeto criador, de construir, de
dar perfeição e condições de vida para toda a obra criada,
principalmente, o ser humano.
Falar de chamado, como vocação, significa
perfeição, mas também santidade, isto é, de uma vida ofertada para o
bem da comunidade e para o seguimento de Jesus Cristo. Supõe engajamento
comunitário para transforma a sociedade em ambiente de amor e
fraternidade. Corremos o grande perigo da fuga e do distanciamento da
realidade, da rebeldia contra a vontade do Criador, deixando lugar para
o envolvimento do reino do mal, da injustiça e da falta de paz.
DOM PAULO MENDES PEIXOTO
ARCEBISPO DE UBERABA - MG
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