quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Governo abre mão de ampliar curso de Medicina

No Ceará, apesar das muitas dúvidas do que, de fato, mudará, o recuo foi visto com "bons olhos", como avanço
O governo federal voltou atrás e alterou um dos pontos do Programa Mais Médicos - que previa dois anos extras obrigatórios de trabalhos prestados ao Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio foi feito, ontem, pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. De acordo com a nova proposta, o primeiro ano da residência deverá ser cumprido no atendimento à atenção básica e no serviço de urgência e emergência no SUS, como parte do período de formação do especialista. No segundo ano, o recém-formado atuaria na área de especialização que escolheu.

Cerca de 100 médicos e estudantes se manifestaram, ontem, na frente do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). Eles são contra a contratação de profissionais estrangeiros sem revalidação e vetos ao Ato Médico Foto: Alex Costa

Na proposta anterior, o curso ganharia dois anos extras que seriam, obrigatoriamente, de trabalhos prestados no SUS, nas periferias das grandes cidades e em municípios do interior do País. Este era um dos pontos mais polêmicos do programa e desencadeou uma série de protestos em todo o País. No Ceará, apesar das dúvidas em relação ao que, de fato, está sendo proposto pelo governo, a mudança foi vista com bons olhos, como avanço para o diálogo.

José Maria Pontes, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), informa que hoje, às 10h, participa de uma reunião no Conselho Federal de Medicina, em Brasília, onde será discutida a decisão. Ele diz que só depois de conhecer os detalhes da proposta é que poderá dar uma posição se a categoria concorda ou não com as mudanças.

Luciano Moreira, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que esta era uma das recomendações levadas para o Ministério da Educação. "Recomendamos, através dos nossos representantes, que o curso continuaria sendo de seis anos e que todo médico recém-formado no País ficaria à disposição do governo para cumprir um ano na atenção básica, na urgência e emergência, através do SUS. Durante este período, ele receberia uma bolsa do governo", salienta.

O diretor acrescenta que a categoria não concorda com a vinda de médicos do exterior sem que sejam submetidos ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida).

Moreira vê a mudança de planos do governo como avanço, tendo em vista que o que estudantes, professores e médicos queriam era negociar, dialogar, debater a temática. "Agora sim, nós começamos a nos entender. A nossa proposta é que essa medida seja estendida para todo e qualquer profissional da saúde formado. Por que só os médicos? Será que eles são tão onipresentes assim?", questiona.

Na opinião de Paulo Henrique Silva Rodrigues, estudante do 8º semestre do curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, comprovou que não tem o menor conhecimento de como funciona o sistema de residência médica. "Atualmente, os residentes de clínica médica e cirurgia geral prestam serviço nos setores de emergência e urgência das respectivas áreas. O clínico na emergência clínica e o cirurgião na emergência cirúrgica", frisa.

Avanço

Ele reforça que o governo não deixa claro de que forma pretende implantar as mudanças. "Querem aumentar um ano da residência ou vão retirar um ano e colocar mais esse serviço obrigatório em emergência e urgência?". Não esclarece também o que vai o correr com a residência em emergência e quem serão os preceptores. "Vão abrir emergência em todos os hospitais para poder dar vazão ao programa?".

Ainda assim, o estudante considera o recuo um avanço para tentar melhorar o plano, mas diz que as medidas ainda estão aquém do necessário e pouco respondem as propostas.

Médicos fazem protesto
Médicos e estudantes de Medicina realizaram manifestação, na manhã de ontem (31), na frente do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), em Porangabuçu. Cerca de 100 pessoas estiveram presentes no protesto. As informações são da Redação Web do Diário do Nordeste.

Desde a última terça-feira (30), os médicos suspenderam em todo o Brasil o atendimento de serviços ambulatoriais e consultas eletivas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Serviços essenciais, como emergência e urgência, seguem funcionando.

As principais reivindicações são a contratação de médicos estrangeiros sem a necessidade da revalidação dos seus diplomas; o aumento da duração do curso de medicina de seis para oito anos; a ida obrigatória de residentes para o Interior e itens do Ato Médico que foram vetados pela presidente Dilma Rousseff.

Segundo o reumatologista Francisco Theógenes, a vinda de médicos estrangeiros sem revalidação vai na contramão do que acontece em outros países.

Durante a tarde de ontem, houve uma caminhada saindo da Praça Coração de Jesus, onde os médicos atenderam a população, até o núcleo do Ministério da Saúde no Ceará. No dia 8, profissionais de todo o País irão ao Senado, em Brasília, para tentar convencer parlamentares a derrubar vetos ao Ato Médico.

LUANA LIMAREPÓRTER

Confira vídeo da manifestação

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