quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os crimes contra a Igreja Católica

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados
Dentre os primeiros santos canonizados pelo Papa Francisco no dia 12 de maio de 2013, estavam 800 italianos, assassinados por ódio à fé no dia 13 de agosto de 1480, na cidade de Otranto, por otomanos turcos, que invadiram a região e os obrigaram a escolher entre morrer ou abraçar a religião muçulmana.
Matar em nome de Deus” é o absurdo a que podem chegar as religiões. Alicerçadas na “certeza” de possuírem a verdade, julgam-se no direito e no dever de eliminar a quem ousa divergir. Antigamente, talvez fosse possível que o fizessem de reta intenção, se o próprio Jesus chegou a dizer: «Chegará o dia em que, quem vos matar, julgará estar prestando culto a Deus. Mas, quem assim age, o faz porque não conhece o Pai nem a mim» (Jo 16,2-3).  “Antigamente”, porque continuar a fazê-lo hoje é um atestado de ignorância que se dá à humanidade. Infelizmente, é o que acontece em vários países, dominados por religiões arcaicas ou por ideologias radicais.
Durante vários séculos, a própria Igreja Católica pagou tributo a esse pecado. A Inquisição, as Cruzadas, a Noite de São Bartolomeu (1572), a Guerra dos 30 Anos (1618/1648) e inúmeros outros fatos alertam para as nefastas consequências trazidas pelo conchavo entre a religião e o poder político e econômico. Contudo, ao mesmo tempo, é preciso precaver-se contra as meias verdades propaladas por pessoas cujo intento é denegrir a Igreja. Foi o que reconheceram, em relação à Inquisição, os próprios autores da “Enciclopédia” (1751/1772), a obra filosófica que preparou a Revolução Francesa: «Sem dúvida, imputaram-se a um tribunal, tão justamente detestado, excessos de horrores que nem sempre ele cometeu. Não é correto erguer-se contra a Inquisição por fatos duvidosos e, pior ainda, buscar na mentira meios para torná-la odiosa».
Escrevi acima que antigamente, talvez, tudo isso fosse perdoável, porque os tempos eram outros. Graças a Deus, a partir sobretudo do Concílio Vaticano II (1962/1965), a Igreja Católica mudou sua relação com o mundo. Mas parece que o seu lugar e o seu jeito de agir foram ocupados por seus críticos. É o que provam as perseguições que ela vem sofrendo nestes últimos cem anos.
Na Rússia, em 1914, os católicos eram 5.000.000, assistidos por 27 bispos e 2194 sacerdotes. Em 1917, logo após a tomada do poder pelos comunistas, eles diminuíram para 2.500.000, os bispos para 14 e os padres para 1350. Em 1941, das 600 igrejas que funcionavam em 1917, apenas duas continuavam abertas. Havia somente um bispo (porque estrangeiro) e 20 padres. Em apenas dois anos (de 1937 a 1939), foram fuzilados 150 sacerdotes.
O México, apesar de contar com uma população predominantemente católica, foi palco de uma violenta ação antirreligiosa desencadeada pelo governo hostil à Igreja. Os conflitos iniciaram com a promulgação da Constituição de 1917 e alcançaram seu ápice na “Guerra Cristera” (1926/1929). As hostilidades custaram a vida de quase 90.000 pessoas, de ambos os lados. Uma multidão de católicos – dentre eles, mais de 50 padres – foram assassinados por seu apego à fé.
Em sua obra “Para entender a Inquisição”, Felipe Aquino cita a Espanha como outro país em que a Igreja pagou caro por sua fidelidade ao Evangelho: «Na Guerra Civil Espanhola (1936/1939), as grandes vítimas foram os católicos. O ódio à Igreja e aos fiéis cresceu tanto, que morreram assassinados 12 bispos, 4000 sacerdotes e 2300 religiosos, além de milhares de leigos. Só na cidade de Madri foram mortos 334 padres diocesanos; muitos foram queimados ou enterrados vivos».
Há 1700 anos – em fevereiro de 313 –, através do “Edito de Milão”, o imperador Constantino concedeu aos cristãos a liberdade de culto. Contudo, a perseguição sempre os acompanhou. Em dois mil anos de história, milhões deles foram – e continuam sendo – marginalizados e massacrados. 75% das vítimas atuais do ódio antirreligioso no mundo são católicos, evangélicos e ortodoxos. O “É proibido ser cristão” dos romanos vigora ainda hoje não apenas em alguns países comunistas e muçulmanos, mas, sobretudo, em ambientes sociais que passam por evoluídos, onde a fidelidade ao Evangelho se paga com a perda da reputação, do emprego e, não poucas vezes, da vida. Não foi por nada que Jesus advertiu: «O Reino dos céus sofre violência, e só os corajosos o conquistam!» (Mt 11,12).

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