Em Fortaleza, segundo estimativas, existem cerca de 150 meninos e meninas em situação de rua
Aos olhos da sociedade, eles são invisíveis. Parecem compôr o cenário de ruas e praças da Cidade. A casa que possuem é um pedaço de papelão improvisado na calçada. Dormem ao relento, expostos a todos os riscos que a noite e as ruas oferecem. Basta uma tentativa de aproximação para que as pessoas, automaticamente, se afastem ou se assustem. Embora não haja dados oficiais, existem em Fortaleza cerca de 150 crianças e adolescentes em situação de moradia de rua.
A caminhada com crianças e adolescentes teve concentração na Praça do Ferreira e foi até a Catedral com o intuito de reivindicar melhorias Foto: Kid Júnior
Entretanto, conforme pesquisa não oficial realizada por organizações da sociedade civil, a estimativa é de que sejam pelo menos o dobro: 300 pessoas. Com o intuito de cobrar políticas públicas que pensem a questão da criança e do adolescente em situação de moradia de rua, foi realizada, na tarde de ontem, uma caminhada pelas ruas do Centro da Cidade. A concentração foi na Praça do Ferreira, de onde partiram rumo à Catedral.
Desejo
"Não podemos nos conformar com o fato de termos crianças de 7, 8 anos pernoitando nas ruas de Fortaleza. Eles só pedem para ter uma alternativa de vida que seja fora da rua. Todos dizem que gostariam de estudar e se profissionalizar. Nós, adultos, sociedade e família, temos que corresponder a esses desejos descentes. E, sobretudo, o governo que tem que respeitar o desejo sagrado dessas crianças e adolescentes", frisa Bernardo Rosemeyer, fundador da associação O Pequeno Nazareno.
Manoel Torquato, coordenador da campanha nacional de Enfrentamento à Situação de Moradia nas Ruas de Crianças e Adolescentes, explica que a pesquisa foi realizada com recorte entre os meses de outubro e dezembro do ano passado, quando foram entrevistados 142 crianças e adolescentes. Quantidade suficiente para traçar o perfil deles. Aproximadamente 80% são adolescentes acima de 14 anos, são negros e abaixo da linha de pobreza. Eles foram às ruas por uma combinação de drogas com conflitos familiares. Na maioria dos casos, permanecem até hoje, nas ruas, em decorrência da dependência do crack.
Realidade
Aos 5 anos, Daniel da Silva (nome fictício), 16, começou a pedir dinheiro nas ruas, na companhia da mãe. Quanto tinha 7 anos, ela mandou o irmão mais novo, com quem era muito apegado, pedir dinheiro nos terminais. "Ela dizia que ele tinha que trazer tanto, se não trouxesse apanhava", conta. Como nem sempre o irmão conseguia a quantia exigida, muitas vezes não retornava para casa. Chegava a passar quatro dias sumido. Preocupado, o irmão mais velho passou a procurá-lo nos terminais da Cidade. Foi quando a rua passou a ser a sua morada. O primeiro abrigo que lhe acolheu foi a Casa do Menor São Miguel Arcanjo. Chegou lá com 8 anos. Depois, O Pequeno Nazareno.
Ao todo, estima que passou quatro anos, entre idas e vindas, em abrigos e pelas ruas. Hoje, com a firmeza de quem amadureceu muito para a idade, confessa que passou maus bocados mas ruas, mas só pensa no futuro que quer para si, na companhia do irmão, com quem mora.
ENQUETE
O que lhe trouxe às ruas para protestar?
"Prefiro ajudar as crianças que estão na rua. É uma crueldade muito grande com elas. Todas deveriam estar em casa, com a mãe, o pai, os irmãos, avós e na escola, estudando"Kailane SousaEstudante
"A criança tem direito de ter uma família em casa e um lar para morar. Tem direito de ter uma mãe e um pai em casa. Criança tem direito também de brincar e ter lazer"Emanuelle Rodrigues de OliveiraEstudante
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