Já
dissemos que a Comunhão é como que uma nova Encarnação de Jesus. E foi o
Espírito Santo quem operou na Encarnação do Verbo em Maria, então, é
Ele que deve também preparar a nossa alma para receber Jesus. Ele
preparou Maria Santa e Imaculada para receber o Verbo; da mesma forma
deve preparar a nossa alma para recebê-lo.
Devemos nos unir ao Espírito Santo que
já está na alma em estado de graça, e Ele receberá Jesus. Nossa
disposição deve ser a de Maria: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim
segundo a nossa palavra”; o Espírito Santo saberá receber Jesus com
dignidade em nós.
Além do Espírito Santo preparar a alma e
o corpo de Maria para receber o Verbo divino, Ele também o gerou no seu
seio. Ele fará o mesmo em nossas Comunhões: não só preparará a nossa
alma, mas nos transformará em Jesus, fazendo-nos um com Ele. E, da mesma
forma que Ele fez Jesus sair do túmulo, ressuscitará nossos corpos para
a glória. E quando as sagradas espécies se consomem, e Jesus deixa de
estar em nós sacramentalmente, o Espírito Santo continua vivendo em nós,
prolongando a vida divina de Jesus em nós.
Por vivermos no tempo da Eucaristia nós
somos mais favorecidos que os Santos Patriarcas do povo de Deus. Então,
precisamos cooperar com o Espírito Santo para formar Jesus em nós. Com
Ele devemos nos unir para preparar a nossa alma para a Comunhão e para a
Ação de Graças.
Na Comunhão, Jesus comunica-se mais
intimamente a uma alma conforme o grau da sua pureza. “Bem-aventurados
os puros, pois eles verão a Deus” (Mt 5, 8). Então, não basta fugir do
pecado mortal, é preciso mais, pois mesmo os pecados veniais podem ser
obstáculos para Jesus operar em uma alma com poder. Jesus se compraz
numa alma que busca a pureza, e a Comunhão entre eles é grande.
Note que Jesus não vem a nós segundo o
grau das nossas virtudes ou boas obras, mas em função de nossa pureza;
isto é muito bom para nós que nem sempre somos capazes de grandes
feitos. Então, é importante investir na pureza da alma.
A veste nupcial daquela parábola das
Bodas do Evangelho explica isto. Os que estavam sem as vestes nupciais,
sinal da pureza, foram colocados para fora.
O primeiro anúncio da Eucaristia foi a
Encarnação do Verbo. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo
1,14). O Verbo se fez carne e depois se fez pão. Pela Comunhão podemos
participar da glória e da honra da Virgem Maria; portanto, a novidade da
Comunhão deve ser para nós como o Anúncio do Anjo Gabriel a Maria.
Deus quis uma Mãe Virgem; previu o
profeta Isaías: “Eis que uma Virgem conceberá…” (Is 7,14) e esperou
muitos anos para esse Tabernáculo ser preparado. Uma virgem (Eva) foi a
causa da perdição dos homens, fechou as portas do céu; outra Virgem
(Maria) seria a causa da salvação.
Por isso a nossa alma deve ser também pura para receber a Comunhão.
É preciso ao menos dizer com
profundidade: “Senhor, eu não sou digno de que entreis na minha morada
…”. Isto agrada ao Senhor e o atrai a nós. É preciso acolher Jesus com a
humildade de Maria e dizer-lhe: “Faça-se em mim segundo a sua
vontade”. Então, o que ocorreu em Maria, ocorrerá em nossa alma; a
Eucaristia torna-se em nossa alma a extensão da Encarnação do Verbo.
No seio sagrado de Nossa Senhora o Verbo
se uniu à natureza humana, pela Eucaristia une-se a cada homem que o
acolhe, para que cada um possa participar dos Seus Méritos e da glória
do Corpo que tomara em Maria.
Maria recebeu no seu seio o Corpo
passível de Jesus, e nós recebemos o seu corpo agora impassível e
glorioso. Ela trazia em si o Homem das Dores, nós recebemos o Filho
coroado de glória. Ela o teve apenas nove meses em seu ventre, nós
podemos recebê-lo todos os dias.
Ao formar Jesus em Maria, o Espírito
Santo dotou-a dos seus ricos dons; cada vez que o Senhor vem a nós, vem
também com todas as graças. Assim como vemos o Sol nascer novo a cada
dia, podemos ver Jesus nascer a cada manhã na nossa alma com a mesma
glória.
Se toda a glória de Maria foi ver o
Verbo nela se fazer carne, para nós é vê-lo se fazer pão para nós. O
importante agora, é saber receber Jesus com o mesmo amor com que ela o
recebeu.
Pela Comunhão eucarística acontece a
mais profunda união entre nós e Jesus. Seu Sangue se torna o nosso
sangue, Sua Alma se une à nossa, e Sua Carne se transforma em nossa
carne, Seu Espírito Santo se une a nós.
A perfeição e a intensidade dessa união
depende do “desejo” com que o recebemos. Sem esse desejo não há união.
Saint Exupery tem uma bela frase para explicar isso: “Se tu vais chegar à
tarde, desde a manhã eu já sou feliz”. É assim que o coração deve ser
preparado para receber o Mestre.
Essa união íntima e intensa de nossa alma com Jesus deve começar nesta vida terrena para permanecer para sempre na outra.
A Eucaristia deve ser para nós a alma da
nossa piedade, o caminho das nossas virtudes e a força para os nossos
combates e sacrifícios.
Quando Jesus vem a nós pela Eucaristia;
traz consigo à nossa alma os frutos do Paraíso e seus méritos e põe à
nossa disposição as suas armas. Recebemos o germe oculto da glória dos
santos, o fermento da ressurreição. Recebemos a semente da felicidade
eterna que durará para sempre.
Quanto mais a alma conseguir se
desapegar das afeições da terra, tanto mais poderá gozar, já na terra,
dessa felicidade celeste que nada pode destruir.
O homem que Comunga tem poder; não o
poder terrestre, mas o poder de se libertar da pior das cadeias que é a
do pecado, domina-se a si mesmo e vence as paixões.
O Papa Paulo VI na encíclica “Mysterium Fidei”, faz um belo resumo das graças obtidas na Comunhão:
“Quem não vê que a divina Eucaristia
confere ao povo cristão dignidade incomparável? Cristo é verdadeiramente
“Emmanuel”, isto é, “o Deus conosco”, não só durante a oferta do
Sacrifício e realização do Sacramento, mas também depois, enquanto a
Eucaristia se conserva em igrejas ou oratórios. Dia e noite, está no
meio de nós, habita conosco, cheio de graça e de verdade: (Cf Jo 1,14.)
morigera os costumes, alimenta as virtudes, consola os aflitos,
fortifica os fracos; atrai à sua imitação quantos dele se abeiram, para
que aprendam com o seu exemplo a ser mansos e humildes de coração, e a
procurar não os seus interesses mas os de Deus. Todos os que dedicam
particular devoção ao augusto Sacramento eucarístico e se esforçam por
corresponder com prontidão e generosidade ao amor infinito de Cristo por
nós, todos esses experimentam e se alegram de compreender quanto é útil
e preciosa a vida oculta com Cristo em Deus (Cf. Col 3,3. ) e quanto
importa que o homem se demore a falar com Cristo. Nada há mais suave na
terra, nada mais eficaz para nos conduzir pelos caminhos da santidade”
(M.F. 61).
A alma que comunga faz uma aliança de vida com Jesus, que jamais a romperá. Então, da nossa parte, é necessário fidelidade.
Nesta aliança, a alma perde o direito
sobre si mesma e submete-se à Sua santa vontade e o segue por toda
parte. É como aquela música que diz: “Amar somente a Ti Senhor; seguir
somente a Ti Senhor… e não olhar atrás. Seguir teu caminhar Senhor,
seguir sem vacilar Senhor…”
A alma que Comunga não é mais uma “serva” do Senhor, agora é Esposa,
senta-se à sua mesa, faz aliança com Ele. É Ele que nos quer dar essa
honra, não é escolha nossa; então, a nós cabe simplesmente nele confiar.
Não há aliança mais íntima e profunda. E quanto maior for o amor, mais
íntima e mais profunda será.
“Alegremo-nos e exultemos, e rendamos,
glória a Deus, pois são chegadas as núpcias do Cordeiro, e sua Esposa já
se preparou”. (Ap 19, 7)
Essa Esposa, com quem Cristo quer se
unir para sempre, por toda a eternidade, não é apenas a Santa Igreja
(cf. Ef 5,25), mas é também a nossa alma. Essa descoberta deu aos santos
o grande salto de santidade. Todos eles sentiam e viveram profundamente
essa Aliança.
Devido à nossa fraqueza, e despreparo
para firmar essa Aliança, o Senhor, então, vem todos os dias à alma para
ensiná-la a vivê-la, tornando-a cada vez mais pura e mais íntima. E a
perfeição dessa união depende de nós, porque da parte Dele se dá sem
reservas.
Cabe à alma fazer o mesmo.
“Desposar-vos-ei, para sempre”. Sejamos então Esposas fiéis que procedem
com dignidade, já que fomos elevados ao trono da glória sem qualquer
merecimento. Sejamos como a esposa do Cântico dos Cânticos que diz “Meu
dileto é todo meu e eu todo dele” (Ct. 2, 16).
Quem não puder fazer a Comunhão de fato,
por algum impedimento, poderá fazer a sua Comunhão espiritual. Desejai
ardentemente unir-se a Jesus Cristo dizendo-lhe do desejo e da
necessidade que tem de viver de sua Vida, desejando viver para Ele. E
faça todas as orações que desejar como se tivesse comungado de fato. Os
frutos dessa união espiritual com Jesus será grande se o desejo de
possuí-lo na alma também o for.
Os santos falaram muito sobre a importância da Comunhão:
São João Crisóstomo, doutor da Igreja, disse:
“Deu-se todo não reservando nada para
si”. “Não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se sente “doente
de amor” (Ct 2,4-5)”.
São Boaventura, doutor da Igreja:
“Ainda que friamente aproxime-se confiando na misericórdia de Deus”.
Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja:
“Não há meio melhor para se chegar à
perfeição”. “Não percamos tão grande oportunidade para negociar com
Deus. Ele [Jesus] não costuma pagar mal a hospedagem se o recebemos
bem”.
“Devemos estar na presença de Jesus Sacramentado, como os Santos no céu, diante da Essência Divina”.
São Bernardo, doutor da Igreja:
“A comunhão reprime as nossas paixões:
ira e sensualidade principalmente”. “Quando Jesus está presente
corporalmente em nós, ao redor de nós, montam guarda de amor os anjos”.
Santo Ambrósio, doutor da Igreja:
“Eu que sempre peco, preciso sempre do remédio ao meu alcance.”
São Gregório Nazianzeno, doutor da Igreja:
“Este pão do céu requer que se tenha fome. Ele quer ser desejado”.
“O Santíssimo Sacramento é fogo que nos
inflama de modo que, retirando-nos do altar, espargimos tais chamas de
amor que nos tornam terríveis ao inferno.”
São Tomás de Aquino, doutor da Igreja:
“A comunhão destrói a tentação do demônio.
Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja:
“A comunhão diária não pode conviver com
o desejo de aparecer, vaidade no vestir, prazeres da gula, comodidades,
conversas frívolas e maldosas. Exige oração, mortificação,
recolhimento.”
“Ficai certos de que todos os instantes
da vossa vida, o tempo que passardes diante do Divino Sacramento será o
que vos dará mais força durante a vida, mais consolação na hora da morte
e durante a eternidade”.
S. Pio X:
“A devoção a Eucaristia é a mais nobre
de todas as devoções, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais
salutar porque nos dá o próprio autor da graça; é a mais suave, pois
suave é o Senhor”.
“Se os anjos pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar”.
Santo Agostinho, doutor da Igreja:
“Não somos nós que transformamos Jesus
Cristo em nós, como fazemos com os outros alimentos que tomamos, mas é
Jesus Cristo que nos transforma nele.”
“A Eucaristia é o pão de cada dia que se toma como remédio para a nossa fraqueza de cada dia.”
“Na Eucaristia Maria perpetua e estende a sua maternidade.”
São Gregório de Nissa, doutor da Igreja:
“Nosso corpo unido ao corpo de Cristo, adquire um princípio de imortalidade, porque se une ao Imortal”.
São João Maria Vianney, protetor dos párocos:
“Cada Hóstia consagrada é feita para se consumir de amor em um coração humano”.
Santa Teresinha do Menino Jesus:
“Não é para ficar numa âmbula de ouro,
que Jesus desce cada dia do céu, mas para encontrar um outro céu, o da
nossa alma, onde ele encontra as sua delícias”.
“Quando o demônio não pode entrar com o
pecado no santuário de uma alma, quer pelo menos que ela fique vazia,
sem dono e afastada da comunhão.”
Santa Margarida Maria Alacoque:
“Nós não saberíamos dar maior alegria ao
nosso inimigo, o demônio, do que afastando-nos de Jesus, o qual lhe
tira o poder que ele tem sobre nós.”
São Filipe Néri:
“A devoção ao Santíssimo Sacramento e a
devoção à Santíssima Virgem são, não o melhor, mas o único meio para se
conservar a pureza. Somente a Comunhão é capaz de conservar um coração
puro aos 20 anos. Não pode haver castidade sem a Eucaristia.”
***
Do livro: ”O Segredo da Sagrada Eucaristia”, Prof. Felipe Aquino
Do livro: ”O Segredo da Sagrada Eucaristia”, Prof. Felipe Aquino
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