O evento é parte dos esforços da Igreja para energizar os fiéis num momento de ascensão de credos rivais
Rio de Janeiro. Cinco meses depois de se tornar o primeiro pontífice não-europeu em 13 séculos, o papa Francisco faz nesta semana sua primeira viagem ao exterior, visitando a sua América Latina natal para uma reunião de jovens no Brasil, maior país católico do mundo.
A ênfase do papa Francisco na simplicidade e na atividade pastoral desperta otimismo em muitos fiéis brasileiros FOTO: REUTERS
Francisco, que é argentino, confirmou logo depois de assumir o cargo que participaria das celebrações da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), numa visita de uma semana, a partir de amanhã.
O evento bienal, que deve atrair mais de 1 milhão de visitantes ao Rio e a outras cidades, é parte dos esforços da Igreja para energizar os católicos num momento de ascensão de credos rivais e do secularismo.
A jornada ocorre também num momento em que a juventude brasileira, mobilizada por uma série de protestos ocorridos no País inteiro no mês passado, se torna cada vez mais ativa em expressar seu descontentamento com o status quo.
"É um espetáculo para mostrar ao mundo que a Igreja ainda existe e está muito viva", diz o ex-frade e influente teólogo Leonardo Boff.
A ênfase do papa na simplicidade e na atividade pastoral - em contraste com o foco doutrinário de seu antecessor, Bento XVI - desperta otimismo em muitos fiéis brasileiros. "O novo papa é mais simples", disse Amanda Martins, de 21 anos, que assistia a uma missa em São Paulo neste mês. "Talvez a visita dele possa fortalecer a Igreja".
A América Latina é estratégica para a Igreja atual. Embora ainda seja a região com mais católicos, a Igreja vem perdendo terreno nas últimas décadas para as denominações evangélicas, e também porque os valores da população urbana superaram os de uma população rural, na qual o catolicismo era mais arraigado.
O percentual de latino-americanos que se identificam como católicos caiu de cerca de 90% em 1910 para 72% em 2010, segundo o Fórum Pew para Religião e Vida Pública.
"O papa está vindo como pastor", disse o cardeal Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida (SP), cuja basílica será visitada por Francisco. "Ele irá tocar nos problemas do povo, e buscará lançar luz sobre os desafios que a Igreja e a sociedade têm pela frente".
E, para os 120 milhões de católicos brasileiros, desafios não faltam. Num momento de desaceleração econômica, após uma década de forte expansão, o País está convulsionado por manifestações. Mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em junho para protestar contra tudo - do preço do transporte público à corrupção e os gastos com a Copa de 2014.
As autoridades esperam que a visita do papa não ofereça um pretexto semelhante. São esperados protestos de feministas, ativistas homossexuais e outros grupos contrários às posições da Igreja em questões sociais.
Mas as autoridades temem também que os manifestantes reclamem dos gastos com o evento católico, estimado pelos organizadores em R$ 350 milhões para garantir a eficiência da segurança, dos transportes e de outros itens. A maioria do montante será desembolsada por participantes e patrocinadores, segundo a organização do evento, mas milhões sairão dos cofres públicos para garantir, por exemplo, segurança e transporte.
Tentando evitar protestos durante a visita, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que "o papa Francisco não tem culpa pelos pecados dos governantes brasileiros".
Francisco saúda jovens no Twitter
O papa Francisco escreveu, neste sábado, por volta de 6h, uma nova mensagem por meio de seu perfil no Twitter (@pontifex) aos jovens católicos que participarão no Rio da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
"Queridos jovens! Sei que muitos de vocês ainda estão viajando para o Rio. Que o Senhor lhes acompanhe ao longo da viagem!", disse o papa na versão em português de seu perfil.
Na sexta-feira, o pontífice já havia usado a rede social para saudar o jovens que virão para a Jornada. "Jovens amigos, tantos de vocês já chegaram ao Rio e muitos outros estão chegando nestas horas. Faltam apenas três dias para nos vermos", disse Francisco.
A conta @pontifex, aberta por Bento XVI em 12 de dezembro de 2012, é escrita em nove idiomas: espanhol, inglês, português, italiano, francês, alemão, latim, polonês e árabe.
Perdão de pecados
O Vaticano anunciou que fiéis católicos que acompanharem a JMJ, receberão perdão de pecados, mesmo que sigam o evento pelas redes sociais. Um decreto da chamada Penitenciária Apostólica, o órgão do Vaticano responsável delas decisões relacionadas ao perdão dos pecados, diz que os fiéis "legitimamente impedidos" de ir ao Rio receberão "indulgências" se acompanharem o evento com "a devida devoção" pela mídia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário