segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um povo pode viver sem lei?

As Escrituras, na sua sábia descrição da criação do homem, colocam nos lábios do Pai Eterno, uma lista de coisas que o casal humano pode fazer e usar legitimamente. É uma lista longa. Mas também estabelece algumas proibições. É um verdadeiro código de ética, simplificado. “Não comereis da fruta da árvore da vida” (Gen 2, 17 ). Mas os nossos primeiros pais não resistiram à propaganda enganosa do espírito do mal. A experiência eventual de conhecer o bem e o mal, e de serem poderosos como o Criador, apareceu como uma tentação irrefreável. Mais. Parecia que Deus tinha o desejo secreto de não permitir seu pleno desenvolvimento.

Daí sentiram a necessidade de “assassinar o pai”, definitivo símbolo da ordem e arquétipo  do bem comum. A paternidade respeitada tornar-se-ia a garantia da paz social, da liberdade e do progresso. A independência das ordens eternas foi um monumental erro. A desobediência lhes apareceu como um gesto de esperteza. Daí a partir para as rebeldias é um passo só. Ser contra o pai é uma involução. É tornar-se adepto da anarquia, sinônimo de falsa liberdade. O imperativo categórico do bem comum foi interpretado como inibição da realização. Embora as Escrituras digam: “fazei o bem e evitai o mal” (Is 7, 15), acha-se isso uma lei não obrigatória.

Os anarquistas tupiniquins realizam atos reprováveis. Antes guardam bem seus carros em estacionamentos, e depois vão quebrar as agências de automóveis; fazem seguro dos seus bens, e assaltam caminhões carregados de mercadorias; provocam os soldados da ordem pública, e acusam a reação dos homens da lei como selvageria.

Ao quebrarem e destruírem os bens de todos, esquecem o princípio de ouro da convivência humana: “Não faças aos outros o que não queres que te façam”. Esse quadro vai mudar? Acho difícil. No Brasil não há mais ensino religioso nas escolas; os delinqüentes não tem respeito pelo pai; não há punição exemplar dos delitos contra a sociedade; o nosso regime político  favorece a luta de classes quando propõe esquemas bolivarianos;  ninguém desses malfeitores freqüenta as comunidades religiosas para aprender a sabedoria divina. Assim mesmo, digo-lhes de coração, o que disse o Concílio Vaticano II: “Todos cultivem com grandeza de alma o amor à pátria” (GS 75).
  DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG

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