quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Verdades, erros e perigos na Teologia da Libertação (Parte 2)

teología-da-libertaçãoFrutos da Teologia da Libertação, são os jornais, revistas e editoras católicas, que só martelam monotonamente a mesma tecla reivindicativa, com satisfação de políticos esquerdizantes e silenciam até a palavra do Papa, quando esclarece os desvios e erros da Teologia da Libertação.
Está igualmente em marcha o processo de burla, descrédito, marginalização de elementos respeitáveis do clero, fiéis à Igreja e ao Santo Padre, julgando-os conservadores, retrógrados e superados.
Cresce o sentimento anti-romano, anti-papal, anti-Igreja institucional, de rebeldia à autoridade constituída, quando segue outra linha pastoral.
É óbvio, portanto, que tais frutos denunciam a existência da Teologia da Libertação radical no Brasil.
Um fruto genuíno da Teologia da Libertação é a publicação da História da Igreja na América Latina pela CEHILA (Comissão de História Eclesiástica para a América Latina), dirigida por Henrique Dussel. Não é história mas hipótese de história, pré-fabricada no materialismo histórico, nos moldes “acríticos e acientíficos” da luta de classe. Faz pena ver como essa história destrói a própria história, como o demonstrou exuberantemente Américo Jacobina Lecombe em “A Obra Histórica do Pe. Hoornaert”, no que se refere ao Brasil.
Também muitos liberacionistas, em nome da teologia., destróem a teologia. Em última análise, para muitos, Teologia da Libertação é a libertação da teologia. Podem responder-me que realmente é a libertação da teologia tradicional. Eles, na verdade, têm um conceito próprio da teologia, que seria a reflexão crítica da práxis (modo de proceder), porque, no dizer de Marx, “O fundamento da crítica religiosa é este: o homem faz a religião, não é a religião que faz o homem” e a Teologia da Libertação oferece às comunidades eclesiais de base este poder criador de religião e de Igreja.
4. Ambiguidades da Teologia da Libertação
Pescar em águas turvas é tática da Teologia da Libertação, graças às ambiguidades empregadas tanto na “opção pelos pobres” como nas “comunidades eclesiais de base”. A genuína “opção pelos pobres” e as verdadeiras “comunidades eclesiais de base” estão no coração da Igreja, mas de forma muito diversa daquela empregada pela Teologia da Libertação.
Por isso, quando se rejeita essa releitura facciosa, os liberacionistas nos apodam de inimigos dos pobres, da democracia e do povo oprimido, quando não nos apontam como fautores e aliados dos capitalistas e dos Estados Unidos.
A ambigüidade é útil para os prestidigitadores e exploradores, não, porém, para os doutrinadores, que, como ensina o Evangelho, devem evitar a confusão, afirmando, negando ou distinguindo.
O ataque feito à Escolástica de Santo Tomás de Aquino, começa porque o Santo Doutor da Igreja exigia, antes de tratar qualquer questão, a definição dos termos, sua delimitação e clareza e em que sentido eram tomados.Nunca a clareza e exatidão das expressões fizeram mal aos bons e são exigidas para a promoção da justiça.
Usar de ambiguidades e subterfúgios e, por vezes, até de mentiras, não oferece nenhuma garantia de credibilidade. O homem honesto não as aceita.
5. A instrução da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé
Quem conhece a paciência, discreção e modo de proceder da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (inglória tarefa de alguns, que por isso mesmo se identificam, tem sido difundir dela uma caricatura) dirá que não agiu em vão, mal informada ou desatentamente com sua intervenção sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação.
Como é usual na Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, o documento foi precedido por um estudo sério, sereno, prolongado, com assessoria de peritos de diversas partes do mundo. Se uma crítica se pode fazer ao documento é que tal esclarecimento dado, há anos atrás, teria nos aliviado de não poucas calamidades.
Não é possível, portanto, conceber razoavelmente tal documento sem provas abundantes da existência de uma Teologia da Libertação radical, existente na América Latina, incluindo naturalmente o Brasil, não obstante declarações em contrário  de alguns prelados locais, que se confessam testemunhas oculares autênticas, sempre atentos sobre os acontecimentos religiosos.
O autorizado documento da Sagrada Congregação, para a Doutrina da Fé, é muito claro e explicito e é uma séria advertência para toda a Igreja na América Latina. Foi acompanhado de um resumo para ser divulgado, para que também a imprensa leiga tivesse dele uma ideia geral. Com o pretexto de que o documento era muito longo, não teve divulgação na imprensa católica e se omitiu de dar maior publicidade ao resumo, justamente porque a tal Teologia da Libertação, recriminada não existiria simplesmente no Brasil. Bastaria dizer ao povo que aguardava o pronunciamento da Santa Sé, que depois de todo o reboliço, o documento apoiava a “opção pelos pobres” e, portanto, não atingia a Teologia difundida, entre nós, porque não precisamos dessa análise marxista (moinho de vento sonhado pelo Cardeal Ratzinger e o Papa iria corrigir a “gaffe” feita pelo antigo Santo Ofício. Em todo o caso, o Papa seria liberacionista (aprendendo, como aluno, dos nossos mestres liberacionistas) e o Cardeal Ratzinger um conservador intransigente, desde que veio para Roma. Seria, portanto, melhor não tomar conhecimento desse documento e esperar o outro prometido, verdadeiramente positivo, sem a malfadada crítica de “alguns aspectos da Teologia da Libertação”.
Hoje esta explicação (escapatória de quem ignora a possibilidade de uma publicação da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé sem explícita aprovação ao Santo Padre) não tem mais sentido algum, após os pronunciamentos explícitos do Santo Padre, tanto em Roma (alocução aos cardeais no fim de 1984 e aos bispos do Peru) como em suas recentes viagens a países da América Latina… que, porém, são censurados não pelo Governo mas por liberacionistas da Igreja.
Apesar de negado o valor do documento, já produziu alguns frutos como a declaração dos bispos do Peru e a atenção que lhe deve dar a próxima Plenária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Mas já é algo a recomendação do Presidente da CNBB de deixar aos leigos o campo político e cuidar o clero da formação religiosa integral dos mesmos leigos.
Será útil recordar algumas orientações finais do documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, no Capítulo XI.
Faz um apelo à fidelidade na tarefa primordial da Igreja, à evangelização e consequente promoção humana, a ser realizada em comunhão com os Bispos e a Igreja. Convida os teólogos a colaborarem lealmente com espírito de diálogo com o Magistério da Igreja e recebam sua palavra com respeito.
A promoção humana e a autêntica libertação devem ser compreendidas a partir de uma evangelização integral, em uma Igreja dos pobres, num sentido universal e não de uma classe ou casta.
A verdade sobre o homem, a luta pelos direitos humanos deve ser realizada com meios adequados à dignidade humana, rejeitando toda e qualquer espécie de violência e tendo em conta que a injustiça tem sua raiz no coração dos homens. Então se deve recorrer às capacidades éticas da pessoa para a sua conversão. É ilusão mortal aceitar que o “homem novo” nasça com a mudança de estrutura, pior ainda quando feita pela violência revolucionária, pois são conhecidas as escravidões gerais dos regimes totalitários.
Deve-se libertar do mito da luta de classes como salvadora.
O resumo da instrução distingue entre a legítima aspiração dos povos pobres a condições de vida econômica, social e política, que estejam conformes à dignidade humana (sinal dos tempos característicos de nossa época) que envolve uma grave responsabilidade de todos para esta conquista da justiça social. As expressões dadas a essa aspiração, são legítimas àquelas que rejeitam a pecaminosa indiferença diante dos dramáticos problemas da pobreza, miséria e injustiça de que são vítimas Nossos irmãos e que reprovam quantos contribuem para a manutenção da miséria dos povos. Tal foi, em última análise, a posição de Puebla.
Outras expressões são ambíguas, enquanto outras representam um grave perigo para a fé, à vida teologal e a moral dos cristãos.
A Teologia da Libertação abrange todas estas formas diversas e é apresentada em livros, folhetos, artigos e pregações e, por isso, a Sagrada Congregação para a Defesa da Fé não cita nenhum nome de liberacionista para que os outros não citados tenham o pretexto de afirmar que o documento não lhes diz respeito.
Após a exposição bíblica do tema da libertação e da genuína Teologia da Libertação, o documento afronta a questão dos que apresentam uma forma de Teologia da Libertação gravemente desviada, com erros prejudiciais à fé. É sobre esta específica Teologia da Libertação que o documento da Santa Sé adverte alguns aspectos, sobretudo o emprego da “análise marxista” mesmo com as diversas tendências atuais do marxismo, como totalmente contrária aos princípios evangélicos.
II – ERROS
1. Pluralismo liberacionista e releitura da “opção pelos pobres” do Evangelho e de Puebla
O pluralismo teológico e a releitura bíblica e dos pronunciamentos do Magistério são exigências liberacionistas.
O pluralismo serve de passaporte para entrar no campo teológico (é sinal verde que estimula a pesquisa teológica) e a releitura o redimensiona, na medida dos olhos e dos desejos do “teólogo”. O pluralismo teológico teria sido ensinado pelo Concílio e a releitura ou reintegração parece mais uma reedição do livre exame protestante.Mas a alfândega pluralista. liberacionista não só é contraditória, mas dura e totalitária com o parceiro adversário, impedindo-lhe, em nome do mesmo pluralismo, de divulgar seus escritos, fechando-lhe até as portas das editoras católicas afim de que a Teologia da Libertação possa tranquilamente e exclusivamente dominar o campo reservado às discussões teológicas. Algo semelhante ocorre com os comunistas, os mestres da análise marxista: antes de assumir o poder exaltam e exasperam a oposição ao Governo, mas, quando no poder, fazem silenciar as oposições ao Governo, até com processos dignos da máfia.
Com o campo livre, será fácil ao liberacionista impingir sua leitura da Sagrada Escritura e dos documentos do Magistério e impor a sua “linha pastoral”, que deve ser seguida.teologia
O Concílio trata do pluralismo político que a filosofia social e a sociologia indicam como multíplice e livre expressão de formas sociais, às quais o Estado reconhece uma autonomia em ordem a uma contribuição para o bem comum. Os direitos e deveres das pessoas, família e grupos devem ser reconhecidos, respeitados e promovidos.
Numa sociedade pluralista se deve garantir a liberdade da Igreja na comunidade política, distinguindo-se sempre as ações dos fiéis, indivíduos ou grupos, como cidadãos, guiados pela consciência cristã as suas ações em nome da Igreja.
Em última análise, nem o Estado nem a Igreja podem ser supremos, pois só Deus o é, mas os seus membros são criaturas e podem contribuir para melhorar a situação da comunidade, respeitando sempre os direitos inalienáveis e supremos de Deus.
Um exemplo banal pode facilitar a compreensão desse pluralismo. Diz o provérbio popular: “Todos os caminhos conduzem à Roma”. Outrora, chegava-se à Roma a pé, a cavalo, em carruagem e até de barco. Mas normalmente não se vinha de muito longe. Com o progresso de comunicações, hoje, pode-se chegar de distantes regiões, de carro, de trem ou de avião. Seria inconcebível e injusto limitar a liberdade de locomoção, da escolha de estradas e meios disponíveis para se chegar a Roma. Mas a finalidade deve ser respeitada por todos: chegar a Roma e não a Washington ou Moscou. Quem, devendo acompanhar alguém a Roma e o conduz a outra parte, errou o caminho, ou por incompetência ou por maldade.
O pluralismo das escolas teológicas pode tomar diversos caminhos mas deve conduzir à reafirmação da fé católica,
O ponto de partida liberacionista, afirma-se solenemente, é a “opção preferencial pelos pobres”. Desde seu nascedouro é a opção pelos pobres tradicional na Igreja e, para a América Latina, foi reafirmada por Puebla, que lhe dá prioridade na ação pastoral na América Latina, juntamente com o problema da juventude. Essa opção preferencial pelos pobres é absolutamente normal, de sentido evangélico e eclesial, reclama um maior empenho conjunto do Episcopado latino-americano para uma educação e orientação dos fiéis para com os irmãos não só menos favorecidos economicamente, como os mais necessitados espiritualmente.
“Pobre em espírito” ou “pobre no coração” proclamado bem-aventurado pelo Senhor é aquela pessoa desapegada dos bens materiais, tanto seja sociologicamente pobre como rica dos bens materiais, ainda que, normalmente será mais fácil ao pobre conformar-se com seu pouco que ao rico desapegar-se do seu muito. Como o Senhor é Salvador de todos os homens – pobres e ricos – quer velos unidos no seu amor e entre si, como irmãos, filhos do mesmo Pai celestial. Por isso amou pobres e ricos.
Então, nunca a “opção preferencial pelos pobres” pode tornar-se “opção exclusiva pelos pobres”. A primeira é afirmação verdadeira, a segunda é exclusão injusta e falsa.
Os liberacionistas tomam, porém, os pobres no sentido classista, como os oprimidos que, segundo Marx, formariam o proletariado. Tomam um avião sequestrado.
Segundo a tese marxista (e assim entramos, já na análise marxista) a história se reduz à luta de classes: dos opressores contra os oprimidos. E chegou a hora dos oprimidos proclamar a sua libertação donde o grito de combate: “Proletárias de tudo o mundo, uni-vos!”.
É, sem dúvida, fascinante aos olhos de jovens inexperientes, impetuosos, desejosos de realizar a justiça social, entrar nessa luta, ao lado dos oprimidos. Respeitemos e apreciemos o seu entusiasmo pelo ideal da justiça social, mas peçamos que empreguem sua inteligência e espírito crítico para não embarcar numa empresa ilusória e falsa. Sirva-lhes de aviso, o sinal que estão deixando o caminho de Cristo, que é de amor, compreensão fraterna, caminho mais longo, mas baseado na persuasão, no diálogo, no respeito à dignidade humana.
Não foi com violência, não foi distilando aversão, luta ou ódio entre as classes, não foi com revolução, que Cristo, seus Apóstolos e a sua Igreja, lograram a abolição da escravidão, mostrando como o escravo é nosso irmão em Cristo.
Embarcando num avião sequestrado pela análise marxista, há o perigo comprovado pela história repetidamente, apesar de todas as promessas de libertação, de aterrissar numa ditadura do proletariado que é realmente ditadura sobre o proletariado, ou como está em voga agora, numa “democracia popular”, paraíso terrestre, onde os liberacionistas preferem não viver.
Em todo o caso, a base bíblica da “opção pelos pobres”, encarecida por Puebla, na releitura liberacionista, de cunho marxista, é areia movediça sobre a qual não se pode construir sólida e tranquilamente, o edifício de uma Sociedade justa e feliz.
2. A polinização partidária das comunidades eclesiais de base
As comunidades eclesiais de base que atuam nos diversos ambientes e lugares, com espírito de evangelização e, portanto, em união com os seus legítimos pastores, são uma bênção extraordinária para a Igreja em regiões, como a nossa do Brasil, ou em especiais circunstâncias para atender religiosa e espiritualmente o povo de Deus.
Mesmo, antes do Concílio Vaticano II fui um dos pioneiros, em âmbito diocesano, na Diocese de Barra do Piraí, a introduzir essas comunidades, ainda muito rudimentares mas ricas de religiosidade e de catequese popular, deixando organizadas cerca de 570 desses núcleos, com grande eficiência pastoral.
O erro começa quando se faz política partidária nessas comunidades eclesiais de base. A formação política dos leigos é necessária, segundo a fórmula “política do bem comum, fora e acima das competições partidárias” e, nesse sentido foram impressas Cartilhas Políticas. Mas. algumas delas pretendem formar uma classe social em luta contra as instituições civis e até eclesiásticas. Suscita a base, a rebelar-se contra a cúpula, apoiando partidos que endossam a luta de classes. Passam assim as comunidades eclesiais de base a ser uma mina prolífera de ação partidária, representando “o povo” no engajamento sócio-político.
São tão exaltadas algumas comunidades eclesiais de base que se julgam novas fontes de revelação e de inspiração, como as mais genuínas para mostrar concretamente a encarnação da Igreja na realidade do povo sofrido e angustiado. Dentro do clima de luta, não admira que lhes falem homens sem fé e até contra ela, em nome da Igreja, como lobos em pele de ovelhas. É de admirar, porém, o açanhamento de clérigos nessa tarefa.
Em torno deste tema toma pé a “Igreja Popular”, criada pelo “povo” ou comunidades eclesiais de base, contaminadas pela luta de classes, em oposição à Igreja da cúpula dominante, a tradicional Igreja.
Consequência lógica é o ataque e o combate à autoridade, como opressora ou aliada à opressão, opondo-se assim contra a Cúria Romana e ao mesmo Papa. Amanhã a oposição será contra o Bispo e o Pároco. Segundo os liberacionistas, as comunidades eclesiais de basesão a fonte da democracia, pois tudo ali se procede democraticamente. Assim o pensam e o dizem, mas na realidade, nela atuam os líderes e os meios de desinformação.
3. A interpretação marxista da história e da religião
Procuremos explicar brevemente o que significa a análise marxista, exatamente condenada pelo documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, indicando como atua na história e na religião.
Os liberacionistas nos dizem que tomam elementos da análise marxista como um método, sem endossar a ideologia marxista. Não podemos acreditar na sinceridade de seus propósitos, quando não dispõem de capacidade intelectual para avaliar as consequências dessa análise, trinada acriticamente como ” científica ” .
A análise marxista reduz toda a história à luta de classe. Os liberacionistas, baseados no valor “científico” da análise marxista, sustentam que ela tem os elementos úteis e eficazes para eliminar a injustiça social e que o uso desses elementos é uma conquista do progresso e, repetimos, não implica necessariamente na aceitação da ideologia marxista, que eles mesmos condenam, porque visceralmente ateia.
Outros negam simplesmente o uso da analise marxista, pois dela não temos necessidade, os católicos, que podem usar o método jocista de Cardjin: “ver, julgar, agir”, esquecendo-se que esses três momentos na Ação Católica se faziam à luz do Evangelho.
Segundo a análise marxista, a dialética da história da humanidade, essencialmente luta de classes, conduz à vitória do socialismo: a ordem ideal da sociedade e da economia. A Teologia da Libertação crê efetivamente numa perfeita sociedade, para o futuro, mas é muito vaga sobre essa futura sociedade socialista, pois não pode ignorar o fato evidente que o marxismo, por toda a parte onde lutou e conseguiu o poder, não conduziu à libertação do homem, mas sim à supressão de sua liberdade.
O Papa, na sua encíclica sobre o trabalho humano, afirma que um capitalismo primitivo que maneja o homem como instrumento do capital, é contrário à dignidade humana, mas também o coletivismo marxista, que tem a totalidade da economia, controla o poder político, militar, cultural e propagandístico. A liberdade dos homens de trabalho está melhor garantida em uma ordem econômica com milhões de patrões e sindicatos livres do que num sistema em que o Estado é o único patrão e os sindicatos são instrumentos do Estado.
Interessa-nos mais mostrar os efeitos da análise marxista na religião.
A Teologia da Libertação dando à economia um caráter decisivo na sociedade, trilhando a análise marxista, ameaça limitar unilateralmente, com a dimensão econômica, a história e a atividade da Igreja, como uma opção política, errada no passado e no presente, que estaria sempre ao lado dos opressores mas deve redimir-se e assumir, quando necessário, a mesma revolução na luta pela libertação da opressão, pois aí se encama o “amor universal”.
Teria sido revolucionária a Igreja, já no seu fundador, Jesus Cristo, considerado perigoso e subversivo por Pôncio Pilatos, mas, desde o período constantiniano, unindo-se ao poder e aos poderosos, tornou-se cúmplice da exploração.
Só com a reforma das estruturas e o engajamento sócio-político, a Igreja se tornará libertadora. As violências não são ideais, mas se for preciso “matar por amor”, devemos recorrer à força quando nos falta outro caminho. Exatamente aqui está um grande erro: o caminho da violência, da luta, do ódio não é, nem pode ser, o caminho de Cristo: único caminho, verdade e vida.
Para justificar suas posições, a Teologia da Libertação precisa reformar o cristianismo. As consequências normais da Teologia da
Libertação no cristianismo são principalmente as seguintes:
1. Parte-se da suposição, admitida sem nenhum espírito crítico de conformidade ou não com a realidade, como verdade científica que toda à história da humanidade deve ser interpretada como luta de classe, dos opressores contra os oprimidos. E que os oprimidos, despertados e sacudidos por esta injustiça social, se devem libertar.
É evidentemente um exagero: a economia fortemente influi na história, mas não a decide. O cristianismo não pregou a luta de classes, mas Cristo encareceu a fraternidade e o amor entre os homens. A maior transformação social, operada na humanidade, se deve exatamente ao cristianismo. Cristo, em outras palavras, não foi um revolucionário libertador dos pobres e escravos, mas o Salvador de todos os homens, de qualquer situação social ou econômica. Não armou os escravos contra os senhores, mas ensinou que o escravo é nosso irmão, não só com a dignidade humana mas até mesmo como filho adotivo de Deus.
Um exemplo desastroso dessa análise marxista da história da Igreja nos é dado pela CEHILA, na História da Igreja na América Latina, como já nos referimos. Há evidente má vontade em distorcer os latos e as personalidades e ignorância supina de nossas tradições religiosas. Assim a Igreja no Brasil teria sido a opressora dos pobres, enquanto, em homenagem ao ecumenismo, os invasores protestantes holandeses e franceses teriam sido os heróis da libertação da nossa Pátria.
Recordemos ainda que a pessoa de Cristo liberacionista lhe tira a auréola de Filho de Deus feito homem
e o considera um  simples homem, como o “tal Jesus”, fabricado nos moldes secularizantes da Teologia da Libertação. Quando denunciei este programa radiofônico, endereçado às comunidades eclesiais de base, fui taxado de exagerado e até de visionário.
2. Claramente essa concepção da história e da realidade presente se projeta não só em Cristo mas também na própria Igreja, dividindo-a em Igreja dos pobres (Igreja Popular, tipicamente classista) e Igreja dos ricos (a Igreja institucional que se compromete com os ricos para exercer um paternalismo com os pobres).
Leva à divisão na Igreja, exigindo uma nova linha pastoral que combate não só os ricos, inimigos da classe proletária, mas se opõe às próprias exigências da autoridade eclesiástica que não concorda com a tese liberacionista.

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