Ao iniciarmos o período quaresmal, na quarta-feira de cinzas, ouvimos na
proclamação da primeira leitura: "rasgai o coração e não as vestes; e
voltai para o Senhor, vosso Deus; Ele é benigno e compassivo, paciente e
cheio de misericórdia" (Jl 2,13). Toda a mensagem ou programa da
quaresma, está contida neste convite feito pelo profeta.
Na
quaresma devemos ter uma atitude de escuta, na qual as verdades divinas
devem nos falar ao coração. A partir da oração e da reflexão sobre o
mistério da Encarnação, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo,
poderemos dar "razão de nossa esperança" (1Pd 3,15). A quaresma quer
preparar nosso coração, para que, ao celebrarmos a Páscoa, a celebração
seja expressão do que se passa no nosso coração, o qual durante quarenta
dias empreende um itinerário de conversão.
Uma Feliz Páscoa,
sempre vai exigir de nós uma quaresma bem vivida, voltando continuamente
o olhar e o coração para o Senhor que nos chama à conversão. Com toda
confiança tenhamos a coragem de corresponder à graça e "rasgar o
coração". Deixar que nele entre o Senhor, para revelar-nos a nós mesmos e
curar nossas feridas. Precisamos fazer a experiência do quanto Ele é
compassivo, misericordioso e sobretudo, paciente com nossas delongas.
No
período quaresmal, devemos orar e refletir, para discernir o caminho a
seguir ou continuar seguindo. Sempre um caminho de conversão para abrir
mais espaço ao Senhor e aos irmãos em nossa vida. Esta conversão vai
exigir de nós alguns propósitos firmes. Alguns destes propósitos são na
direção de uma compreensão mais apurada dos mistérios que celebramos na
liturgia, e da própria ação litúrgica das quais participaremos na semana
santa.
Um propósito sempre válido e necessário é o que nos
indica o Papa Francisco em sua Exortação Apostólica: "...qualquer pessoa
que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às
necessidades dos outros(...)De fato, os que mais desfrutam da vida são
os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de
comunicar a vida aos demais" (Evangelii Gaudium, n.10). Este propósito
vai na direção da conversão do coração aos irmãos: "rasgar o coração"
para que os outros possam entrar. Foi assim que aconteceu com Jesus que
teve seu coração transpassado pela lança.
A conversão pessoal
leva-nos inevitavelmente a participar na comunidade da "conversão
pastoral". Direcionar as ações da nossa Igreja no sentido de promover a
liberdade: "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1). Vamos
estender nosso olhar compassivo para os que são vítimas do tráfico
humano, que é a comercialização de pessoas em vista de obter dinheiro,
prazer e poder. A Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a isso.
Convida-nos a trabalhar para que este atentado à dignidade humana seja
debelado. Uma ação concreta neste sentido é a denúncia através do e-mail
disquedenuncia@sedh.gov.brO endereço de e-mail address está sendo
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vê-lo. .
Não nos esqueçamos que o empenho pelo direito e a
justiça é um modo concreto de viver a caridade. Lembremo-nos: voltar-se
para o Senhor é voltar-se para o irmão que sofre.
A todos que empreendem o itinerário quaresmal, deixo minha benção, em nome de Jesus!
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Amparo (SP)
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