O bom relacionamento sexual na vida do casal é de fundamental importância para a sua harmonia.
A primeira necessidade é conhecer o sentido da
vida sexual no plano de Deus. O sexo tem duas dimensões na vida
conjugal: unitiva e procriativa.
A dimensão unitiva significa que o sexo é um
meio de unidade do casal. Mais do que nunca é no relacionamento sexual
que eles se tornam ´uma só carne´ . São Paulo lembra aos coríntios o
perigo do pecado da fornicação, exatamente porque, como diz, ´aquele
que se ajunta a uma prostituta se torna um só corpo com ela. Está
escrito: ‘Os dois serão uma só carne’ ´(Gen 2,24).
O ato sexual, para o casal, é a mais intensa
manifestação do seu amor; é a celebração do amor no nível afetivo e
sensitivo. Portanto, não pode haver sexo sem profundo amor. Ele só
pode ser vivido no casamento, porque só no casamento existe um
compromisso de vida para toda a vida, e a responsabilidade de assumir
as suas consequências, especialmente os filhos.
O que faz do sexo algo perigoso e desordenado, é
exatamente o seu uso fora de uma realidade de manifestação de amor.
Se tirarmos o amor, o sexo se transforma em mera prostituição: sexo
sem amor, sem compromisso. Aquele que usa da prostituta não tem
responsabilidade sobre ela; não importa se amanhã ela estará doente,
desempregada, passando fome, ou morrendo de AIDS. Foi apenas um
instrumento de prazer, que foi alugado por alguns instantes. É o grande
desvirtuamento de uma das realidades mais lindas criadas por Deus.
Se ao criar todas as coisas, ´Deus viu que
tudo era bom´(Gen 1,10), também o sexo, já que foi feito com a bela
finalidade de gerar a vida e unir os esposos. Se ele fosse sujo, em si
mesmo, a criança não poderia ser tão bela e inocente. Nossos filhos
vieram ao mundo porque tivemos relações sexuais. Deus, na Sua sabedoria,
quis assim; quis que no auge da celebração do amor do casal, o filho
fosse gerado, para que este não fosse apenas ´carne da carne dos
pais´, mas ´amor do seu amor´.
A Igreja sempre viu com olhos claros esta
realidade. São Paulo, há vinte séculos já dava orientação segura aos
fiéis de Corinto, sobre isto:
´O marido cumpra o seu dever para com a sua
esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido. A
mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence a seu marido. E da
mesma forma o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua
esposa. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo, por
algum tempo, para vos aplicardes à oração; e depois retornais um para o
outro, para que não vos tente Satanás por vossa incontinência´ (1 Cor
7, 3´5).
Com essas orientações o Apóstolo mostra a
legitimidade da vida sexual no casamento, e até pede que os casais não
se abstenham dela por muito tempo. ´Não vos recuseis um ao outro´, ele
diz ; e pede que cada um ´cumpra o seu dever´ para com o outro.
Como não ver nestas palavras do Apóstolo, um
pedido aos cônjuges, para que satisfaçam as legítimas aspirações do
outro? É claro que a luz a guiar este relacionamento há de ser sempre o
amor e nunca o egoísmo. Haverá épocas na vida do casal, que a relação
sexual será impossível. Quando a esposa está grávida, já próximo de dar
à luz, após o parto, quando passa por uma cirurgia, etc. Nessas
ocasiões, e em muitas outras, por bom senso, mas também por caridade
para com a esposa, o esposo há de respeitá´la.
Lembro´me de que quando a minha esposa ficou
grávida de nosso terceiro filho, logo no início da gravidez teve uma
ameaça de aborto. A primeira coisa que o médico nos mandou foi
suspender as relações sexuais de imediato; e isto foi durante toda a
gravidez. Só por amor, e com a graça de Deus que o casal recebe pelo
sacramento do matrimônio, é possível superar isto. São as exigências
do amor.
O fato do sexo ser legítimo no casamento, e só
no casamento, não quer dizer que nele ´vale tudo´ como se diz. Não
somos animais irracionais; aliás, nem os animais irracionais fazem
estrepolias em termos de sexo. Ao contrário, são extremamente
naturais.
A moral católica se rege pela ´lei natural´,
que Deus colocou no mundo e no coração do homem. Aquilo que não está
de acordo com a natureza, não está de acordo com a moral. Será que, por
exemplo, o sexo oral ou anal estão de acordo com a natureza?
Certamente não.
O Catecismo da Igreja nos ensina o seguinte:
´Os atos com os quais os cônjuges se unem
íntima e castamente são honestos e dignos. Quando realizados de
maneira verdadeiramente humana, testemunham e desenvolvem a mútua
doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e
agradecido´(CIC, 2362; GS, 49).
Em discurso proferido em 29/10/1951, o Papa
Pio XII disse palavras esclarecedoras sobre a vida sexual dos casais:
´O próprio Criador... estabeleceu que nesta
função (i.é, de geração) os esposos sentissem prazer e satisfação do
corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em
procurar este prazer e em gozá´lo. Eles aceitam o que o Criador lhes
destinou. Contudo, os esposos devem saber manter´se nos limites de uma
moderação justa´ (CIC, 2362).
Tenho ouvido esposas que se queixam dos
maridos que as obrigam a fazer o que elas não querem e não aceitam no
ato sexual. Neste caso, será uma violência obrigá´las a isto. Aquilo que
cada um aceita, dentro das características psicológicas de cada um,
não sendo uma violência à lei natural, pode ser vivido com liberdade
pelo casal. É legítimo que o esposo prepare a esposa para que haja o
que se chama harmonia sexual; isto é, ambos atingirem juntos o
orgasmo. O esposo deve se guiar exatamente pela orientação da esposa,
que saberá mostrar´lhe naturalmente o que ela precisa para chegar ao
orgasmo com ele.
Não é fácil muitas vezes o ajustamento sexual
do casal; e às vezes leva´se anos para que ele aconteça. Também aí há de
haver a paciência e a bondade de um para com o outro, para ajudá´lo a
superar as suas dificuldades. Já acompanhei casais que levaram meses
para conseguir realizar a primeira relação sexual. As vezes, os
condicionamentos do passado, especialmente para a mulher, geram essas
situações. Aí então, mais do que nunca, é preciso fé, paciência e
oração. Mas tudo se resolve, se houver esses ingredientes.
Em tudo o homem é diferente da mulher; Deus nos
fez assim, exatamente para que pudéssemos, ricamente, nos complementar
e enriquecer mutuamente. Também no sexo somos diferentes. O homem é
muito mais ativo. Normalmente é ele que procura a mulher.
Alguém disse que em termos de sexo o homem é
como um fogão a gás, enquanto a mulher é como um fogão a lenha. É
fácil e rápido acender um fogão a gás; basta ter gás e uma centelha.
Mas não é tão fácil acender um fogão a lenha. É preciso começar pondo
fogo nos pequenos gravetos, lentamente, até que o fogo se acenda. É
assim a natureza sexual da mulher.
Ao preparar a esposa para o ato sexual, no que
se chama de prelúdio, ele deve ser mestre. Deve fazê´lo com a mesma
maestria que as nossas avós acendiam todos os dias o fogão a lenha. Se
houver pressa ou imperícia, ou negligência, o fogo não acende. Está
entendendo?
Isto tudo também é amor.
Certa vez li um livro escrito por um casal de
psicólogos americanos, que trabalhou muitos anos com terapia conjugal,
o casal Bird. Entre muitas outras coisas interessantes, eles
afirmavam que nos Estados Unidos, a maioria das mulheres não tinha
satisfação na vida sexual e, muitas vezes, iam aos consultórios dos
psiquiatras dizer que eram doentes, etc. Na verdade, não se tratava de
mulheres doentes, mas de esposas que não chegaram ao ajustamento
conjugal, porque não tiveram certamente a cooperação adequada dos
maridos. É uma questão de educação sexual.
Uma coisa que os homens precisam compreender
muito bem é que a mulher tem muito menos necessidade sexual do que o
homem; e, como disse João Mohana, ela oferece sexo para receber amor,
enquanto o homem oferece amor para receber sexo. Para a mulher, o que
conta é o amor; o romance, as palavras doces... e muitas vezes os
homens não entendem isto.
Para conseguir chegar ao orgasmo, a mulher
precisa ser verdadeiramente amada, respeitada, valorizada, protegida,
etc, pelo seu esposo; mais do que entregar´lhe o corpo, ela tem que
entregar´lhe o coração. O ato sexual para ela não começa na cama, mas
no café da manhã, no beijo da despedida quando ele sai para o serviço,
no telefonema que ele deu durante o dia, naquela rosa, etc.
Há marido que ofende a esposa o dia todo, e
durante a noite quer ter uma doce relação com ela; ora , isto é
impossível. Não se esqueça que o sexo é manifestação de amor. Como
manifestar o amor, se ele não existe? Como unir bem os corpos se os
corações não estão unidos?
Ao falar da sexualidade no casamento, o Catecismo afirma exatamente isto:
´A sexualidade, mediante a qual o homem e a
mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos
esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz respeito
ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de
maneira verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o
qual homem e mulher se empenham totalmente um para com o outro até a
morte.´ (CIC, 2361; FC,11).
Há esposo que não se preocupa com a satisfação
da esposa no ato conjugal; e, uma vez satisfeito, vira para o lado e
dorme. Muitas vezes esta situação vai ficando insuportável para a
esposa; e esta, tantas vezes, começa a se negar ao ato sexual. Com mil
desculpas começa a dizer ´hoje não, estou cansada, tenho dor de
cabeça´, etc. Já ouvi muitas mulheres dizerem que não suportavam mais
´aquilo´... Quando esta situação se agrava, para muitos maridos, surge
a tentação de procurar a satisfação fora de casa; e aí tudo começa a
se complicar.
Portanto, marido e mulher precisam se
esforçar, fazendo cada um o que é necessário para que o casal atinja a
harmonia sexual desejada e necessária. De um lado o marido precisa se
satisfazer com a própria esposa, até mesmo para superar as tentações e
seduções do mundo. De outro lado, ele precisa ajudá´la a superar as
dificuldades apresentadas acima, afim de que a vida sexual não se
torne um tormento para ela.
Especialmente no nosso mundo de hoje, cheio de
sexo explícito a infernizar a vida dos homens, a esposa não pode se
negar ao ato sexual, sem razões. Por causa disso, muitos maridos
acabaram nos braços de outras mulheres.
Certa vez um esposo me disse que tinha perdido a
atração sexual por sua esposa, e estava angustiado. Perguntei´lhe se
sentia atração pelas outras mulheres. A resposta foi rápida: ´ah,
sim!´ Então foi fácil dar´lhe a receita que precisava; disse´lhe:
´deixe de olhar para as outras mulheres, em quaisquer situações, e a
atração pela sua esposa voltará naturalmente´. Também aqui, a
fidelidade conjugal é garantia de felicidade no casamento.
Se nós homens nos policiarmos, e não nos
permitirmos, de forma alguma, olhar as outras mulheres com desejos,
nem assistir filmes pornográficos, e coisas parecidas, então, nos
bastará a satisfação legítima do ato conjugal com nossas esposas.
Infelizmente muitos maridos se permitem entrar no mundo das fantasias
perigosas e proibidas, e depois não querem mais saber das suas
esposas. Onde está o compromisso do matrimônio? Onde está o amor à
família? Onde está a maturidade? Não se esqueça que quem brinca com
fogo acaba se queimando; e que é a ocasião que muitas vezes faz o
ladrão. Sabemos que ´aquilo que os olhos não vêem, o coração não
sente´.
´Vigiai e orai, porque o espírito é forte, mas a carne é fraca´.
Para impedir o adultério, de fato, é preciso impedir antes o adultério de coração.
´Todo aquele que lançar um olhar de cobiça
para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração´ (Mt 5,28).
Se os homens não cometessem esse pecado, não perderiam a atração por suas próprias esposas.
O Apóstolo nos lembra a seriedade do matrimônio:
´Vós todos considerai o matrimônio com
respeito, e conservai o leito conjugal imaculado, porque Deus julgará
os impuros e os adúlteros´ (Hb 13,4).
Gostaria aqui de dizer uma palavra aos jovens
que se preparam para o casamento. A Igreja, com a sua sabedoria
divina, e com sua bondade de mãe, nos ensina que o sexo só deve ser
vivido no casamento, porque somente alí ele é verdadeiramente um
instrumento do amor e da procriação, de maneira séria e responsável.
É claro que viver isto, é para o jovem muito
difícil nos dias atuais, onde o sexo é comercializado de inúmeras
formas, e oferecido de mil maneiras absurdas. No entanto, mais do que
nunca hoje, com a força da graça de Deus, é preciso viver a castidade e
a virgindade, pois esta será a melhor maneira de você se preparar,
como Deus quer, para o seu casamento. Este é o grande desafio para o
jovem cristão hoje. O poeta Paul Claudel disse certa vez que: ´a
juventude não foi feita para o prazer, mas para o desafio´.
Um jovem que se preparou para o casamento,
guardando a castidade e a virgindade, preparou´se para ser fiel ao
outro no casamento. E será abençoado por Deus, porque cumpriu a Sua
santa vontade. É hoje um desafio, um santo e heróico desafio, que Deus
oferece àqueles que forem dignos do nome de cristãos. Ainda que os
amigos não entendam, ainda que o namorado te abandone, vale a pena
guardar o seu corpo, que é templo do Espírito Santo, para viver o sexo
somente no casamento, segundo o plano de Deus. Ninguém é mais feliz do
que aquele que faz a vontade de Deus e obedece Suas Leis.
Jovem que lê estas páginas, se você quiser
construir um belo lar, então comece a construir você em primeiro
lugar. E construir´se é, antes de tudo, dominar´se, controlar as paixões
desordenadas que guerreiam em nossos membros. Elas podem ser
dominadas com o auxílio da graça de Deus. Mais do que ninguém, o
grande Agostinho viveu isto e pôde nos ensinar que: ´o que é
impossível à natureza, é possível à graça de Deus´.
Por isso, aproxime´se de Deus e da sua graça.
Receba regularmente os sacramentos, reze o Rosário da Mãe da pureza,
encontre´se frequentemente com Jesus na Eucaristia, pois Ele é o
Remédio e o Sustento da nossa alma. E você vencerá. Sua família será
bela e seus filhos serão felizes ao seu lado. A luta mais gloriosa que
já travei na minha vida toda foi esta: guardar a castidade até o
casamento; não foi fácil; foi preciso muita convicção, fé, orações, e
até lágrimas, mas tudo compensou. Colho hoje a alegria nos filhos.
Fora do casamento o sexo só traz problemas e
misérias: doenças venéreas, abortos, crimes sexuais, filhos
abandonados, órfãos de pais vivos, mães e pais solteiros, milhões de
jovens adolescentes grávidas e sem a mínima condição de criarem os
seus filhos...O que serão dessas crianças mais tarde? Drogados?
Assassinos? Ladrões?... Tudo pode acontecer com uma criança que é
criada sem receber a educação dos pais.
Podemos dizer, sem medo de errar, que a miséria de
nossa sociedade tem o seu fundamento na sua miséria moral. Porque ela
abandona a lei de Deus, pagando por isso um preço incomensurável.
Medite nessas palavras, e viva´as:
´Felizes os que temem o Senhor,
Os que andam em seus caminhos.
Poderás viver, então, do trabalho de suas mãos,
Serás feliz e terás bem estar.
Tua mulher será em teu lar
Como uma vinha fecunda.
Teus filhos em torno à tua mesa serão
Como brotos de oliveira.
Assim será abençoado aquele
Que teme o Senhor´ (Sl 127,14).
Aqueles que cumprem a Lei de Deus, são
verdadeiramente felizes e constroem famílias fortes. Vejamos o que
Deus disse a Moisés sobre a felicidade que acompanha os que vivem os
Seus mandamentos:
´Se obedeceres fielmente à voz do Senhor, teu
Deus, praticando cuidadosamente todos os seus mandamentos que hoje te
prescrevo, o Senhor, teu Deus, elevar´te´á acima de todas as nações da
terra.
Estas são as bênçãos que virão sobre ti, e te
tocarão se obedeceres a voz do Senhor, teu Deus. Serás bendito na
cidade e bendito nos campos. Será bendito o fruto de tuas entranhas, o
fruto de teu solo, o fruto de teu gado, as crias de tuas vacas e de
tuas ovelhas; benditas serão a tua cesta e a tua amassadeira. Serás
bendito quando entrares e bendito quando saires. O Senhor expulsará
diante de ti todos os inimigos que te atacarem...
O Senhor mandará que a benção esteja contigo,
em teus celeiros e em tuas obras, e te abençoará na terra que há de dar
o Senhor teu Deus. O Senhor te confirmará como um povo consagrado a
Ele, como te jurou, contanto que observes suas ordens e andes pelos
seus caminhos.´ (Deut. 28,1´14)
Esta é a grande felicidade que Deus promete a
todos aqueles que são fiéis aos seus ensinamentos, guardados e
ensinados pela Igreja, por mandato de Cristo.
Do livro ´ FAMÍLIA, SANTUÁRIO DA VIDA´ do Prof. Felipe Aquino
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