Que
verdade maravilhosa esta que o Profeta Isaias nos comunica: somos a
alegria de Deus. O grande Padre da Igreja Santo Irineu já tinha dito por
volta do ano 160, que “o homem é a glória de Deus”. Esta criatura tão
frágil e tão grande é a glória e a alegria do Todo – Poderoso.
Mas como podemos ter certeza disso? Será
que somos mesmo tão importantes para Deus? Será que a nossa existência
pode mesmo afetar a sua alegria?
Sim, é a resposta. Vamos meditar.
São Paulo diz na Carta aos Efésios “que
do alto do céu o Pai nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo
e nos escolheu Nele antes da criação do mundo” (Ef 1, 3).
Então, não viemos ao mundo por acaso,
não, o Senhor “nos desejou desde antes da criação do mundo”, e, sem
violentar a liberdade de nossos pais terrenos, nos deu a vida. Deus é o
grande “amigo da Vida”, e se rejubila quando uma criança nasce, porque é
mais uma criatura gerada à sua imagem e semelhança que vem a este mundo
para enriquece-lo. Lamentavelmente perdemos esta percepção.
O que mais vale no mundo é a vida; nada
tem tanto valor como uma criança; é por isso que a Igreja costuma dizer
que o sorriso de uma criança veio do céu. Aqui a gente entende porque a
Igreja não quer um controle irracional da natalidade como acontece hoje,
onde a maioria dos países já não consegue repor a população, e por
isso, começa a diminuir os seus habitantes. É a desvalorização da vida.
Disse Henry Daniel Rops, um dos maiores
historiadores católicos do século XX, que “um povo que não quer mais se
reproduzir é um povo doente”. É verdade, se a civilização despreza o
maior valor, a vida, se tem medo dela, então, há algo de muito errado
com esta civilização que já não está mais disposta a defender o que há
de mais sagrado. A frase que João Paulo II mais repetiu aos casais no
Jubileu do Ano 2000 foi esta: “Não tenham medo da vida!”
São Paulo continua a nos dizer na Carta
aos Efésios que: “No seu amor nos predestinou para sermos adotados como
filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre
vontade” (v. 5). Somos filhos de Deus e somos de fato, diz também São
João:
“Considerai com que amor nos amou o Pai,
para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato” (1Jo
3,1). Ora, qual é a grande alegria dos pais; não são os seus filhos?
Então, o profeta Isaías está certo:
“Tu és a alegria do teu Deus”.
Cada um de nós, tão pequenino, toca o
Coração de Deus. São Paulo ainda disse aos efésios que fomos criados
“para celebrar a glória de Deus”.
“Nele é que fomos escolhidos,
predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato
deliberado de sua vontade, “para servirmos à celebração de sua glória”
(v. 11-12)”.
Era exatamente isto que Santo Irineu queria dizer ao falar que “o homem é a glória de Deus”.
A vida do homem “celebra a glória de
Deus” porque é a sua mais bela criatura visível; nada se lhe compara. A
ninguém o Senhor deu inteligência, liberdade, vontade, consciência,
capacidade de amar, de cantar, de sorrir e de chorar… A ninguém ele deu
poder de voar nos altos dos céus, de construir as belas catedrais, de
tocar o chão da lua, de perscrutar as estrelas…
O salmista já rezava admirado:
“Que é o homem, digo-me então, para
pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com
eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e
honra o coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós
lhe submetestes todo o universo”. Sl (8, 5- 6)
Fomos criados por amor, como filhos
amados, para reinar neste mundo em nome do Criador, e dar-lhe honra e
glória pelo que somos e fazemos. Não podemos viver uma vida pequena,
mesquinha, desvalorizada, desprezada, simplesmente porque o Criador não
nos fez para isso. Ele nos quer grandes, por dentro, não por fora.
São Paulo ainda repete uma vez mais aos
efésios, que Ele nos “adquiriu para o louvor da sua glória” (v. 14). A
beata Elizabeth da Trindade fez dessa verdade o lema de sua vida e assim
se santificou. Ele fez de cada instante de sua vida, no Carmelo, um ato
de louvor a Deus.
Quando a humanidade experimentou o sabor
horrendo do pecado, e em consequência, o sabor amargo da morte, Cristo
se prontificou a se oferecer pelo nosso resgate das mãos cruéis do
demônio. São Pedro explica como ninguém:
“Porque vós sabeis que não é por bens
perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa
vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo
precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum,
aquele que foi predestinado antes da criação do mundo”. (1 Pe 1, 18,19)
Fomos criados pelo amor e pelo poder de
Deus e fomos resgatados da morte pelo amor de Deus, porque somos filhos
de Deus. Isto é, Deus fez por nós o que cada um está disposto a fazer
pelo seu próprio filho.
“Tu és a alegria do Senhor teu Deus” (Is 62,5)
Esta é a razão pela qual Jesus deseja
ardentemente ser recebido em nosso coração, na Comunhão sacramental ou
mesmo na espiritual, muitas vezes durante o dia. Os santos
experimentaram fortemente o quanto Jesus ama vir ao nosso coração. A
explicação é esta: nós somos o amor da sua vida! A prova disso é que Ele
a sacrificou por nós. Ninguém morre por alguém que não ama. E o que o
amado mais deseja é estar junto, em comunhão, com a sua amada. A nossa
alma é esposa do Altíssimo.
Santa Teresinha do Menino Jesus disse
que Jesus não desceu do Céu na Eucaristia para ficar numa âmbula de
ouro, mas para viver em nosso coração. Ele é o refúgio do Coração de
Jesus; ele é o travesseiro onde Ele pode reclinar a sua cabeça. Daí a
importância de Comungar com frequência e com devoção, oferecendo ao
Amado o amor da sua amada. Não se esqueça jamais:
“Tu és a alegria do Senhor teu Deus” (Is 62,5)
Prof. Felipe Aquino
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