sexta-feira, 28 de março de 2014

Saber Parar

IMAGEM 0753 - TEMPO CERTOMuitas vezes o homem moderno apenas se suporta porque não tem mais tempo, ou não sabe mais arranjar tempo de parar, e de se olhar interiormente, para tomar consciência de si mesmo. À força de se omitir, não ousa mais recolher-se, porque seria brutalmente recolocado diante de responsabilidades que o amendrontam. Agitar-se dá-lhe a impressão de estar vivendo, mas ele na realidade está se aturdindo, o que faz que ele escape a si mesmo e se condene à vida instintiva.
Não é mais homem, e sim, animal. Aceitar parar é o primeiro ato que lhe vai permitir restituir-se a si mesmo.
Se você força seu carro a andar sempre em grande velocidade, acabará por cansar o motor.
Se sua vida for continuamente “forçada”, seu corpo e seu espírito logo ficarão gastos.
À força de correr, você acabará por não encontrar mais ninguém em seu caminho, e, o que é pior, não encontrará mais nem você mesmo.
Se você quiser assenhorar-se daquilo que há de mais profundo em você, é preciso que saiba parar.
Se você comer de pé, fará má digestão. Sente-se.
Se você pensar correndo, fará má reflexão. Sente-se.
Não espere que Deus faça você parar para tomar consciência de que você existe. Quando isso se der, será tarde demais, e você não poderá mais ter mérito.
O professor, que não consegue impor disciplina aos alunos, gostaria de fugir da sala de aula.
A dona da casa que não sabe controlar o serviço de casa, amargura-se dentro de seu lar.
O homem que não se domina mais abandona-se a si mesmo, e passa diante de sua porta sem ousar entrar mais dentro de si.
Se você está atrasado no pagamento do aluguel, certamente não deseja encontrar o proprietário.
Se, por negligência você deixou de encontrar um amigo durante muito tempo, fica sem jeito para abordá-lo depois.
Se você não consegue parar, é porque tem medo de encontrar-se a si mesmo, e se você tem medo de encontrar-se é porque não está mais habituado consigo mesmo, porque não se conhece mais e porque tem medo de suas próprias censuras e de suas próprias exigências.
Você não tem tempo de parar? Seja franco: há momentos vazios entre suas ocupações, há um tempo “picadinho” em sua vida. Não se apresse em enchê-lo com barulho, com o jornal, com uma conversa, uma presença…
Enquanto você espera sua vez no barbeiro, não se precipite sobre uma revista. Pare.
Quando você estiver no ônibus, comprimido pela multidão, embalado pelo barulho anônimo, pare de devanear.
O almoço não está pronto. Não saia um minuto para telefonar.
Pare.
Se acontece dispor de um momento de silêncio, não ouça música. Pare…
Se o nadador ergue a cabeça fora da água, é para encher os pulmões de ar.
Se o automobilista estava diante do posto de gasolina, é para reabastecer o tanque.
Se você para, é para tomar consciência de si, reunir todas as suas forças e faculdades, ordená-las e dirigi-las, a fim de mergulhar fundo na vida.
Aceitar parar é sinal que você aceita olhar-se; e olhar-se já é começar a agir, pois é fazer penetrar o espírito no interior de si mesmo.
Você não se conhecerá e não se compreenderá perfeitamente senão sob a luz de Deus.
Você não agirá eficazmente senão em união com a ação de Deus.
Quando você marcar um encontro consigo mesmo, marque também um encontro com Deus.
No correr do seu dia, agarre todas as ocasiões que a vida lhe oferece, para se recuperar e unir-se a Deus:
a fila do ônibus
a linha que está ocupada
a mamadeira quente demais
o sinal vermelho
o sanduíche que o garçom demora a entregar…
Nunca “mate o tempo”. Por mais diminuto que ele seja, é providencial: o Senhor está presente nele. E ele o convida a reflexão e a decisão para que você se torne mais humano.
Michel Quoist
Trecho retirado do livro: “Construir o homem e o mundo”

Nenhum comentário:

Postar um comentário