Devemos
compreender que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita para os homens e
pelos homens; logo, ela apresenta duas faces: a divina e a humana. Logo,
para poder interpretá-la bem é necessário o reconhecimento da sua face
humana, para depois, compreender a sua mensagem divina.
Não se pode interpretar a Sagrada
Escritura só em nome da “mística”, pois muitas vezes podemos ser levados
por ideias religiosas pré-concebidas, ou mesmo podemos cair no
subjetivismo.
Por outro lado, não se pode querer usar
apenas os critérios científicos (linguística, arqueologia, história,…); é
necessário, após o exame científico do texto, buscar o sentido
teológico.
A Bíblia não é um livro caído do céu,
ela não foi ditada mecanicamente por Deus e escrita pelo autor bíblico
(= hagiógrafo), mas é um Livro que passou pela mente de judeus e gregos,
numa faixa de tempo que vai do século XIV a.C. ao século I d.C. E por
causa disto é necessário usar uma tradução feita a partir de originais e
com seguros critérios científicos.
Os escritos bíblicos foram inspirados a
certos homens; isto é, o Espírito Santo iluminou a mente do hagiógrafo a
fim de que ele, com sua cultura religiosa e profana, pudesse transmitir
uma mensagem fiel à vontade de Deus. A Bíblia é portanto um livro
humano-divino, todo de Deus e todo do homem, transmite o pensamento de
Deus, mas de forma humana. É como o Verbo encarnado, Deus e homem
verdadeiro. É importante dizer que a inspiração bíblica é estritamente
religiosa; isto é, não devemos querer buscar verdades científicas na
Bíblia, mas verdades religiosas, que ultrapassam a razão humana: o plano
da salvação do mundo, a sua criação, o sentido do homem, do trabalho,
da vida, da morte, etc.
Não há oposição entre a Bíblia e as ciências naturais, ao contrário,
os exegetas (estudiosos da Bíblia) usam das línguas antigas, da
história, da arqueologia e outras ciências para poderem compreender
melhor o que os autores sagrados quiseram nos transmitir.
Mas é preciso ficar claro que a
revelação de Deus através da Bíblia não tem uma garantia científica de
tudo o que nela está escrito. É inútil pedir à Bíblia uma explicação dos
seis dias da criação, ou da maneira como podiam falar os animais, como
no caso da jumenta de Balaão. Esses fatos não são revelações, mas
tradições que o autor sagrado usou para se expressar.
A própria história contida na Bíblia não
deve ser tomada como científica. O que importa é a “verdade religiosa”
que Deus quis revelar, e que às vezes é apresentada embutida em uma
parábola, ou outra figura de linguagem.
O mais importante é entender que a verdadeira leitura bíblica deve sempre ter em vista a finalidade principal de toda a Sagrada Escritura
que é a de anunciar Jesus Cristo e dar testemunho de sua pessoa. Para
aqueles que viviam no Antigo Testamento, se tratava apenas de um
Salvador desconhecido, que viria. Mas para nós, se trata do Salvador que
“habitou no meio de nós”, e que ressuscitado está no meio de nós até o
fim dos tempos, quando voltará visível e glorioso para encerrar a
história.
Por ser Palavra de Deus, a Bíblia nunca
envelhece, nem caduca; ela fala-nos hoje como para além dos séculos.
Cristo é o centro da Sagrada Escritura. O Antigo Testamento o anuncia em
figuras e na esperança; o Novo Testamento o apresenta como modelo vivo.
O Catecismo nos ensina que “Deus, na
condescendência de sua bondade, para revelar-se aos homens, fala-lhes em
palavras humanas” (§101).
“Através de todas as palavras da Sagrada
Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo único, no qual se
expressa por inteiro” (§102).
“Com efeito, as palavras de Deus,
expressas por linguagem humana, tal como outrora o Verbo do Pai Eterno,
havendo assumido a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos
homens” (DV,13).
Santo Agostinho ensinava que:
“É uma mesma Palavra de Deus que se ouve
em todas as Escrituras, é um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os
escritores sagrados, ele que, sendo no início Deus, junto de Deus, não
tem necessidade de sílabas, por não estar submetido ao tempo”(Sl
103,4,1).
Somente as palavras originais com as
quais a Bíblia foi escrita (hebraico, aramaico e grego) foram
inspiradas; as traduções não gozam do mesmo carisma da inspiração; é por
isso que a Igreja sempre teve muito cuidado com as traduções, pois
podem conter algum sentido que não foi da vontade do autor e de Deus.
As traduções devem ser fiéis aos originais; e isto não é fácil.
Prof. Felipe Aquino
Retirado do livro: “Escola da Fé- Vol. 2 – As Sagradas Escrituras”
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