As Escrituras, na sua sábia descrição da criação do homem, colocam nos
lábios do Pai Eterno, uma lista de coisas que o casal humano pode fazer
e usar legitimamente. É uma lista longa. Mas também estabelece algumas
proibições. É um verdadeiro código de ética, simplificado. “Não
comereis da fruta da árvore da vida” (Gen 2, 17 ). Mas os nossos
primeiros pais não resistiram à propaganda enganosa do espírito do mal. A
experiência eventual de conhecer o bem e o mal, e de serem poderosos
como o Criador, apareceu como uma tentação irrefreável. Mais. Parecia
que Deus tinha o desejo secreto de não permitir seu pleno
desenvolvimento.
Daí sentiram a necessidade de “assassinar o
pai”, definitivo símbolo da ordem e arquétipo do bem comum. A
paternidade respeitada tornar-se-ia a garantia da paz social, da
liberdade e do progresso. A independência das ordens eternas foi um
monumental erro. A desobediência lhes apareceu como um gesto de
esperteza. Daí a partir para as rebeldias é um passo só. Ser contra o
pai é uma involução. É tornar-se adepto da anarquia, sinônimo de falsa
liberdade. O imperativo categórico do bem comum foi interpretado como
inibição da realização. Embora as Escrituras digam: “fazei o bem e
evitai o mal” (Is 7, 15), acha-se isso uma lei não obrigatória.
Os anarquistas tupiniquins realizam atos
reprováveis. Antes guardam bem seus carros em estacionamentos, e depois
vão quebrar as agências de automóveis; fazem seguro dos seus bens, e
assaltam caminhões carregados de mercadorias; provocam os soldados da
ordem pública, e acusam a reação dos homens da lei como selvageria.
Ao quebrarem e destruírem os bens de todos,
esquecem o princípio de ouro da convivência humana: “Não faças aos
outros o que não queres que te façam”. Esse quadro vai mudar? Acho
difícil. No Brasil não há mais ensino religioso nas escolas; os
delinqüentes não tem respeito pelo pai; não há punição exemplar dos
delitos contra a sociedade; o nosso regime político favorece a luta de
classes quando propõe esquemas bolivarianos; ninguém desses
malfeitores freqüenta as comunidades religiosas para aprender a
sabedoria divina. Assim mesmo, digo-lhes de coração, o que disse o
Concílio Vaticano II: “Todos cultivem com grandeza de alma o amor à
pátria” (GS 75).
DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG
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