Frutos
da Teologia da Libertação, são os jornais, revistas e editoras
católicas, que só martelam monotonamente a mesma tecla reivindicativa,
com satisfação de políticos esquerdizantes e silenciam até a palavra do
Papa, quando esclarece os desvios e erros da Teologia da Libertação.
Está igualmente em marcha o processo de
burla, descrédito, marginalização de elementos respeitáveis do clero,
fiéis à Igreja e ao Santo Padre, julgando-os conservadores, retrógrados e
superados.
Cresce o sentimento anti-romano,
anti-papal, anti-Igreja institucional, de rebeldia à autoridade
constituída, quando segue outra linha pastoral.
É óbvio, portanto, que tais frutos denunciam a existência da Teologia da Libertação radical no Brasil.
Um fruto genuíno da Teologia da
Libertação é a publicação da História da Igreja na América Latina pela
CEHILA (Comissão de História Eclesiástica para a América Latina),
dirigida por Henrique Dussel. Não é história mas hipótese de história,
pré-fabricada no materialismo histórico, nos moldes “acríticos e
acientíficos” da luta de classe. Faz pena ver como essa história destrói
a própria história, como o demonstrou exuberantemente Américo Jacobina
Lecombe em “A Obra Histórica do Pe. Hoornaert”, no que se refere ao
Brasil.
Também muitos liberacionistas, em nome
da teologia., destróem a teologia. Em última análise, para muitos,
Teologia da Libertação é a libertação da teologia. Podem responder-me
que realmente é a libertação da teologia tradicional. Eles, na verdade,
têm um conceito próprio da teologia, que seria a reflexão crítica da
práxis (modo de proceder), porque, no dizer de Marx, “O fundamento da
crítica religiosa é este: o homem faz a religião, não é a religião que
faz o homem” e a Teologia da Libertação oferece às comunidades eclesiais
de base este poder criador de religião e de Igreja.
4. Ambiguidades da Teologia da Libertação
Pescar em águas turvas é tática da
Teologia da Libertação, graças às ambiguidades empregadas tanto na
“opção pelos pobres” como nas “comunidades eclesiais de base”. A genuína
“opção pelos pobres” e as verdadeiras “comunidades eclesiais de base”
estão no coração da Igreja, mas de forma muito diversa daquela empregada
pela Teologia da Libertação.
Por isso, quando se rejeita essa
releitura facciosa, os liberacionistas nos apodam de inimigos dos
pobres, da democracia e do povo oprimido, quando não nos apontam como
fautores e aliados dos capitalistas e dos Estados Unidos.
A ambigüidade é útil para os
prestidigitadores e exploradores, não, porém, para os doutrinadores,
que, como ensina o Evangelho, devem evitar a confusão, afirmando,
negando ou distinguindo.
O ataque feito à Escolástica de Santo
Tomás de Aquino, começa porque o Santo Doutor da Igreja exigia, antes de
tratar qualquer questão, a definição dos termos, sua delimitação e
clareza e em que sentido eram tomados.Nunca a clareza e exatidão das
expressões fizeram mal aos bons e são exigidas para a promoção da
justiça.
Usar de ambiguidades e subterfúgios e,
por vezes, até de mentiras, não oferece nenhuma garantia de
credibilidade. O homem honesto não as aceita.
5. A instrução da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé
Quem conhece a paciência, discreção e
modo de proceder da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (inglória
tarefa de alguns, que por isso mesmo se identificam, tem sido difundir
dela uma caricatura) dirá que não agiu em vão, mal informada ou
desatentamente com sua intervenção sobre alguns aspectos da Teologia da
Libertação.
Como é usual na Sagrada Congregação para
a Doutrina da Fé, o documento foi precedido por um estudo sério,
sereno, prolongado, com assessoria de peritos de diversas partes do
mundo. Se uma crítica se pode fazer ao documento é que tal
esclarecimento dado, há anos atrás, teria nos aliviado de não poucas
calamidades.
Não é possível, portanto, conceber
razoavelmente tal documento sem provas abundantes da existência de uma
Teologia da Libertação radical, existente na América Latina, incluindo
naturalmente o Brasil, não obstante declarações em contrário de alguns
prelados locais, que se confessam testemunhas oculares autênticas,
sempre atentos sobre os acontecimentos religiosos.
O autorizado documento da Sagrada
Congregação, para a Doutrina da Fé, é muito claro e explicito e é uma
séria advertência para toda a Igreja na América Latina. Foi acompanhado
de um resumo para ser divulgado, para que também a imprensa leiga
tivesse dele uma ideia geral. Com o pretexto de que o documento era
muito longo, não teve divulgação na imprensa católica e se omitiu de dar
maior publicidade ao resumo, justamente porque a tal Teologia da
Libertação, recriminada não existiria simplesmente no Brasil. Bastaria
dizer ao povo que aguardava o pronunciamento da Santa Sé, que depois de
todo o reboliço, o documento apoiava a “opção pelos pobres” e, portanto,
não atingia a Teologia difundida, entre nós, porque não precisamos
dessa análise marxista (moinho de vento sonhado pelo Cardeal Ratzinger e
o Papa iria corrigir a “gaffe” feita pelo antigo Santo Ofício. Em todo o
caso, o Papa seria liberacionista (aprendendo, como aluno, dos nossos
mestres liberacionistas) e o Cardeal Ratzinger um conservador
intransigente, desde que veio para Roma. Seria, portanto, melhor não
tomar conhecimento desse documento e esperar o outro prometido,
verdadeiramente positivo, sem a malfadada crítica de “alguns aspectos da
Teologia da Libertação”.
Hoje esta explicação (escapatória de
quem ignora a possibilidade de uma publicação da Sagrada Congregação
para a Doutrina da Fé sem explícita aprovação ao Santo Padre) não tem
mais sentido algum, após os pronunciamentos explícitos do Santo Padre,
tanto em Roma (alocução aos cardeais no fim de 1984 e aos bispos do
Peru) como em suas recentes viagens a países da América Latina… que,
porém, são censurados não pelo Governo mas por liberacionistas da
Igreja.
Apesar de negado o valor do documento,
já produziu alguns frutos como a declaração dos bispos do Peru e a
atenção que lhe deve dar a próxima Plenária da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil. Mas já é algo a recomendação do Presidente da CNBB de
deixar aos leigos o campo político e cuidar o clero da formação
religiosa integral dos mesmos leigos.
Será útil recordar algumas orientações finais do documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, no Capítulo XI.
Faz um apelo à fidelidade na tarefa
primordial da Igreja, à evangelização e consequente promoção humana, a
ser realizada em comunhão com os Bispos e a Igreja. Convida os teólogos a
colaborarem lealmente com espírito de diálogo com o Magistério da
Igreja e recebam sua palavra com respeito.
A promoção humana e a autêntica
libertação devem ser compreendidas a partir de uma evangelização
integral, em uma Igreja dos pobres, num sentido universal e não de uma
classe ou casta.
A verdade sobre o homem, a luta pelos
direitos humanos deve ser realizada com meios adequados à dignidade
humana, rejeitando toda e qualquer espécie de violência e tendo em conta
que a injustiça tem sua raiz no coração dos homens. Então se deve
recorrer às capacidades éticas da pessoa para a sua conversão. É ilusão
mortal aceitar que o “homem novo” nasça com a mudança de estrutura, pior
ainda quando feita pela violência revolucionária, pois são conhecidas
as escravidões gerais dos regimes totalitários.
Deve-se libertar do mito da luta de classes como salvadora.
O resumo da instrução distingue entre a
legítima aspiração dos povos pobres a condições de vida econômica,
social e política, que estejam conformes à dignidade humana (sinal dos
tempos característicos de nossa época) que envolve uma grave
responsabilidade de todos para esta conquista da justiça social. As
expressões dadas a essa aspiração, são legítimas àquelas que rejeitam a
pecaminosa indiferença diante dos dramáticos problemas da pobreza,
miséria e injustiça de que são vítimas Nossos irmãos e que reprovam
quantos contribuem para a manutenção da miséria dos povos. Tal foi, em
última análise, a posição de Puebla.
Outras expressões são ambíguas, enquanto outras representam um grave perigo para a fé, à vida teologal e a moral dos cristãos.
A Teologia da Libertação abrange todas
estas formas diversas e é apresentada em livros, folhetos, artigos e
pregações e, por isso, a Sagrada Congregação para a Defesa da Fé não
cita nenhum nome de liberacionista para que os outros não citados tenham
o pretexto de afirmar que o documento não lhes diz respeito.
Após a exposição bíblica do tema da
libertação e da genuína Teologia da Libertação, o documento afronta a
questão dos que apresentam uma forma de Teologia da Libertação
gravemente desviada, com erros prejudiciais à fé. É sobre esta
específica Teologia da Libertação que o documento da Santa Sé adverte
alguns aspectos, sobretudo o emprego da “análise marxista” mesmo com as
diversas tendências atuais do marxismo, como totalmente contrária aos
princípios evangélicos.
II – ERROS
1. Pluralismo liberacionista e releitura da “opção pelos pobres” do Evangelho e de Puebla
O pluralismo teológico e a releitura bíblica e dos pronunciamentos do Magistério são exigências liberacionistas.
O pluralismo serve de passaporte para
entrar no campo teológico (é sinal verde que estimula a pesquisa
teológica) e a releitura o redimensiona, na medida dos olhos e dos
desejos do “teólogo”. O pluralismo teológico teria sido ensinado pelo
Concílio e a releitura ou reintegração parece mais uma reedição do livre
exame protestante.Mas a alfândega pluralista. liberacionista não só é
contraditória, mas dura e totalitária com o parceiro adversário,
impedindo-lhe, em nome do mesmo pluralismo, de divulgar seus escritos,
fechando-lhe até as portas das editoras católicas afim de que a Teologia
da Libertação possa tranquilamente e exclusivamente dominar o campo
reservado às discussões teológicas. Algo semelhante ocorre com os
comunistas, os mestres da análise marxista: antes de assumir o poder
exaltam e exasperam a oposição ao Governo, mas, quando no poder, fazem
silenciar as oposições ao Governo, até com processos dignos da máfia.
Com o campo livre, será fácil ao liberacionista impingir sua leitura
da Sagrada Escritura e dos documentos do Magistério e impor a sua “linha
pastoral”, que deve ser seguida.
O Concílio trata do pluralismo político
que a filosofia social e a sociologia indicam como multíplice e livre
expressão de formas sociais, às quais o Estado reconhece uma autonomia
em ordem a uma contribuição para o bem comum. Os direitos e deveres das
pessoas, família e grupos devem ser reconhecidos, respeitados e
promovidos.
Numa sociedade pluralista se deve
garantir a liberdade da Igreja na comunidade política, distinguindo-se
sempre as ações dos fiéis, indivíduos ou grupos, como cidadãos, guiados
pela consciência cristã as suas ações em nome da Igreja.
Em última análise, nem o Estado nem a
Igreja podem ser supremos, pois só Deus o é, mas os seus membros são
criaturas e podem contribuir para melhorar a situação da comunidade,
respeitando sempre os direitos inalienáveis e supremos de Deus.
Um exemplo banal pode facilitar a
compreensão desse pluralismo. Diz o provérbio popular: “Todos os
caminhos conduzem à Roma”. Outrora, chegava-se à Roma a pé, a cavalo, em
carruagem e até de barco. Mas normalmente não se vinha de muito longe.
Com o progresso de comunicações, hoje, pode-se chegar de distantes
regiões, de carro, de trem ou de avião. Seria inconcebível e injusto
limitar a liberdade de locomoção, da escolha de estradas e meios
disponíveis para se chegar a Roma. Mas a finalidade deve ser respeitada
por todos: chegar a Roma e não a Washington ou Moscou. Quem, devendo
acompanhar alguém a Roma e o conduz a outra parte, errou o caminho, ou
por incompetência ou por maldade.
O pluralismo das escolas teológicas pode tomar diversos caminhos mas deve conduzir à reafirmação da fé católica,
O ponto de partida liberacionista,
afirma-se solenemente, é a “opção preferencial pelos pobres”. Desde seu
nascedouro é a opção pelos pobres tradicional na Igreja e, para a
América Latina, foi reafirmada por Puebla, que lhe dá prioridade na ação
pastoral na América Latina, juntamente com o problema da juventude.
Essa opção preferencial pelos pobres é absolutamente normal, de sentido
evangélico e eclesial, reclama um maior empenho conjunto do Episcopado
latino-americano para uma educação e orientação dos fiéis para com os
irmãos não só menos favorecidos economicamente, como os mais
necessitados espiritualmente.
“Pobre em espírito” ou “pobre no
coração” proclamado bem-aventurado pelo Senhor é aquela pessoa
desapegada dos bens materiais, tanto seja sociologicamente pobre como
rica dos bens materiais, ainda que, normalmente será mais fácil ao pobre
conformar-se com seu pouco que ao rico desapegar-se do seu muito. Como o
Senhor é Salvador de todos os homens – pobres e ricos – quer velos
unidos no seu amor e entre si, como irmãos, filhos do mesmo Pai
celestial. Por isso amou pobres e ricos.
Então, nunca a “opção preferencial pelos
pobres” pode tornar-se “opção exclusiva pelos pobres”. A primeira é
afirmação verdadeira, a segunda é exclusão injusta e falsa.
Os liberacionistas tomam, porém, os
pobres no sentido classista, como os oprimidos que, segundo Marx,
formariam o proletariado. Tomam um avião sequestrado.
Segundo a tese marxista (e assim
entramos, já na análise marxista) a história se reduz à luta de classes:
dos opressores contra os oprimidos. E chegou a hora dos oprimidos
proclamar a sua libertação donde o grito de combate: “Proletárias de
tudo o mundo, uni-vos!”.
É, sem dúvida, fascinante aos olhos de
jovens inexperientes, impetuosos, desejosos de realizar a justiça
social, entrar nessa luta, ao lado dos oprimidos. Respeitemos e
apreciemos o seu entusiasmo pelo ideal da justiça social, mas peçamos
que empreguem sua inteligência e espírito crítico para não embarcar numa
empresa ilusória e falsa. Sirva-lhes de aviso, o sinal que estão
deixando o caminho de Cristo, que é de amor, compreensão fraterna,
caminho mais longo, mas baseado na persuasão, no diálogo, no respeito à
dignidade humana.
Não foi com violência, não foi
distilando aversão, luta ou ódio entre as classes, não foi com
revolução, que Cristo, seus Apóstolos e a sua Igreja, lograram a
abolição da escravidão, mostrando como o escravo é nosso irmão em
Cristo.
Embarcando num avião sequestrado pela
análise marxista, há o perigo comprovado pela história repetidamente,
apesar de todas as promessas de libertação, de aterrissar numa ditadura
do proletariado que é realmente ditadura sobre o proletariado, ou como
está em voga agora, numa “democracia popular”, paraíso terrestre, onde
os liberacionistas preferem não viver.
Em todo o caso, a base bíblica da “opção
pelos pobres”, encarecida por Puebla, na releitura liberacionista, de
cunho marxista, é areia movediça sobre a qual não se pode construir
sólida e tranquilamente, o edifício de uma Sociedade justa e feliz.
2. A polinização partidária das comunidades eclesiais de base
As comunidades eclesiais de base que
atuam nos diversos ambientes e lugares, com espírito de evangelização e,
portanto, em união com os seus legítimos pastores, são uma bênção
extraordinária para a Igreja em regiões, como a nossa do Brasil, ou em
especiais circunstâncias para atender religiosa e espiritualmente o povo
de Deus.
Mesmo, antes do Concílio Vaticano II fui
um dos pioneiros, em âmbito diocesano, na Diocese de Barra do Piraí, a
introduzir essas comunidades, ainda muito rudimentares mas ricas de
religiosidade e de catequese popular, deixando organizadas cerca de 570
desses núcleos, com grande eficiência pastoral.
O erro começa quando se faz política
partidária nessas comunidades eclesiais de base. A formação política dos
leigos é necessária, segundo a fórmula “política do bem comum, fora e
acima das competições partidárias” e, nesse sentido foram impressas
Cartilhas Políticas. Mas. algumas delas pretendem formar uma classe
social em luta contra as instituições civis e até eclesiásticas. Suscita
a base, a rebelar-se contra a cúpula, apoiando partidos que endossam a
luta de classes. Passam assim as comunidades eclesiais de base a ser uma
mina prolífera de ação partidária, representando “o povo” no
engajamento sócio-político.
São tão exaltadas algumas comunidades
eclesiais de base que se julgam novas fontes de revelação e de
inspiração, como as mais genuínas para mostrar concretamente a
encarnação da Igreja na realidade do povo sofrido e angustiado. Dentro
do clima de luta, não admira que lhes falem homens sem fé e até contra
ela, em nome da Igreja, como lobos em pele de ovelhas. É de admirar,
porém, o açanhamento de clérigos nessa tarefa.
Em torno deste tema toma pé a “Igreja
Popular”, criada pelo “povo” ou comunidades eclesiais de base,
contaminadas pela luta de classes, em oposição à Igreja da cúpula
dominante, a tradicional Igreja.
Consequência lógica é o ataque e o
combate à autoridade, como opressora ou aliada à opressão, opondo-se
assim contra a Cúria Romana e ao mesmo Papa. Amanhã a oposição será
contra o Bispo e o Pároco. Segundo os liberacionistas, as comunidades
eclesiais de basesão a fonte da democracia, pois tudo ali se procede
democraticamente. Assim o pensam e o dizem, mas na realidade, nela atuam
os líderes e os meios de desinformação.
3. A interpretação marxista da história e da religião
Procuremos explicar brevemente o que
significa a análise marxista, exatamente condenada pelo documento da
Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, indicando como atua na
história e na religião.
Os liberacionistas nos dizem que tomam
elementos da análise marxista como um método, sem endossar a ideologia
marxista. Não podemos acreditar na sinceridade de seus propósitos,
quando não dispõem de capacidade intelectual para avaliar as
consequências dessa análise, trinada acriticamente como ” científica ” .
A análise marxista reduz toda a história
à luta de classe. Os liberacionistas, baseados no valor “científico” da
análise marxista, sustentam que ela tem os elementos úteis e eficazes
para eliminar a injustiça social e que o uso desses elementos é uma
conquista do progresso e, repetimos, não implica necessariamente na
aceitação da ideologia marxista, que eles mesmos condenam, porque
visceralmente ateia.
Outros negam simplesmente o uso da
analise marxista, pois dela não temos necessidade, os católicos, que
podem usar o método jocista de Cardjin: “ver, julgar, agir”,
esquecendo-se que esses três momentos na Ação Católica se faziam à luz
do Evangelho.
Segundo a análise marxista, a dialética
da história da humanidade, essencialmente luta de classes, conduz à
vitória do socialismo: a ordem ideal da sociedade e da economia. A
Teologia da Libertação crê efetivamente numa perfeita sociedade, para o
futuro, mas é muito vaga sobre essa futura sociedade socialista, pois
não pode ignorar o fato evidente que o marxismo, por toda a parte onde
lutou e conseguiu o poder, não conduziu à libertação do homem, mas sim à
supressão de sua liberdade.
O Papa, na sua encíclica sobre o
trabalho humano, afirma que um capitalismo primitivo que maneja o homem
como instrumento do capital, é contrário à dignidade humana, mas também o
coletivismo marxista, que tem a totalidade da economia, controla o
poder político, militar, cultural e propagandístico. A liberdade dos
homens de trabalho está melhor garantida em uma ordem econômica com
milhões de patrões e sindicatos livres do que num sistema em que o
Estado é o único patrão e os sindicatos são instrumentos do Estado.
Interessa-nos mais mostrar os efeitos da análise marxista na religião.
A Teologia da Libertação dando à
economia um caráter decisivo na sociedade, trilhando a análise marxista,
ameaça limitar unilateralmente, com a dimensão econômica, a história e a
atividade da Igreja, como uma opção política, errada no passado e no
presente, que estaria sempre ao lado dos opressores mas deve redimir-se e
assumir, quando necessário, a mesma revolução na luta pela libertação
da opressão, pois aí se encama o “amor universal”.
Teria sido revolucionária a Igreja, já
no seu fundador, Jesus Cristo, considerado perigoso e subversivo por
Pôncio Pilatos, mas, desde o período constantiniano, unindo-se ao poder e
aos poderosos, tornou-se cúmplice da exploração.
Só com a reforma das estruturas e o
engajamento sócio-político, a Igreja se tornará libertadora. As
violências não são ideais, mas se for preciso “matar por amor”, devemos
recorrer à força quando nos falta outro caminho. Exatamente aqui está um
grande erro: o caminho da violência, da luta, do ódio não é, nem pode
ser, o caminho de Cristo: único caminho, verdade e vida.
Para justificar suas posições, a Teologia da Libertação precisa reformar o cristianismo. As consequências normais da Teologia da
Libertação no cristianismo são principalmente as seguintes:
Libertação no cristianismo são principalmente as seguintes:
1. Parte-se da suposição, admitida sem
nenhum espírito crítico de conformidade ou não com a realidade, como
verdade científica que toda à história da humanidade deve ser
interpretada como luta de classe, dos opressores contra os oprimidos. E
que os oprimidos, despertados e sacudidos por esta injustiça social, se
devem libertar.
É evidentemente um exagero: a economia
fortemente influi na história, mas não a decide. O cristianismo não
pregou a luta de classes, mas Cristo encareceu a fraternidade e o amor
entre os homens. A maior transformação social, operada na humanidade, se
deve exatamente ao cristianismo. Cristo, em outras palavras, não foi um
revolucionário libertador dos pobres e escravos, mas o Salvador de
todos os homens, de qualquer situação social ou econômica. Não armou os
escravos contra os senhores, mas ensinou que o escravo é nosso irmão,
não só com a dignidade humana mas até mesmo como filho adotivo de Deus.
Um exemplo desastroso dessa análise
marxista da história da Igreja nos é dado pela CEHILA, na História da
Igreja na América Latina, como já nos referimos. Há evidente má vontade
em distorcer os latos e as personalidades e ignorância supina de nossas
tradições religiosas. Assim a Igreja no Brasil teria sido a opressora
dos pobres, enquanto, em homenagem ao ecumenismo, os invasores
protestantes holandeses e franceses teriam sido os heróis da libertação
da nossa Pátria.
Recordemos ainda que a pessoa de Cristo liberacionista lhe tira a auréola de Filho de Deus feito homem
e o considera um simples homem, como o “tal Jesus”, fabricado nos moldes secularizantes da Teologia da Libertação. Quando denunciei este programa radiofônico, endereçado às comunidades eclesiais de base, fui taxado de exagerado e até de visionário.
e o considera um simples homem, como o “tal Jesus”, fabricado nos moldes secularizantes da Teologia da Libertação. Quando denunciei este programa radiofônico, endereçado às comunidades eclesiais de base, fui taxado de exagerado e até de visionário.
2. Claramente essa concepção da história
e da realidade presente se projeta não só em Cristo mas também na
própria Igreja, dividindo-a em Igreja dos pobres (Igreja Popular,
tipicamente classista) e Igreja dos ricos (a Igreja institucional que se
compromete com os ricos para exercer um paternalismo com os pobres).
Leva à divisão na Igreja, exigindo uma
nova linha pastoral que combate não só os ricos, inimigos da classe
proletária, mas se opõe às próprias exigências da autoridade
eclesiástica que não concorda com a tese liberacionista.
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