O Papa João Paulo II disse que “o ato de educar é o prolongamento do ato de gerar”; isto é, fazem parte do mesmo ato.
“Gerar segundo a carne significa dar
início a uma posterior ‘geração’, gradual e complexa, através do inteiro
processo educativo” (CF, 16). Educar os filhos é a grande missão que
Deus confiou aos pais. É por causa da importância dessa tarefa, que Deus
‘encheu de honra’ as pessoas dos pais.
O que é educar?
Os pensadores deram muitas respostas a
esta importante pergunta. Gandhi dizia que “a verdadeira educação
consiste em pôr a descoberto o melhor de uma pessoa.” Nisto é preciso a
arte de educar, a mais difícil e mais bela de todas.
Certa vez Michelangelo viu um bloco de
pedra e disse: “aí dentro há um anjo, vou coloca-lo para fora!” Depois
de algum tempo, com o seu gênio de escultor, fez o belo trabalho. Então
lhe perguntaram como tinha conseguido aquela proeza. Ele respondeu: “o
anjo já estava aí, apenas tirei os excessos que estavam sobrando”.
Educar é isto, é ir com paciência e perícia tirando os maus hábitos e
descobrindo as virtudes, até que o ‘anjo’ apareça.
Michel Quoist dizia “que não é para si que os homens educam os seus filhos, mas para os outros e para Deus”.
Coelho Neto dizia que “educar é
colaborar com Deus”, e que “é na educação dos filhos que se revelam as
virtudes dos pais”. Também ensinava que a educação não pode ser feita
pelo medo, já que “a educação pelo medo deforma a alma”.
O pensador inglês John Spalding, dizia
que “a educação pelos outros lança as bases; a educação por si mesmo
termina o edifício”. É preciso preparar os filhos para que entendam que a
própria pessoa é a principal responsável por sua educação, e que, quem
cultiva as suas qualidades sente a própria dignidade e valor da sua
vida. Isto será mais importante ainda naqueles casos em que a pessoa tem
problemas especiais de saúde, deficiência física, etc. As vezes é
preciso chegar ao heroísmo para cultivar-se.
Sotelli afirmava que “educar é formar
homens verdadeiramente livres”. Para Rousseau, “educar é a arte de
formar homens”. Para Platão, “educar é dar à alma e ao corpo toda a
perfeição de que são susceptíveis”.
De fato, educar é promover o crescimento
e o amadurecimento da pessoa humana em todas as suas dimensões:
material, intelectual, moral e religiosa. Por isso, educação não se
aprende só na escola, mas principalmente em casa. Às vezes se ouve
dizer: “ele é analfabeto, mas é muito educado”. Não adianta ser doutor e
não saber tratar os outros; não cumprir com a palavra dada; não se
comportar bem; trair a esposa e os filhos; não ser gentil; não ser
afável, etc. Sem dúvida, a educação é a melhor herança que os pais devem
deixar aos filhos; esta ninguém pode lhes roubar nem destruir.
A educação não é só para as crianças e
jovens; é para todos; é uma tarefa que nunca termina na vida. Aliás,
alguém disse que a vida é uma escola que nunca tem férias. Cada encontro
novo, cada conversa boa, cada aula, cada fato novo, cada livro,
acrescenta algo em nossa educação. Na vida, aprendemos com a
experiência, nossa e dos outros. É muito mais sábio quem aprende com a
experiência dos outros, sem ter que sofrer com os próprios erros.
Ramalho Ortigão afirmou que “o homem sem educação, por mais alto que o coloquem, permanece um subalterno”.
Educação não é “esperteza”, ter sucesso a
qualquer custo, às vezes pisando e tapeando os outros. A triste
filosofia do “levar vantagem em tudo”, se transformou em filosofia de
vida para muitos.
Certa vez Andrew Carnegie disse que
“muitos são instruídos, mas poucos são educados. Um homem educado é
aquele que aprendeu a usar a sua mente de forma a conseguir tudo o que
deseja sem violar os direitos dos outros.”
O grande pensador grego Aristóteles, dois séculos antes de Cristo, já dizia que “a educação é um ornamento na prosperidade e um refúgio na adversidade”.
O grande pensador grego Aristóteles, dois séculos antes de Cristo, já dizia que “a educação é um ornamento na prosperidade e um refúgio na adversidade”.
O homem moderno está, sem dúvida cheio
de ciência e de sofisticada tecnologia, mas pobre de sabedoria; e sem
esta o mundo não pode ser feliz; eis a razão pela qual temos tanta dor.
Somente homens sábios poderão dar ao mundo o que ele precisa.
O grande filósofo grego Sócrates, mesmo
sem conhecer o cristianismo, já dizia que “só é útil o conhecimento que
nos faz melhores”.
Todos esses conceitos emitidos sobre a
educação nos ajudam a entendê-la melhor. O que importa é não deixar o
filho sem ela; seria a sua ruína; e, como disse, certa vez Gautier, “de
todas as ruínas do mundo, a ruína do homem é sem dúvida o espetáculo
mais melancólico”.
A educação leva a pessoa a descobrir o
mundo cada vez mais e a se alegrar com as maravilhas criadas por Deus. O
Papa Paulo VI falava do “banquete da vida”. Só as pessoas educadas
podem desfrutar saudavelmente deste banquete. Fernando Pessoa dizia
sentir-se “nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”.
O documento de Medellin, do II CELAM,
diz que: “A educação é efetivamente o meio-chave para libertar os povos
de toda escravidão e faze-los subir de condições menos humanas a
condições mais humanas”(4,8).
É através da educação que a pessoa vai
se apropriando da herança da humanidade, aprende a ler as palavras e a
realidade que a circunda, torna-se cidadão deste mundo e apto a dar a
sua parcela na construção desta obra de Deus, para que o mundo seja um
lugar agradável para viver, como irmãos. É pela educação que o homem
deve aprender que o progresso não pode sacrificar a natureza (água,
terra, ar, matas, rios, oceanos…), nem pode violar as leis da ética e da
moral. Quando isto não acontece, o homem acaba temendo “aquilo que ele
mesmo construiu com as suas mãos e com a sua inteligência”, como disse o
Papa João Paulo II, na Redemptor Hominis (15).
Há um belo Salmo que diz:
Os que semeiam entre as lágrimas,
Recolherão com alegria.
Na ida, caminham chorando,
Os que levam a semente a esparzir.
Na volta virão com alegria,
Quando trouxerem os seus feixes. (Sl 125,5-6).
Os que semeiam entre as lágrimas,
Recolherão com alegria.
Na ida, caminham chorando,
Os que levam a semente a esparzir.
Na volta virão com alegria,
Quando trouxerem os seus feixes. (Sl 125,5-6).
Assim será a vida dos pais e dos
educadores; como um semear entre lágrimas, paciência, compreensão,
carinho, perseverança, fé, bondade, alegria em ver a semente da virtude
ser colocada na terra boa dos corações dos filhos.
Na volta virão com alegria, vendo com o passar dos anos a semente frutificar em boas obras e ações nos próprios filhos.
Nada se constrói neste mundo sem
sacrifício e perseverança; muito menos um ser humano. Como ele é a obra
mais bela de Deus neste mundo, conclui-se que a sua educação é a
atividade mais importante deste planeta.
Ao falar da educação, na Carta às
Famílias, o Papa João Paulo II, assim se expressou: “Em que consiste a
educação ? Para responder a esta questão, há que recordar duas verdades
fundamentais: a primeira é que o homem é chamado a viver na verdade e no
amor; a segunda é que cada homem realiza-se através do dom sincero de
si. Isto vale tanto para quem educa como para quem é educado… O educador
é uma pessoa que “gera” no sentido espiritual. Nesta perspectiva, a
educação pode ser considerada um verdadeiro e próprio apostolado” (CF,
16). É valioso relembrar aqui, que na celebração do matrimônio, os
futuros pais prometem a Deus educar os filhos na fé: “Estais dispostos a
receber amorosamente das mãos de Deus os filhos e a educa-los segundo a
lei de Cristo e da Igreja?”
Sobre esta missão dos pais, diz o Papa:
“Se os pais ao darem a vida, tomam parte na obra criadora de Deus, pela
educação tornam-se participantes da sua pedagogia conjuntamente paterna e
materna.”
“Os pais são os primeiros e principais educadores dos filhos e têm também neste campo uma competência fundamental: são educadores porque são pais.”
“Qualquer outro participante no processo educativo não pode operar senão em nome dos pais, com o seu consenso e, em certa medida, até mesmo por seu encargo.”
“Os pais são os primeiros e principais educadores dos filhos e têm também neste campo uma competência fundamental: são educadores porque são pais.”
“Qualquer outro participante no processo educativo não pode operar senão em nome dos pais, com o seu consenso e, em certa medida, até mesmo por seu encargo.”
Falando de educação, não podemos deixar
de dizer claramente uma grande verdade: Não é possível educar sem Deus e
sem a Religião. A educação depende das normas morais, e estas vêm da
Religião. Na hierarquia dos valores da pessoa humana, acima de todos
está a vida espiritual, eterna , transcendente. Sem isto, a educação
fica mutilada.
Por que o mundo de hoje se apresenta
diante dos nossos olhos tão macabro? Por que tantos crimes? Por que
tanta violência? Por que tanto estupro, que não se ouvia falar antes?
Por que tanta droga? Por que tanto alcoolismo? Por que tanto assalto,
homicídio, sequestro, corrupção, fraudes, suicídios, ‘trombadinhas’? A
resposta é fácil: Porque a educação moderna, ateia, materialista,
consumista, hedonista, tirou Deus do coração das crianças, dos jovens e
dos adultos. O Criador foi expulso da terra! Eis, meus amigos, a dura
realidade.
Enquanto este triste quadro não for
revertido, enquanto Deus, o único e verdadeiro, não voltar ao coração
das famílias e das escolas, como antes, não será possível acabar com
todas essas mazelas que atormentam a nossa vida hoje. Sem isto não será
suficiente encher as ruas de policiais e os códigos de leis. Enquanto o
coração do homem não for transformado por Deus, nada mudará na
sociedade.
Lamentavelmente, a educação de hoje
deixou de lado os valores espirituais e adotou um sistema que apenas
valoriza as capacidades pragmáticas, em vista da produção e do consumo
imediatos.
Esta filosofia educacional passa por
cima dos valores morais, eternos, que dão harmonia e equilíbrio ao
homem. Desta forma o educando passa a ser apenas uma peça na gigantesca
máquina de produção. Precisamos de uma nova educação, que dê privilégio
ao homem e não à produção, ao consumo e ao prazer. E esta é uma guerra
que passa por dentro de cada família. É aí, sobretudo, que está lançada a
sorte da sociedade.
Pelo que foi dito acima, torna-se super
importante a missão educadora e evangelizadora dos pais cristãos hoje.
São Tomás de Aquino disse que “a missão dos pais é uma tarefa até certo
ponto paralela ao sacerdócio dos padres” (Contra Gent. 4, 58).
A Educação dos Filhos
O capítulo 30 do Livro do Eclesiástico
nos ensina profundamente sobre essa enorme responsabilidade de educar os
filhos, sem o que eles não chegarão à maturidade humana. Começa
dizendo: “Aquele que ama o seu filho, castiga-o com frequência, para que
se alegre com isso mais tarde…” (Eclo 30,1).
Podemos traduzir o “castiga-o’ por
‘educa-o”, uma vez que o castigo só tem sentido se for para educar. Por
causa do pecado original, todos nós temos uma natureza lesada, decaída,
inclinada ao mal (concupiscência). A educação visa sobretudo recolocar o
homem no caminho do bem e da virtude, do qual ele sempre tende a se
desviar. É aos pais que cabe sobretudo dar início a esta tarefa na vida
dos filhos. A Igreja nos ensina: Pela graça do Sacramento do matrimônio
os pais receberam a responsabilidade e o privilégio de evangelizar os
seus filhos. Por isso os iniciarão desde a tenra idade nos mistérios da
fé, da qual são para os filhos os “primeiros arautos” (LG,11).
Associa-los-ão desde a primeira infância à vida da Igreja. (CIC, 2225)
O Código de Direito Canônico da Igreja
afirma que os pais participam do múnus [missão] de santificação ‘quando
levam uma vida conjugal com espírito cristão e velando pela educação
cristã dos filhos’ (Cân. 835, §4). A tarefa de educar, como dizia D.
Bosco, “é obra do coração”, é obra do amor. Exige dedicação, renúncia,
sacrifício, esquecer-se de si mesmo.
A Gaudium et Spes, do Vaticano II,
ensina que: “Os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e
constituem um benefício máximo para os próprios pais” (GS 48, § 1).
O Catecismo da Igreja afirma que: “Os pais são os principais e primeiros educadores de seus filhos” (CIC, 1653; GE,3).
É por tudo isso que o Papa João Paulo II
afirmou que a tarefa fundamental do Matrimônio e da família é “estar a
serviço da vida’, e daí ser chamada de ‘santuário da vida” (FC, 28).
A Igreja não se cansa de repetir que a
família deve ser a ‘igreja doméstica’, pois é no seio da família que ‘os
pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo…, os primeiros
mestres da fé’ (LG 11; FC 21).
É no seio da família que o filho deve ser educado na fé e nos bons costumes.
Diz o Catecismo: “Em nossos dias num
mundo que se tornou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs são
de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante” (CIC,
1656).
A Igreja é a “família de Deus” (Ef
2,19), e desde a sua origem ela teve o seu núcleo nas famílias que se
tornavam cristãs. Quando se convertiam, os cristãos desejavam que toda a
sua casa fosse salva. O anjo enviado ao centurião Cornélio, ao mandar
chamar Pedro à sua casa, disse-lhe: “Ele te dirá as palavras pelas quais
será salvo tu e toda a tua casa” (At 11,14).
“Senhores, que devo fazer para me
salvar? Disseram-lhe [Paulo e Silas]: Crê no Senhor Jesus e serás salvo
tu e tua família” (At 14,31).
O conhecido jornalista da Folha de São
Paulo, Gilberto Dimenstein, quando residia nos Estados Unidos, escreveu
em 21/09/97, um interessante artigo intitulado Solução Caseira é Melhor
Remédio Contra o Vício, sobre a terrível questão das drogas. Diz ele:
”Para dar apenas um número da gravidade do problema: aqui (EUA) todos os
anos 110 mil jovens experimentam heroína. Já são 600 mil viciados em
heroína…”.
O jornalista afirma que as universidades
americanas receberam dinheiro do governo federal para entrevistar 110
mil jovens e 18 mil pais. E conclui: “Das entrevistas sai, porém, a
indicação de que o melhor remédio contra o vício está em casa. Os
pesquisadores encontraram uma íntima relação entre o contato afetivo dos
filhos com os pais e os distúrbios. Quanto maior a ligação emocional na
família, menor a chance de envolvimento com drogas, bebidas, suicídio,
sexo promíscuo e violência”.
Em seguida o jornalista afirma que as
gangues procuram de certa forma oferecer aos jovens a família que não
tiveram: “O charme das gangues é justamente oferecer um ambiente de
aceitação e até hierarquia. Ou seja, uma família”.
Também a escola aparece com papel
fundamental: “A investigação mostra que o envolvimento emocional com os
professores também é um antídoto contra a delinquência”.
Em 21/06/98, o mesmo jornalista, no artigo Você sabe a data do seu nascimento?, sobre os meninos de rua, afirma:
“A culpa por estarem na rua é da pobreza, certo? Errado. A investigação ajuda a desfazer o mito de que só a pobreza gera crianças de rua e de que pobreza gera violência”.
“A culpa por estarem na rua é da pobreza, certo? Errado. A investigação ajuda a desfazer o mito de que só a pobreza gera crianças de rua e de que pobreza gera violência”.
É, na verdade, um preconceito. Apenas
uma minoria saiu de casa para ganhar dinheiro, algo que tinha percebido
(mas não colocado em números), desde o início de minhas pesquisas em
1989.
Quando indagada sobre porque saiu de
casa, a imensa maioria se refere aos desentendimentos familiares muitas
vezes abusos dos padrastos. Foram para a rua porque não suportavam o
inferno doméstico, marcado pelo abuso sexual, alcoolismo, drogas e
pancadarias… Ou seja, a motivação econômica estava bastante distante.
“Há toneladas de estudos mostrando que o
inferno familiar ajuda a jogar os jovens em comportamentos
autodestrutivos, o que significa drogas, tentativa de suicídio,
violência.” (Folha de São Paulo, Cotidiano, 3-7, 21/06/98).
Se o jovem não tem um lar acolhedor, então, acaba indo buscar na rua o carinho e o amor que não encontrou na própria casa.
É necessário descer até as raízes do
problema, que são os pais e a moral familiar destruída: divórcio, amor
livre, uniões ilícitas, alcoolismo, drogas, etc. O Catecismo afirma que:
“O lar é assim a primeira escola de vida cristã e uma escola de
enriquecimento humano” (GS,52,§ 1). “É daí que se aprende a fadiga e a
alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo
reiterado, e sobretudo o culto divino pela oração e oferenda de sua
vida” (CIC, 1657).
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