Diante da necessidade de ser o melhor e o maior, o mais bonito, o mais
charmoso, o mais admirado, o mais sexy, o mais elegante, enfim, o mais
em tudo, os tempos atuais nos levam a contemplar exageros na malhação
do corpo, na busca de regimes e até ariscando a própria vida.
Já
assistimos vários fatos de jovens que morrem, não por falta de
alimentos, mas sim por pura vaidade, em nome da elegância e do modelo
típico convencionado pelos atores da moda. Modelos criados para servir
ao puro império do consumo, vidas humanas colocadas fora da liberdade e
da dignidade de seres racionais, visando unicamente bens materiais.
A
sociedade moderna perdeu a dimensão sobrenatural da vida humana, do
direito de viver e conquistar a felicidade com dignidade, sem ser
escravo das coisas. Quanta coisa, coisificando até o ser humano! A vida
humana já não tem valor. O que dizer então da natureza? O "tanto faz
como tanto fez" se tornou norma; o fazer por fazer, o gozar a vida e
aproveitar tudo hoje; o pensamento de que a vida acaba tudo aqui nesta
terra, se torna lei suprema para muitos. A perda da esperança de um
mundo melhor leva ao puro relativismo da vida presente e da vida futura.
Hoje
recordamos uma menina de quinze anos, nascida e criada em um povoado no
interior da Palestina, lugarejo que não constava no roteiro das viagens
da época. Foi naquela vila, sem importância, que Deus escolheu a
Mariazinha da casa de Joaquim e Ana para ser a Mãe Daquele que mudou a
história e o rumo da humanidade. O modelo de Deus não vem do centro de
poder, dos lugares importantes e mais visitados. Uma jovem de
aproximadamente quinze anos, não tendo certeza de nada, a não ser a
obediência, é chamada, escolhida para ser mãe, Daquele que esperamos
celebrar em breve o Seu aniversário.
Somos convidados a
equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao
propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a festa litúrgica daquela que
foi concebida sem mácula, hoje convida-nos a acolher, com um coração
aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo. O texto
do evangelista Lucas apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao
contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a
autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e
radical, com os planos de Deus. Do seu "sim" total, resultou a salvação e
vida plena para ela e para o mundo. "Eis aqui a serva do Senhor faça-se
em mim a Tua vontade" (Lc 1, 38). Na Bíblia ser "servo do Senhor" é um
título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou
para o seu serviço e que El e enviou ao mundo com uma missão. Desta
forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade
essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o
projeto de Deus.
Maria responde com um "sim" total e
incondicional. Ela tinha o seu programa de vida, seus projetos pessoais,
mas, todos passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário.
Na
atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de
orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus. O testemunho de
Maria é um testemunho, um modelo que nos questiona fortemente. Maria de
Nazaré foi uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar, uma
pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro pessoal com
Deus. O Mundo está morrendo, porque esqueceu dos verdadeiros exemplos,
modelos, como o da Mariazinha de Nazaré.
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá
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