A situação é antiga e crítica, mais de 100 macas se aglomeram, doentes reclamam do atendimento precário
"Nunca imaginei que fosse passar por tudo isso", conta o aposentado Francisco de Assis Oliveira, internado há 20 dias na emergência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Espremido em meio a uma centena de macas, ele lamenta a falta de cuidados, conforto e privacidade na ala conhecida como "piscinão". Em um salão improvisado na recepção, 95 doentes se rendiam ontem àquelas condições.
A reportagem testemunhou, ontem, queda de energia na unidade. Apesar dos problemas antigos, o sentimento dos profissionais de Saúde é de otimismo com relação ao novo secretário da Pasta, Ciro Gomes Foto: Ivna Girão
Entretanto, o novo secretário da Saúde do Ceará, Ciro Gomes, anunciou, no seu primeiro dia de trabalho, que irá resolver o problema tão antigo: "tenho ordem do governador para resolver e não posso demorar mais que 90 dias. E vou fazer". Essa notícia é recebida com esperança pelo aposentado Francisco e outros tantos enfermos. "A situação não pode mais ficar assim. Ninguém aguenta essa penúria. É uma falta de respeito com o cidadão que já está sofrendo por estar doente", diz Assis. Ele reclama da demora no atendimento, espera há uma semana por uma cirurgia e nada. "Desse modo, a gente vai levando a dor, o choro e esse imenso desconforto".
Testemunho
A reportagem do Diário do Nordeste passou mais de uma hora no "piscinão" do HGF durante a tarde de ontem e não faltaram cenas de desrespeito e insatisfação: enfermos amontoados (alguns sentados em cadeiras, outros encostados no chão), junção de várias enfermidades em um só ambiente, falta de privacidade, sujeira, dejetos acumulados, mau cheiro e muito calor.
Comum também era a reclamação da existência de poucos profissionais para a grande demanda, escassez de equipamentos, dificuldades de vagas em leitos, de exames e de remédios.
Para agravar ainda mais esse cenário quase de guerra, ontem, por volta das 15h, a reportagem testemunhou uma "queda" de energia: corredor da emergência, próximo da Zona Azul, ficou totalmente escuro, sem refrigeração. O clima era de medo.
Ainda desacostumada com o "piscinão", a dona de casa Neuma Moreira torce para que o problema seja logo resolvido e que ninguém mais precise passar por essa situação de penúria. "O governo tem toda condição de acabar com tudo isso. Basta tomar uma decisão. Cobramos melhorias urgentes", afirma ela.
Esperança
Marta Brandão, atual presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Sindsaúde), vê com otimismo a iniciativa do novo secretário, Ciro Gomes. "Isso é uma decisão política, de governo. Se há vontade, o problema será resolvido, sim. O caso do HGF é um problema de infraestrutura que pode ser amenizado em até menos de 90 dias. Basta querer. O governo já não construiu vários hospitais no Interior? Fica fácil reformar esse".
Financiamento
José Maria Pontes, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), também aprova a medida de Ciro Gomes, disse que a entidade pode colaborar e está aberta ao diálogo. "O secretário está com muita boa vontade e temos que aproveitar o momento para dar fim a esse ´piscinão´. Entretanto, não basta só desejo, tem que haver financiamento e melhor planejamento público".
O Hospital Geral de Fortaleza (HGF) enviou nota esclarecendo que em relação à lotação na emergência do HGF esse não é um problema único e direcionado a esta unidade de saúde. "O número de leitos no HGF foi ampliado nos últimos anos, passando de 319 em 2007 para 525 atualmente". Ainda segundo a direção, o crescimento do número de pacientes na emergência do HGF se deve a vários fatores, entre eles a longevidade, que vem acompanhada de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, o que acaba ocasionando AVC e, por conseguinte, a entrada e permanência dos pacientes por mais tempo na unidade.
"Foi criada a Unidade de Cuidados Especiais que abriu mais 14 leitos de internação. Na UCE, os pacientes são acompanhados por equipe multidisciplinar 24 horas por dia, igualmente aos outros leitos disponibilizados no hospital". Segundo o órgão, o HGF vai investir R$ 2,8 milhões na reestruturação da urgência e emergência, com apoio inclusive do governo federal. Sobre a queda de energia, a gerência disse que o local tem geradores.
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