O medo paralisa a pessoa e a implode interiormente. Talvez seja ele uma das piores realidades de nossos dias.
Considerando, humanamente, a vida
moderna, há razões de sobra para se ter medo; contudo, à luz da fé, é
necessário e urgente vencê-lo, sob pena de sermos destruídos por ele.
É importante para a nossa vida
espiritual observar com que frequência e energia Jesus combatia o medo
que as pessoas apresentavam, sejam elas os Apóstolos ou as pessoas do
povo.
Já no Antigo Testamento era comum essa
ordem de Deus ao povo: “não temas!”. Quer dizer, Deus não admite que a
fé Nele seja menor que o medo das circunstâncias e problemas da vida.
Ele quer que, a todo instante, a confiança e o “abandono” em suas mãos,
supere todo medo que nos invade, e que, na maior parte das vezes, não é
lógico, e se constitui mais numa tentação.
O Tentador sabe que uma alma
amendrontada, perturbada, é alvo fácil de sua maldade; e é, para muitos,
o meio que ele usa para afastar a pessoa de Deus, da oração, da
Eucaristia, etc. É , principalmente, pela nossa fantasia, que o demônio
nos amedronta. Ele é perito nesta arte.
Vamos recordar, algumas vezes, em que Deus fala ao povo, sobre a necessidade de vencer o medo pela fé.
A Josué, encarregado de entrar com o seu povo na Terra Santa, vencendo os seus inimigos, o Senhor disse:
“Não temas, nem tenhas cuidados… Eis que te entrego o rei de Hai, seu povo, sua cidade e sua terra”(Jos 8,1).
E, quando Josué enfrentava todos os reis que se juntaram contra ele, Deus lhe disse:
“Não os temas, porque amanhã, a essa mesma hora, eu os lançarei ofegantes diante de Israel” (Jos 11,6).
Quando o povo de Israel amedrontava-se perante o gigante filisteu, Golias, o pequeno Davi expulsava o medo dizendo:
“Ninguém desanime por causa desse filisteu! Teu servo irá combatê-lo” (I Sam 17,32). E disse ao gigante:
“Tu vens a mim, com espada, lança e
escudo; eu porém vou a ti em nome do Senhor dos exércitos… Toda a terra
saberá que há um Deus em Israel e toda essa multidão saberá que não é
com a espada e nem com a lança que o Senhor triunfa, pois a batalha é do
Senhor, e ele vos entregou em nossas mãos” (I Sam 17,45-47).
É essa certeza de Davi – “a batalha é do Senhor” – que afasta o medo do perigo.
Diante do temor da batalha, Deus disse ao rei Josafá:
“Não temais, não vos deixeis atemorizar
diante desta multidão imensa, pois a guerra não compete a vós, mas a
Deus” (II Crônicas 20,15).
Josafá confiou no Senhor, que “entregou os seus inimigos nas suas mãos”.
Passagens semelhantes há muitas no Antigo Testamento. E Jesus renova esta ordem aos discípulos – “não temas!”.
A eles, apavorados perante a tempestade, Jesus diz:
“Porque este medo, gente pobre de fé?” (Mt 8,26);
“Onde está a vossa fé?” ( Lc 8,25).
Esta pergunta o Senhor faz também a cada
um de nós, nos momentos em que deixamos a nossa alma entrar em agitação
e ficar sem condições de rezar ou de trabalhar.
Em outra ocasião, quando alguém informou a Jairo que a sua filha já morrera, e que não incomodasse mais o Mestre, Jesus lhe diz:
“Não temas, crê somente, e ela será salva” (Lc 8,50).
Em seguida, foi à casa de Jairo e ressuscitou a menina.
O medo retira-nos a fé e,
consequentemente, impede o poder de Deus de agir. Quando Jesus chamou
Pedro para vir a seu encontro, andando sobre as águas, ele foi, mas
permitiu que o medo tomasse conta do seu coração; então começou a
afundar. Após salvá-lo, Jesus lhe pergunta:
“Homem pobre de fé, por que duvidaste? “ (Mt 15,31).
Pedro sentiu medo porque “olhou” para o
vento e para a fúria do mar, ao invés de manter os olhos fixos no
Senhor. Esse também é o nosso grande erro. Ao invés de manter os olhos
fixos no Senhor, permitimos que as circunstâncias que nos envolvem nos
amedronte. É olhando para o Senhor, na fé, que se evita o pânico. Nesta
hora, é preciso repetir, com o coração, palavras de fé e de abandono no
Senhor, como Moisés no seu Cântico:
“O Senhor é a minha força e o objeto do meu cântico. É ele quem me salvou” (Ex 15,2).
Ou como o salmista, que repete sem cessar:
“O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?” (Sl 26,1).
“Só
em Deus repousa a minha alma; é dele que me vem a salvação. Só ele é
meu rochedo e minha salvação. Minha fortaleza: jamais vacilarei” (Sl
61,23).
Toda a Bíblia está repleta de “orações
de fé”, as quais devemos sempre repetir, sem cessar, até que o temor
fuja do nosso coração. A Palavra de Deus afugenta o medo e a fantasia.
Não podemos, em hipótese alguma, abrigar
o medo e o pânico na alma; não permitir-lhes que “durmam” conosco. Não!
Arranque-os pela fé, pela oração, decididamente. São Paulo diz:
“Alegrai-vos sempre no Senhor, repito,
alegrai-vos… O Senhor está perto. Não vos inquieteis com coisa alguma,
mas em todas as circunstâncias apresentai os vossos pedidos diante de
Deus, com muita oração e preces e ação de graças”… E a paz de Deus, que
supera todo entendimento, guardará os vossos corações e os vossos
sentimentos em Cristo Jesus” (Fil 4,4).
O medo não é de Deus. Renuncie-o
decididamente; é uma arma terrível que o demônio usa para esvaziar a
nossa fé, que é o poder que o vence. Jamais podemos permitir que a nossa
alma fique “perturbada”. Se isto ocorrer, entre em oração até que a
calma retorne ao coração, pela fé e pelo abandono nas mãos do Senhor.
Não cesse de orar enquanto não voltar a paz, mesmo entre as
circunstâncias desfavoráveis. Lembre-se das palavras do Senhor:
“Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim”( Jo 14,1).
“Coragem! Eu venci o mundo (Jo
16,33).”Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo
a dá. Não se perturbe o vosso coração nem se atemorize!” (Jo 14,27).
O medo, em última instância, é falta de segurança. E esta insegurança só pode ser vencida no abandono em Deus.
“Tudo posso naquele que me dá forças.”
(Fil4,13). Esse “tudo posso” quer dizer que “para Deus nada é
impossível” (Lc1,37). Aos romanos (Rm 8,31), o Apóstolo perguntava:
“Se Deus é por nós, quem será contra nós?”
É claro que toda a fé em Deus, não nos
dispensa de fazer a nossa parte. Não basta rezar e confiar, cruzando em
seguida os braços; Deus não fará a minha parte. Como dizia Santo Inácio
de Loyola: “Rezar como se tudo dependesse só de Deus, mas trabalhar como
se tudo dependesse só de nós”.
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