domingo, 11 de agosto de 2013

ATENDIMENTO Meninos com trajetória de rua terão ´Casa Lar´

Entidade fica no Planalto Pici, onde garotos irão morar, com acompanhamento interdisciplinar
Eles têm entre 14 e 17 anos de idade e uma história de abandono e sofrimento semelhantes. Leonardo, Francisco, Vinícius, Isamar e Pedro são ex-moradores de rua, onde experimentaram de tudo: droga, mendicância e violação de direitos básicos, como educação e saúde. Atualmente, o destino dos cinco continua ligado, com a diferença de que a esperança voltou a dar brilho aos seus olhos.

A Casa Lar foi doada por duas irmãs que têm trabalho na comunidade. O espaço onde irão morar os cinco meninos possui quartos na parte de cima, com sala, cozinha, quintal. A vizinhança diz esperar com entusiasmo os garotos FOTO: HELOSA ARAÚJO
Eles são os primeiros beneficiados no projeto pioneiro no Brasil, desenvolvido pela ONG Pequeno Nazareno: a Casa Lar. Ali, meninos com trajetória de rua, que passaram por várias instituições e ainda não tenham garantido o direito de conviver com uma família, terão a oportunidade de aprender um ofício, mas, sobretudo, viver numa residência comum, em meio a uma comunidade, com o cotidiano igual a qualquer pessoa na idade dos cinco garotos. "O que contribuirá para a construção da autonomia e integração à sociedade", diz o coordenador de projetos sociais do Pequeno Nazareno, Adriano Ribeiro.

A Casa Lar já foi inaugurada, e as atividades começam segunda-feira (12), quando Leonardo, Francisco, Vinícius, Isamar e Pedro vão sair da sede do Pequeno Nazareno, num sítio em Maranguape, para a residência, localizada no Planalto Pici. Eles irão frequentar a escola do bairro, terão acompanhamento de uma equipe com assistentes sociais, pedagogos, psicólogos e pais sociais até que famílias possam recebê-los. "Não sendo mais possível o retorno familiar, eles serão orientados a uma vida independente, com uma profissão técnica, emprego e sonhos a realizar", diz Ribeiro.

A casa é ampla e comum. Foi doada por duas irmãs que têm trabalho na comunidade. Possui quartos na parte de cima, com sala, cozinha, quintal. Os vizinhos estão na expectativa de recebê-los. "É bom saber que aqui teremos a companhia de garotos que querem viver no bem, construindo o futuro", disse uma vizinha que não quis se identificar. "A gente confia que o trabalho social é bem realizado, e eles terão outra chance na vida", afirmou outro.

Jovens

A meta do projeto, diz a assistente social Cíntia Albuquerque, é ampliar o número de adolescentes beneficiados. "Vamos começar com os cinco. Aqui, eles também terão deveres a cumprir, além dos direitos garantidos. A ideia é que convivam com a comunidade de forma positiva, com participação ativa no dia a dia do bairro", informa.

A história de Leo, Pedro, Vinícius, Isamar e Francisco tem capítulos de tristeza, quando foram para as ruas devido, principalmente, ao envolvimento das mães com drogas. A referência deles passou para outras pessoas da família, como a avó materna ou irmã mais velha. No entanto, pela própria condição econômica e de desestruturação do lar, eles tiveram parte da infância perambulando por Fortaleza. As sequelas são grandes e não somente psicológicas e emocionais. Isamar, 17, o mais velho, é vítima de violência doméstica, tem problemas motores, dificuldades de fala e de leitura. "Ele foi acolhido por nós desde os dez anos, e hoje o processo de destituição do poder familiar está em curso", relata Cíntia.

De acordo com pesquisa da própria instituição, realizada em 2012, 150 crianças e adolescentes moram nas ruas de Fortaleza. A maioria tem a origem humilde. No entanto, a pobreza não foi determinante para inseri-los no contexto da rua. "Entre os principais motivos da saída de casa, o uso de drogas e os conflitos familiares são os mais apontados no País e em Fortaleza", aponta ela.

Família
A situação de rua pode se dar de variadas formas. Há crianças que vivem com a família, mas durante o dia trabalham nas ruas, enquanto outras só conseguem voltar para a casa nos fins de semana. Há ainda aquelas que não possuem qualquer vínculo familiar e têm na rua o seu local de viver, dormir e trabalhar. Esses meninos e meninas de rua são expostos a diversos perigos, como estupro, trabalho forçado, vício em drogas, agressão, assassinato, entre outros, e não têm oportunidade de usufruir seus direitos mais básicos. "Toda a sociedade é responsável por eles e deve se esforçar ao máximo para acabar com essa desumana situação", frisa o coordenador Adriano Ribeiro.

Uma vitória na luta pela proteção desses meninos e meninas, comemora ele, é a realização, nos dias 14, 15 e 16, de um seminário, em Brasília. "Será o ponto de partida para a formulação da política nacional de enfrentamento para esta situação".

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