Juazeiro do Norte. "Foi Padre Cícero quem colocou Juazeiro do Norte no mapa do Brasil. Sem ele, Juazeiro tinha tudo para ser apenas um povoado sem expressão, como tantos que existem no Brasil." A afirmação do jornalista e historiador Daniel Walker pode ser um tanto quanto forte, mas quem conhece um pouco da história de Cícero Romão Batista, o Padre Cícero, pode enxergar nela boa dose de realidade. E são diversos acontecimentos históricos que comprovam isso. "Padre Cícero, mesmo morto, é o ímã que atrai gente para impulsionar o desenvolvimento da cidade que ele fundou", resume o pesquisador.
Culto ao Santo de Juazeiro representa numa multidão que não para de crescer a cada ano, em busca do milagre ou para o pagamento de promessas por graças alcançadas pela intermediação do "Santo de Juazeiro" FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
Muito mais do que fundador da hoje mais populosa cidade do Cariri, Padre Cícero também foi seu primeiro prefeito e teve atuação destacada em outros setores. Foi um religioso que influenciou e cativou gerações de fiéis. Como administrador, mostrou preocupação com o combate à seca, à erradicação de doenças e com o crescimento do então povoado. "Padre Cícero é multifacetado, polivalente. Sua vida atrai pesquisadores de todos os ramos, como sociologia, antropologia, história, religião, política, economia, etc. É um inesgotável filão para pesquisa, o que pode facilmente ser comprovado pela vasta bibliografia existente sobre ele no Brasil e no exterior", explica Daniel Walker. De acordo com as pesquisas históricas, Padre Cícero também foi benemérito. Entre muitas outras ações, doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto, contribuiu para a instalação de muitas escolas, como a Escola Normal Rural e o Orfanato Jesus Maria José, além de construir as capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nossa Senhora das Dores. No aspecto econômico, foi um visionário, dinamizando o artesanato local como fonte de renda, incentivando a instalação do ramo de ourivesaria e estimulando a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas culturas.
No entanto, na visão de Daniel Walker, um dos principais pesquisadores da vida de Padre Cícero, o aspecto de santidade, que o faz ser reverenciado até hoje por milhões de pessoas, é o que mais se destaca na figura do personagem histórico. "É este aspecto que motivou o fenômeno que tem o seu nome e até hoje resiste, em que pese a Igreja ter feito de tudo para destruí-lo, inclusive banindo-o do seu rebanho com a aplicação da pena de suspensão de ordem 1894", observa o jornalista. "A Igreja e os inimigos do Padre Cícero apostaram que com a sua morte a cidade que ele fundou se acabaria, as romarias deixariam de existir e o seu nome seria apagado da memória do povo. Ledo engano, pois depois da sua morte, Juazeiro cresceu mais, as romarias não pararam e o seu nome continua sendo uma mina para estudos e pesquisas", avalia o historiador. "Ele já está canonizado como santo pelo povo à revelia da Igreja", afirma Daniel Walker.
Padre Cícero foi expulso pela Igreja, acusado de desobediência e heresia. Durante uma missa que celebrava, houve a transformação da hóstia consagrada em sangue, na boca da beata Maria de Araújo. Outros acontecimentos, como uma hóstia transformada em coração, chamaram a atenção do clero, que passaram a acreditar numa farsa, fazendo com que perdesse a ordenação. Enquanto isso, os fiéis passaram a ter certeza de que aqueles fatos eram milagres.
A história comprovou que a fé popular prevaleceu e até hoje o religioso é homenageado sob as mais diferentes formas, com romarias que atraem milhares de pessoas a Juazeiro do Norte. Por isso, existe o movimento pela reabilitação de Padre Cícero junto à Igreja e sua consequente beatificação. "A história mostra que Padre Cícero não é réu, mas vítima da intolerância da Igreja, um mártir da disciplina. O padre que ensinou o romeiro a rezar o rosário da Mãe de Deus,", comenta Daniel Walker.
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